Atualizado em: junho 10, 2024 às 5:48 pm
Por Guilherme Costa
Por vezes é difícil deixar um padrão de lado, e se abrir para outros lugares. No rock, a tendência (além da cena local) é que a busca seja pelo Estados Unidos e o continente europeu – além de uma ou outra exceção. Bom, quando eu conheci a Chini.png, logo me interessei por outras bandas do país; então veio o Dolorio & Los Tunantes, Escondite, Asia Menor, Virco e Columpio Al Suelo.
Por falar no Columpios, o personagem do 5 Perguntas de maio é o vocalista e guitarrista da banda: Juan Desordenado. Mente responsável pela sua banda, Juan Pablo Órdones lançou o seu primeiro disco solo (“Visiones”) em novembro de 2021 e também integra a banda da Chini.png. Inclusive, ele já conhecido da página aparecendo por três vezes nos Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música, com o seu disco solo, o disco de estreia do Columpios Al Suelo (“Colores”) e com o recente lançamento da Chini.png, “El día Libre de Polux”.
Com todos os louros da vitória sendo colhidos recentemente, a história do Columpios Al Suelo (o seu principal projeto) demorou onze anos para que o disco de estreia ganhasse a luz do dia. Neste meio tempo, a banda lançou um split com o Dolorio & Los Tunantes (“Gritos & Sussurros”) e o EP “Un Día Afuera”. Entre tantos artistas que eu poderia pensar em entrevistar, o primeiro internacional não poderia ser alguém diferente.
Do Chile para o Um Outro Lado da Música, Juan Desordenado é o personagem do 5 Perguntas de junho!
Como foi a experiência da turnê pela Espanha e a apresentação no KEXP, com a Chini.png? E o que isso significou para o rock chileno?
Ambas foram experiências inesquecíveis para nós. É muito gratificante poder viajar tão longe de casa fazendo o que mais gosta. A Espanha foi uma aventura linda, pudemos nos apresentar em Bilbao, Madrid e Barcelona, cidades lindas. E a coisa da KEXP foi incrível, uma vitrine onde estiveram projetos [bandas] que eu gosto muito, como o The Smile, Cibo Matto e o Slowdive. Chegamos depois de lançar “El Día Libre de Pollux”, que é um ato de justiça com o álbum, na minha opinião tão bom quanto qualquer um dos artistas que acabei de mencionar. Não sei o que isso significou para o rock chileno, é difícil para mim pensar nesses termos. Acho que de alguma forma o fato de Chini ter chegado lá nos mostrou que talvez seja possível que amanhã cheguem daqui mais projetos musicais independentes interessantes.
Em 2021 você lançou o seu disco solo de estreia, “Visiones”, cuja inspiração é em artistas famosos por trilhas de cinema, como o Ryuichi Sakamoto. Quais foram as suas inspirações cinematográficas para o álbum? E o quão desafiador foi a composição de algo tão diferente da sua banda?
Tenho tendência a pensar e sentir a música como imagens em movimento. O título do álbum foi um exemplo disso. Naquele período para mim foi tão fundamental ouvir Brian Eno quanto me inspirar em Blade Runner, Akira, Fallen Angels, Blue Velvet, Bad Film ou algum anime dark perdido nas fendas de uma fita VHS. Também uma certa ideia de videogame, como Mario 3 ou Alex Kidd. “Visiones” me permitiu me afastar um pouco mais do formato rock, embora apareça em glória e majestade em músicas como “Corta El Pasto”, que não foi fundamental na definição do álbum. Queria brincar mais com a improvisação e fugir do que é mais torturado ou relacionado à raiva ou à dor que o Columpios al Suelo tem, e conseguir tocar com maior leveza e fazer músicas mais indisfarçavelmente belas sem pensar muito.
“Fin de Primavera” – a faixa que abre o disco de estreia do Columpios Al Suelo, “Colores”, já estava disponível na internet bem antes do lançamento do álbum, assim como “Olvido”, “Cepillo Sucio” e “El baile de las Máscaras”, foram lançadas no disco em conjunto com o Dolorio & Los Tunantes. Há alguma outra faixa não lançada, que pode vir a fazer parte de um novo disco ou EP?
Sim, “Muerte en mi Colchón”, outra das músicas que aparecem no split, estará em sua versão final no próximo álbum. Uma das nossas músicas favoritas, que queremos fazer justiça com um som mais bem trabalhado. Também gravamos músicas que já existem há muito tempo, da qual foi tocada com a banda em alguma outra formação, como “Gritos Vacíos” ou “Balada Triste”. O próximo álbum está chegando enorme!
Olhando para o “Colores”, é um álbum em que as nuances são exploradas a partir do Shoegaze/ Noise Rock. Como foi pensada a dinâmica de um álbum que começa com muito barulho, mas que diminui o ritmo no final? E como você enxerga que as faixas instrumentais foram necessárias para manter o clima do álbum?
Eu vejo ‘Colores’ como um monstro de duas cabeças, ou como duas crianças perdidas em um lugar enorme e estranho. O primeiro é caótico, furioso, claustrofóbico, não deixa espaço e move-se com urgência e desespero. A segunda é mais calma e reflexiva, talvez ainda mais sombria, oblíqua e esotérica, com mais espaço mas com um coração igualmente gigante. As instrumentais cumprem diferentes papéis: “Todos los Payasos Van al Cielo” é uma espécie de apêndice de “Hiroshima & Nagasaki”, uma pausa após o desastre. “El Baile de las Máscaras” é para te virar de cabeça para baixo novamente e “Colores (Columpios al Suelo)”, são os créditos do filme, o álbum começa a se despedir e um novo sonho começa.
Como você enxerga a conexão entre as bandas da América Latina, no que diz respeito a shows e até a conhecer bandas de outros países? Pensa que é possível que a conexão possa ser maior (até com a ajuda da internet), ou é um cenário muito distante?
Não tenho muito relacionamento com bandas do resto da América Latina. Não vejo muita articulação entre o que poderia acontecer aqui ou o que acontece no Peru, na Argentina ou na Colômbia. Eu adoraria que não fosse assim, e isso é em grande parte nossa responsabilidade. Eu adoraria que pudéssemos articular algum movimento com maior abrangência continental. Mas até agora, é um sonho.