Atualizado em: junho 17, 2025 às 10:09 am
Por Arthur Coelho
Pode ser loucura pensar que uma cena de bandas com som estranho saindo do centro-oeste dos Estados Unidos com influências do emo se popularizou ao ponto de atingir jovens de outros países e continentes. Mas e se eu te contar que isso tudo é verdade? E que, ainda por cima, o alcance do chamado midwest-emo vem ganhando cada vez mais ouvintes e bandas fora das capitais do Brasil, como demonstra o Zero To Hero, banda de Taubaté, no interior de São Paulo, que faz um som que vai agradar os fãs de Sunny Day Real Estate, American Football e as mais recentes sensações The Hotelier e Tiger Jaw.
Em entrevista com o trio Danilo Camargo (guitarra e voz), Nicolas Brown (bateria) e Pedro Cursino (baixo e voz), eles contaram ao Um Outro Lado da Música um pouco mais de suas referências, planos futuros, dificuldades e outras curiosidades.
UOLDM: Boa noite pessoal! Vocês lançaram o segundo disco da banda ano passado (The Perfect In Between) após um EP de 2022 que deu uma impulsionada na banda. E agora o que vocês planejam para esse futuro recente de 2025?
Cursino: É, no momento a gente não tem nada assim engatilhado, que tá pronto. A gente tá trabalhando em algumas coisas, né? Tem uma música do Danilo. A gente mexe, manda umas demos, umas ideias no grupo, lá… Nada concreto. Não chegamos a ensaiar ainda, nem nada assim, mas… No futuro, no próximo, acho que nada. Talvez no ano que vem. É uma data mais realista. Se eu falar desse ano, acho que eu vou estar mentindo.
Brown: Esse ano a gente vai continuar fazendo meio que a tour do álbum que a gente lançou no passado. E, continuar divulgando.
UOLDM: No Instagram vocês já estão com outras datas de shows para esse mês e o próximo (maio e junho). Depois disso, vai ter alguma tentativa de expansão fora de São Paulo, para além do Sudeste?
Brown: Temos para o interior de São Paulo e acho que por enquanto só.
Cursino: É, só a capital e o interior. A capital e o interior de São Paulo. Não tem nada assim… Não tem nada fora do Estado, por enquanto nada. Mas se quiserem, chama aí a gente que a gente conversa.
UOLDM: E como é que acontece o processo criativo de vocês de criar músicas? Porque vocês têm um som bem diversificado, tem aquela pegada do Midwest Emo e um um pouco do Sunny Day, mas vocês são muito mais frenéticos. Talvez porque o baterista é um monstro, né? E tem essa mistura de partes melódicas com outras explosivas. Como é que surge isso?
Brown: Acho que porque cada um escuta uma coisa, né? Muito eclético. Acho que no começo a gente tinha muito mais necessidade de soar igual a alguém. E acho que por ter essa necessidade por tanto tempo, acho que a gente cansou disso, né? Saturou dessa ideia. E a gente acaba tendo um gênero próprio. Honestamente, eu não sei também qual gênero que encaixa. Cada música é numa vibe, é isso aí.
Cursino: É, mistureba, né? Farofa.
UOLDM: Mas alguém chega a mandar alguma coisa assim primeiro? Ou é algo que surge de ensaio?
Brown: A gente sempre se encontra, escuta a música junto, tá no carro, daí vai escutando… Geralmente parte de uma pessoa.
Camargo: A gente não chegou a tirar um som de uma jam, assim. Não, não. Já tirou umas brisas já com jam, assim, no ensaio. Ainda tem um monte de coisa, mas não que virou música.
Brown: Ainda, né? Ainda não. Tem umas coisas gravadas também de jazz. A gente brisa ainda.Quem sabe, né? Vira uma música dessa forma aí também. Seria da hora.
UOLDM: Vocês são uma banda do interior de São Paulo, de Taubaté…Como que é a cena lá, não só em relação a outras bandas, mas espaço pra tocar. Então, como é que é uma banda do interior tocar na própria cidade? Tem público? Tem outras bandas pra compartilhar? Ou um palco? Ou tem que sair e vir pra capital pra fazer tudo acontecer?
Cursino: Tem público e tem outras bandas. Só falta lugar pra tocar. Lugar pra tocar que é difícil.
Camargo: Lá em Taubaté acho que tem um só que a gente costuma pegar, assim, que é o Lapa. A estrutura ali é tranquila. O espaço lá é bom também, mas, tipo, fora de lá, não tem outro lugar.
Cursino: É, cara. É difícil. Uma vez ou outra a gente consegue, mas não é uma casa de show. O único lugar que tem show com frequência, que não seja barzinho ou coisa assim, é o SESC que a gente tocou uma vez. Mas foi uma vez só. Inclusive o Sesc, chama aí! Estamos abertos para todos os SESCs do Brasil que estiverem interessados.
