Atualizado em: maio 20, 2025 às 7:27 am

Por Guilherme Costa

“O que ainda me leva a fazer música? Me pergunto isso constantemente, já que não é assim que pago as minhas contas, talvez seja esperança, talvez seja até o ócio, o hábito… Insisto que se a música traz tantas coisas boas pra mim, porque não posso oferecer isso para os outros?” Foi assim que o músico carioca, Gabriel Ventura, comentou a respeito do seu novo disco de estúdio em uma de suas postagens nas suas redes sociais!

Sem muito barulho ou mecanismos para promover o seu segundo disco solo (como chamadas para pré-save, inúmeras postagens em redes sociais…), “Para me lembrar de insistir”, Gabriel Ventura liberou – quase que do nada – o álbum em todas as plataformas de streaming no último dia 6, via Balaclava Records. Seguindo as nuances entre esperança, amor e melancolia do seu antecessor, sempre com criativos arranjos como base, o seu segundo álbum dialoga e se distancia do seu antecessor na mesma medida.

“Lamber os Dentes”, faixa que abre o disco, já revela como há algo mais pesado e carregado na atmosfera criada pelos seus arranjos (que conta com Patrick Laplan no baixo, bateria, conga e triângulo; Laplan também foi o produtor do álbum ao lado de Ventura). Com uma forte presença de instrumentos de percussão, para além da bateria, a sonoridade do disco também está mais preenchida e mais pomposa, fato que se repete em “O enfeite do não e o sim”.

Como em “Tarde”, a poesia de Ventura é o grande destaque de “Para me lembrar de insistir”. Agora há um tom mais contemplativo em sua mensagem, mesmo que em alguns momentos haja uma certa ambiguidade. “Toda canção” é uma dessas músicas em que a letra não consegue se separar dos seus arranjos; Laplan e Ventura criaram uma atmosfera onírica e esperançosa para que o cantor possa falar sobre como o amor é duro e recompensador: “Toda canção de amor jamais será uma canção de dor, por que não?/ Nunca vi um amor que desse motivos pra não acontecer/ Nunca vi uma dor que não acabasse”.

É interessante como a segunda metade do álbum começa a ficar mais leve, como o final de uma grande tempestade que já está perdendo a sua força. A dobradinha “Sobre as horas” e “Cor de laranja”, cujo clima bucólico é guiado pelo sutil violão de Ventura que, por sua vez, é sereno ao dizer “mais um dia, maus um amanhã tentando acertar nossa casa/ um café, a louça, as mão geladas , eu faço birra/ mas eu amo estar aqui”, evocam a beleza da vida ordinária. Já em “Fogos”, single liberado de forma prévia, o destaque vai para os ricos arranjos que contam com harpa (Arícia Ferigato) e baixo acústico (Yuri Pimentel) que construíram uma atmosfera tão grande quanto um show de fogos de artifícios, ao passo em que Ventura reflete sobre o culpado e a cura nos trechos: “Tudo que brilha pode machucar/ tudo que brilha também pode me curar”.

“Trovejar” talvez seja a minha favorita, devido ao violão dedilhado na introdução e pelo ritmo que vai de encontro à sonoridade da trilogia “Re”, do Gilberto Gil; em pouco menos de 3 minutos, ela também flerta com o jazz, quando Vitor Araújo decide tomar o protagonismo com o seu piano. Se eu pudesse definir como o novo disco se difere do antecessor, eu usaria esta música como exemplo.

Três anos após a sua estreia solo, Gabriel Ventura mostra que há muito para ser dito – já que há muito para ser sentido. Como ele citou, sobre oferecer música para os outros, “Pra me lembrar de insistir” causa o mesmo efeito de ganhar um presente inesperado e, também, é uma grande trilha sonora para guiar os nossos sentimentos.