Atualizado em: junho 30, 2025 às 2:48 pm

Por Guilherme Costa

No dia 25 de maio o Um Outro Lado da Música, Arthur e eu, esteve na Fenda 315 — em evento promovido pela Mantra Produções — para acompanhar os shows do Pepler, Homeninvisível e do Zero to Hero (que rendeu uma entrevista, que você pode conferir aqui). O paranaense Murilo Pepler abriu a festa, tocando um repertório baseado em seu recente disco “The Funny Album”, lançado em novembro de 2024, e também conversou conosco!

Antes de você conferir o papo, é importante falar sobre o “The Funny Album”. O disco caminha entre o rock psicodélico, desde o Pink Floyd ao Holy Wave, jazz e Indie Rock — há a faixa “Breakfast”, que une a encarnação clássica da New Wave e o modernismo do Indie Pop —, sendo uma missão um tanto quanto difícil a sua fiel reprodução nos palcos. Esse foi um dos destaques da conversa, ao passo que o músico, ao lado do guitarrista Didi Fiorucci, revelou optar por uma direção diferente do álbum lançado no ano passado:

“[…] nesse primeiro momento a gente optou por fazer um setup um pouquinho mais simples, que até nos shows com teclado eles tem alguns timbres que estão lá no disco, mesmo ‘timbrinho’ assim, que dá pra reproduzir.”

Entre influências, caminhos sonoros e a forma de composição, os próximos passos também foi tema da nossa conversa, em que Pepler confessou pensar em compor mais em português e ter uma distância menor entre os seus lançamentos: “Quero gravar coisas novas do zero, que nunca foram feitas antes e lançar um pouquinho mais pontual pra não demorar tanto. O “Catnip [for the Young]” foi em 2019 e o “Funny Album” foi em 2024. Então, 5 anos de distância. Dá pra esquecer o nome da pessoa, né?” Concluiu o músico.

Confira a nossa entrevista:

Você lançou no ano passado o “The Funny Album”, o disco de estreia do Pepler. Em relação à turnê, quando que ela começou?

A gente começou a turnê mês passado, porque eu lancei o disco, mas aí teve um tempinho de preparação, né? Essa é a segunda data que a gente tá fazendo.

E aí, tem planejamento para outras cidades?

Tem. Até o fim do ano a gente quer tocar pelo menos mais umas três, quatro cidades fora de Curitiba, né. E lá tá tendo uma constância bacana de shows também.

Durante o show, você comentou que os membros da banda não eram fixos. Então, basicamente, o planejamento é vocês dois e contratar o resto do pessoal durante os shows? Ou em algum momento vai juntar uma galera mais fixa pra conseguir ensaiar e levar o show pra estrada?

É o que a gente tá querendo, assim. Eu, pessoalmente, queria ter uma formação fixa, porque é um som que também tem bastante teclado, que hoje a gente não teve, né? Então precisa dar um direcionamento pra tirar as músicas, os timbres e tudo mais. Então, se eu pudesse escolher, eu faria um quinteto fixo, assim. Mas o Didi, meu parceiro musical já há bastante tempo, o Tigas também da bateria, ele pegou gosto pela coisa, então a gente tá meio que caminhando pra isso, assim.

E eu estava ouvindo o “Funny Album”, era senti uma coisa um pouco mais lisérgica. Eu lembrei muito de uma banda chamada Holy Wave, lá de Austin, nos Estados Unidos, conhece? E aí a gente vai também pro Prog, com coisas do Genesis da era Peter Gabriel. Mas aí no ao vivo ficou um pouco diferente, ficou uma coisa um pouco mais jazz. Como vocês pensam nessa reprodução do estúdio pro ao vivo? Vocês são o tipo de banda que pensa em reproduzir 100% fielmente, ou não?

Eu acho que tem um pouco disso porque tem músicas que tem um nível de complexidade, de arranjo muito grande, eu gosto muito de usar… O “Funny Album” não tem tanto, é de uma música ou outra, mas as coisas que eu ainda tenho é lançar bastante coisa orquestrada, então se fosse reproduzir ao vivo, ou ficaria meio ‘facsímile’ [cópia ou reprodução exata de um documento, obra de arte ou outro item], uma coisa meio esquisitinha, ou não tem como fazer, sabe? Então nesse primeiro momento a gente optou por fazer um setup um pouquinho mais simples, que até nos shows com teclado eles tem alguns timbres que estão lá no disco, mesmo timbrinho assim, que dá pra reproduzir. Mas a gente tá tendo que pensar o ao vivo de uma forma mais seca, e também um pouquinho mais pesada, que eu acho que dê pra adaptar bastante pro rolê de rock que tem, né? Que geralmente as bandas metem guitarras com drive, aquela coisa, então pra gente não ficar muito peixinho fora d’água, tanto os timbres, quanto as músicas mesmo que a gente escolheu pro setlist, são as que tem um pouquinho mais de peso. Mas tem isso, né? E tem essas que são um pouquinho mais jazz também, isso eu gostaria de trabalhar um pouco mais, assim, principalmente tendo teclado, tem músicas que tem piano e tudo mais, que foi uma coisa que a gente ainda não conseguiu incorporar, mas que eu acho que dá uma outra camada, assim, que é bem bacana.