Brown: Mas no geral eu acho que não tem muita gente pra ter um nicho, pra ter esse tipo de som. Porque o som que a gente faz não é um som que é pop hoje em dia, né? Não é um som que uma galera escuta em massa.
Cursino: É, mas sempre que a gente faz show por lá tem galera que cola. Mas é mais escasso. Por exemplo, de dez shows que tocamos, oito são em São Paulo e dois em Taubaté. Tem que ser assim. Não tem muita opção, na verdade. O último show em Taubaté foi ano passado.
Camargo: Vai fazer um ano, né? Foi dia 12 de junho, acho. A gente concluiu que temos quer fazer um rolê pro Taubaté no ano. Porque é o que vale a pena. Aí a galera vê, pô, o único rolê. Daí cola bastante gente.
Brown: Aí é uma coisa bem casa cheia. Que nem como foi ano passado. Porque assim cria mais nichos. A galera que a gente conhece de lá começa a ficar perguntando de show e tal, daí a gente começa a ver se tá chegando na hora já de fazer mais um show. São José, que é do lado, tem mais opções. A gente toca mais em São José dos Campos do que em Taubaté.
UOLDM: Então, pegando um gancho nessa questão, existe uma integração entre as cidades vizinhas em relação a mais shows?
Brown: Acho que só em São José mesmo. Tem outras cidades que a gente já tocou, tipo Jacareí e Lorena. Em São José a frequência é maior, mas isso existe sim.
Cursino: E também teve Rio de Janeiro. Ano passado a gente tocou no Rio de Janeiro, mas lá é bem mais longe também, não é na região. Mesmo mudando de estado teve uma galera boa lá.
Brown: A gente toca em Lorena, por exemplo, mas também não tem um público, sabe? Rio de Janeiro, que é muito mais longe, tem mais gente que cola…é uma cidade maior, não tem jeito.
UOLDM: E uma questão de curiosidade, assim, dos títulos que vocês colocam nas músicas, tem até uma música que tem uma frase do Camus (Albert Camus, escritor e filósofo) sobre o imaginar o Sísifo feliz. Como é que surgem também esses títulos marcantes?
Brown (apontando para Cursino): Eu sei que são as coisas que você escreveu que são assim.
Cursino: É a mente perturbada, né, mano? Às vezes a gente tá escrevendo o bagulho… é engraçado até falar, porque pra música eu me inspiro em outras pessoas que tocam música, sabe? Outras bandas. Mas pra escrever letras é diferente, vem mais do dia a dia, do que eu tô lendo, do que eu tô jogando. Até videogame já inspirou música. Então… Normalmente sai da minha cabeça mesmo. Eu tô escrevendo e penso: putz, isso daqui tem muito a ver com aquele outro bagulho. Aí faço um paralelo ali que se encaixa em alguma coisa que descreva a música, sem necessariamente colocar aquele título de música, que é o refrão, tá ligado? Daí surgem esses nomes meio mais cabulosos.
UOLDM: E vocês sempre dividiram o vocal também nos ensaios ou começou mais recentemente?
Camargo: É, começou mais pelo Pedro (Cursino), mas aí foi mudando com o tempo. O último EP que a gente lançou (Lilo, 2022) tem minha participação também. E aí chegou o álbum e comecei a cantar mais.
Cursino: Ele nem sempre cantou, mas eu cantava a maioria das músicas.
Brown: O primeiro álbum é só a voz do Pedro.
Camargo: E os dois primeiros EPs também.
UOLDM: Então foi algo assim natural que surgiu? Porque vocês se dividem bastante.
Camargo: Não sei o que aconteceu, foi meio do nada e senti vontade de compor e consegui.
UOLDM: Vocês acham que essa alteração, essa adição do vocal principal acabou moldando um pouco a sonoridade dos próximos trabalhos a partir disso?
Cursino: Sim, porque normalmente, pelo menos… Como é que a gente faz, né? Normalmente quem escreve é quem está cantando. Não que eu não queira que o Danilo (Camargo) cante uma música que eu escrevi, ou vice-versa. Mas é o que normalmente está acontece. Normalmente eu peço pro Danilo cantar junto também, porque eu sou um cara meio doido. Às vezes eu coloco uma voz atravessando a outra, daí eu não tenho duas vozes, não tenho como fazer as duas. Aí eu preciso de ajuda do amigo, mas… E é isso, acho que tipo, é só porque um está escrevendo, daí canta a música que escreveu. Mas se algum dia escrever alguma coisa e quiser que eu cante, e vice-versa, acho que a gente não tem problema.
UOLDM: É isso, então. Obrigado aí.
Zero To Hero: Valeu. Tamo junto, boa noite, irmão.