Atualizado em: maio 12, 2025 às 10:44 am

Por Guilherme Costa

O último final de semana foi marcado pelos aguardados shows do System of a Down (sábado e domingo), Touché Amoré (sábado) e, no meu caso, o Foreigner (sábado). Um bom aquecimento para esses shows era necessário, e na última sexta-feira (9) eu fui conferir o show do Dharma Numb, na Algohits.

Localizada na rua Partizal, no bairro da Vila Madalena (reduto da música underground paulistana), a casinha – como é carinhosamente chamada por seu público – é um espaço em que muitos artistas podem transportar os seus trabalhos do estúdio para o ao vivo; lá, como em outros lugares, há eventos, festas e entre outras possibilidades de demonstrações artísticas. A Algohits também é responsável pelo merch de bandas e é uma gravadora.

Um dos trabalhos que saiu pelo selo foi o novo EP do Dharma Numb, “Trip”, lançado em todas as plataformas de streaming no dia 16 de abril. Para a banda, atualmente formada por Victor Franciscon, Danilo Inada, Pedro Melara, Thiago Babalú e Fabio Joly, o registro é apontado como o término de uma trilogia de lançamentos iniciada em 2020, com o EP “Dharmage” e “II” (lançado em 2023), e conta com as participações de Milton Aguiar (Bayside Kings) e Fernanda Broggi.

Antes do Dharma Numb, duas bandas fizeram um grande aquecimento na quente noite da última sexta!

Crush Us All

Eu havia chegado há poucos minutos e estava na grande fila do bar. Foi então que Matheuz Muniz (vocal), Leandro Asai (guitarra), Nick Camacho (guitarra), Ale Faria (baixo) e Clayton Romero (bateria), subiram no palco da casinha para aquele que seria o primeiro show da história do Crush Us All. Depois de alguns bons minutos nos últimos ajustes, o show começou às 21 horas.

Como era o seu primeiro show, obviamente que não houveram interações como cantar música junto com o grupo, até porque não há nenhum material lançado na internet – algo que, segundo Clayton, deverá sair no segundo semestre. Entretanto, o quinteto conseguiu prender a atenção do público com o seu Hardcore arrojado e com um grande trabalho da dupla de guitarristas (trabalho digno da dupla Phil Fargnoli e Hóspede, na época do Dead Fish).

“1992” abriu o show e “Memórias que desaparecem” foi tocada em seguida, mostrando que a noite teria hardcore de qualidade do início ao fim. Matheuz preferiu ficar na pista, enquanto o restante da banda preenchia o palco da casinha, e anunciou “Onde chegar”, uma música nova, assim como as seguintes, “Realidade” e “De todos meus sonhos, crescer foi o pior”, evocando o espírito do Dead Fish, Colligere e tantas outras grandes bandas do estilo.

Após uma pausa para agradecimentos, “Barra Mansa” foi a última música a ser apresentada para o atencioso público na Algohits. Entre eles, estavam as filhas de alguns integrantes que se divertiam a cada nota tocada. Certamente elas terão ótimas histórias para contar aos seus amiguinhos, assim como os integrantes do Crush Us All terão boas recordações do seu show de estreia.

No próximo dia 17, sábado, a banda estará no Urbã Cozinha Vegana para se apresentar ao lado do Caffeine Blues e Contra o Céu.

Setlist – Crush Us All

1. 1992
2. Memórias que desaparecem
3. Onde chegar
4. ⁠⁠Realidade
5. ⁠⁠De todos meus sonhos, crescer foi o pior
6. Barra Mansa

Crush Us All na Algohits

Heartlistener

Oriundos de Ponta Grossa, Paraná, o Heartlistener já tem em seu currículo o EP “Inner Self” (2019); o disco de inéditas, “Perspectives” (2022) e mais uma porção de singles lançados desde então – sendo “The Runner” o mais recente, lançado em abril. Próximo das 22 horas, a banda formada por Gustavo Martins (vocal), Renan Malaquias (guitarra), Andre Neto (baixo) e Ricardo Malaquias (bateria), subiu ao palco.

O pessoal, que depois o primeiro show estava na área externa da Algohits, se direcionou ao espaço destinado aos shows assim que a primeira nota foi tocada. Após a intro, “Counterfeit” – faixa do disco de estreia –  abriu a apresentação dos paranaenses, atingindo o público com um belo soco no rosto. O Hardcore, com influências do Metalcore e Post Hardcore, tomou conta da pista da casinha. Enquanto a banda esbanjava peso no palco, duas pessoas arriscaram um mosh após a segunda música, “The Runner” – novo single, que mostra como a banda amadureceu a sonoridade do seu primeiro disco; quem não aderiu ao mosh, curtia à sua maneira a grande apresentação.

Gustavo Martins, sempre muito ativo no palco, aproveitou para comentar que havia camisas do grupo à venda e anunciou a música “Wolf Among Us” – outra do álbum de estreia. A sequência contou “Dreamweaver” e “Nowhere”, faixa presente no primeiro EP da banda, e mais Hardcore que as demais. O forte calor da noite foi intensificado com a energia do Heartlistener.

A parte final do show foi iniciada com “TIlde”, em homenagem ao show sold out do Touché Amoré no último sábado. Após a bela execução da música, “Cult of Violence” – single lançado no ano passado – seguiu agitando o público atento; ah, lembra que eu comentei da dupla que agitou um mosh? eles ganharam o reforço de outra pessoa! “False Prophets”, uma das mais pesadas da noite, foi a escolhida para encerrar a grandiosa apresentação da banda paranaense em São Paulo.