Dessas novas músicas tem alguma que você pensa já pra lançar? Tem alguma dessas músicas já que são orientadas pro jazz, ou é mais da criação do palco mesmo?

Então, das novas tem bastante coisa que é bastante orquestrada, que tem bastante também arranjo de metal, que eu gosto bastante, ao mesmo tempo que eu tô na cabeça pra lançar um EP de punk nesse ano ainda, que seja só guitarra, baixo, bateria, ‘secasso’, assim, porque essas músicas vieram, e daí conseguir organizar elas numa forma que talvez vá ser um EP, talvez um single estendido, que elas vão ser feitas pra ser assim, que elas sejam reproduzidas em palco exatamente como eu gravei, porque elas vão ser bem secas, bem simples.

Eu queria emendar nisso, pelo que eu tô percebendo, você mostra um lado que quer ir pra um sinfônico, talvez?

É, um popzinho barroco, assim, uma coisa bem anos 60, porque eu tenho bastante gravação antiga, assim, que não foi finalizada, numa época que eu tava trabalhando bastante com isso, assim, com arranjos um pouco mais complexos, que eu não tenho nem muita intenção de reproduzir ao vivo, só se fosse pra fazer uma mega operação com 20 pessoas, ou com uma orquestra tocando junto. Então, essa dicotomia mesmo, sabe? Do fonograma enquanto uma parada que existe lá, mas o show também ter algo, né, ter o essencial da música, reproduzido ali de uma forma que seja diferente, mas que seja reconhecível, sabe? E nesse quesito, assim, quais são suas principais influências? Porque dentro do show a gente percebe, né, tem umas músicas que são mais psicodélicas, né, até com a parte com a guitarrinha, um pouco do blues, outras mais jazz, tem umas partes que me lembram até meio o Mac DeMarco, um pouco.

E quais são suas influências?

É, eu acho que tem muito disso, tem muito do jazz, jazz bebop, classiqueira, nos 50 e 60, que eu gosto bastante, mas é muito difícil, né? Acho que eu não sou um músico tão bom ainda pra meter essa. Mas eu acho que principalmente, você falou da psicodelia, nos 60, assim, é um bagulho que sempre foi, sempre vai ser uma influência pra mim. Mas eu acho que tendo influência de coisas mais recentes também, seja, pô, bedroom pop, ou assim, de mais Mac DeMarco dos anos 10, assim, foi uma parada que eu ouvi muito. E o indie classiqueira mesmo, pô, a Arctic, a Click and Joll, inclusive, embora seja pesada, me lembra muito a Arctic, assim, quando eu terminei a gravação, eu falei, pô, Arctic, Libertines, umas coisas bem daquela época, sabe? Eu acho que tem bastante a ver, assim. Mas eu acho que ainda a minha principal influência quando eu penso em produção musical é anos 60. Então, o que eles fizeram de orquestração naquela época, sabe? Anos 60 e 70, assim, umas paradas bem épicas, só que ao mesmo tempo bem pop, assim, bem simplificadas nesse sentido de harmonia.

Ao mesmo tempo você não se prende num rótulo, né? Porque só nessa conversa aqui em jazz, punk, blues, Marc DeMarco, Genesis…

Eu gosto de explorar, tipo, tentar a minha sorte em tudo quanto é tipo de som que eu gosto, assim!

Tem músicas que são bem folk. Tem uma lá que é cottagecore, que é a penúltima, que é só a voz e o violão. E ela funciona daquela forma um pouquinho de bossa também, né? Eu acho que a bossa e o jazz conversam muito nesse sentido, né? A gente tem uma orquestração, assim, um arranjo parecido. Mas eu gosto muito de música brasileira, no geral, assim. Tanto que o esforço de fazer a música em português!

E a sua pretensão é seguir fazendo essa mistura do português com o inglês?

Não muito em músicas. Eu tenho essa coisa. Eu não gosto de misturar português e inglês na mesma música. Me dá um troço estranho. Embora quando os outros fazem, eu acho muito legal. Mas essa experiência de escrever em português foi legal. Foi mais fácil do que eu achei. Porque eu acho que eu tinha essa trava há muito tempo na vida, de escrever prosa em português, bastante. Assim, texto corrido, mas ter um pouquinho de dificuldade de rimar. De fazer uma coisa estruturada. Eu me sentia muito bobinho, assim.

Então é isso. Muito obrigado. Boa sorte aí nos próximos shows!

Valeu, obrigado a vocês. Ficou pesado. Ficou pesado demais!