O Heartlistener pretende lançar o seu segundo disco de inéditas ainda neste ano, e certamente ganhou um novo público com o show de sexta-feira.

Setlist – Heartlistener

1. Intro + Counterfeit
2. The Runner
3. Wolf Among Us
4. Dreamweaver
5. Convalescence
6. Nowhere
7. Tilde (Touché Amoré cover)
8. Cult of Violence
9. False Prophets

Heartlistener na Algohits

Dharma Numb

A apresentação era especial porque marcava o show de lançamento do EP “Trip” e também por contar com as participações de Milton Aguiar (Bayside Kings), Fernanda Broggi e do Ítalo Nonato (Pense). Aliás, para quem não reside na capital paulistana, é normal que se inicie uma movimentação para saber as próximas datas da banda. Eu conversei com o vocalista Victor Franciscon, que deu uma resposta motivadora para quem quer vê-los: “Sim, a gente tem a nossa manager, Bia Vaccari, que está marcando shows pra gente, tá fazendo esse corre. É uma mina que é envolvida aí com o circuito e tá ajudando a gente também, porque eu também tenho o corre pro Garagem, então pra dar jazz nas datas é dois palitos, né, mas tamo armando sim uma turnê aí, em breve mais informações”.

O Dharma Numb é um grupo com figuras conhecidas da cena do Hardcore nacional, tendo integrantes do Garage Fuzz, Rawfire, Urutu, entre outros, o que certamente é um ótimo fator para movimentar os seus primeiros shows – embora a música sempre seja o fator primordial. Franciscon disse que essa bagagem de outras bandas ajudam a chamar o público: “eu acho que isso ajuda a agregar, porque  já somos pessoas conhecidas” mas que não é o pensamento principal do grupo: “a gente não procura pensar tanto no público assim [desta forma], acho que o que tiver ali, a gente podendo tá fazendo o que a gente gosta é o que vale. Mas a gente tá se divertindo muito, acho que essa é a grande magia do Dharma Numb. Que a gente faz uma parada, se diverte fazendo, tá ligado?” Completou.

O show

Às 23:11, o aguardado show iniciou para fechar a noite em grande estilo, e assim como no início do novo EP, a abertura do filme Show de Truman ressoou nas caixas da Algohits e introduziu a pesada “Paralax”. Ela também mostrou que a galera, nessa altura agitando a pista com um mosh, que lá estava iria aproveitar cada segundo do apresentação. As novas músicas não foram mostradas logo de cara, e o show seguiu com “Ícaro” (faixa presente no EP “II”) e “24/7 (TwentyFourSeven)”.

Eu estava esperando a próxima música, quando – de repente – “Owner of Your Lonely Heart”, clássico do Yes na Era Trevor Rabin (a minha favorita da banda, por sinal) começou a tocar. Mais tarde, Franciscon comentou que esses “intervalos musicalizados” eram para dar um descanso enquanto a banda se preparava para as outras músicas.

Passado o susto, era a hora da primeira participação: Milton Aguiar, o Miltão. Para quem o conhece do Bayside King, que no ano passado lançou um grande EP (resenhado aqui), sabe o tipo de caos que ele costuma provocar. E não foi diferente. Assim que iniciou a faixa “Sólido”, a pista veio abaixo com o visceral Hardcore da parceria; ela emendou em “Get Up and Try Again”, do Bayside Kings, para concluir o grande momento catártico.

Depois de outro hit single dos anos oitenta entrar em ação, o Dharma Numb tocou “Abril” (outra faixa do “II”) e “Downfall”, que foi introduzida pelo canônico riff da música “Black Sabbath” (pai de tudo e de todos). O quinteto dominava o palco e o público, enquanto uma chuva de flashes capturava a grande apresentação do grupo.

A parte final iniciou com as faixas do primeiro EP da banda, “Dharmage”: “Feline”, “Outburst” e “No Regrets”. É sempre interessante como o primeiro registro tem um senso de juventude, por capturar os primeiros momentos de um grupo (independentemente do tempo de estrada dos seus integrantes); sensação que as faixas citadas evocam!

Depois do primeiro EP ser tocado, Ítalo Nonato (que também estava atuando como técnico de som dos shows) subiu ao palco para cantar “Tropicaos”, um Reggae Punk, que teve a sua energia elevada à décima potência na casinha. Banda e público estavam em completa sintonia e Fernanda Broggi foi chamada para cantar “Tchau” e encerrar o show. Assim como as outras duas participações, Broggi também roubou a cena com a sua bela voz, que contrasta com a agressividade do Franciscon, durante a execução da faixa.

O show terminou e a sensação é que o Dharma Numb pode facilmente dominar o mundo. Resta, agora, curtir os próximos shows e esperar o disco de estreia que, segundo o Franciscon “está bem encaminhado pelo menos 50% dele já está bem encaminhado assim sabe acho que o plano para lançar é provavelmente começo de 2026”.

1. Intro + Paralax
2. Ícaro
3. 24/7
4. Sólido/ Get Up And Try Again (participação Milton Aguiar)
5. Abril
6. Black Sabbath + Dowfall
7. Feline Eyes
8. Outburst
9. No Regrets
10. Tropicaos (participação Ítalo Nonato)
11. Tchau (participação Fernanda Broggi)

Dharma Num na Algohits