Atualizado em: junho 24, 2025 às 1:45 pm

Por Guilherme Costa

O metal moderno, cada vez mais eletrônico, tem encontrado opositores pelo seu caminho. Seja em estilos, como o Symphonic Metal, Power Metal, Prog Metal, Djent ou Metalcore, há uma grande discussão não apenas sobre o rumo que muitas bandas (velhas ou novas) tem tomado, como também sobre questões de produção — para muitos, o som tem se tornado muito artificial.

Como eu gosto de música eletrônica, essa junção de estilos é bastante palatável para mim (embora eu tenha demorado para gostar do Amaranthe), me colocando do lado favorável do Modern Metal. Entretanto, como em tudo, não há como receber todas as músicas (ou discos) de forma tão aberta assim. E um desses álbuns que dividiu a minha opinião a respeito de como dosar o metal com uma roupagem mais pop, é o mais recente lançamento do Sleep Theory, “Afterglow“, liberado no dia 16 de maio, via Epitaph.

O grupo foi formado em Memphis, Tennessee, e atualmente é integrado por Cullen Moore, Daniel Pruitt, Paulo Vergara e Ben Pruitt. O disco de estreia saiu em pouco menos de dois anos após o lançamento do EP “Paper Hearts”. Para o álbum de estreia, o grupo adicionou mais camadas eletrônicas para servir de base para um caminho entre o New Metal e Metalcore.

Sonoridade de fácil e difícil digestão

A sonoridade de “Afterglow” é extremamente palatável para o público que não é muito ligado ao rock, ou até mesmo para o público que gosta de rock, mas não de coisas tão pesadas (não é novidade que o vocal gutural não é de fácil absorção). Paradoxalmente, essa “fragilidade” no peso de muitas das faixas do álbum também é um motivo para outros tantos não assimilarem o álbum da melhor forma — e eu nem estou me referindo aos puristas do heavy metal.

“Static” abre o disco com um belo grito, enquanto riffs dividem o protagonismo com camadas eletrônicas. A partir do primeiro verso, tudo descamba para uma grande trilha sonora de música eletrônica — quase um Summer Eletrohits. Como eu disse acima, como eu gosto de EDM, foi fácil eu gostar de “Static” (que é uma das minhas favoritas do disco), mas essa direção quase que totalmente eletrônica e um refrão do tipo Cobra Starship (que eu gosto muito, inclusive) está longe de agradar até o fã mais mente aberta do estilo.

A sequência traz um pouco de alívio para quem quer ouvir metal. Ao contrário de “Static”, “Hourglass” e “III” mostram um ótimo balanço entre o peso dos instrumentos e as camadas eletrônicas: nas duas músicas você encontra bons riffs, base forte e pesada, além de refrãos poderosos e uma grande progressão de acordes durante  os seus respectivos andamentos — “III” ainda conta com o dueto gutural/vocal limpo, da dupla Moore e Pruitt.

Em “Fallout”, faixa que esteve no EP de 2023, o quarteto evoca o espírito (e riffs) do Sevendust — joia pouco reconhecida que o New Metal nos deu —, sendo uma das faixas mais poderosas do álbum. Podemos dizer que Moore encarna o estilo vocal do grande Lajon Witherspoon, mas seria pouco para uma das faixas que conseguem ser um dos “rostos” do álbum.

O ponto baixo do disco são as pretensões de baladas. Durante as seis primeiras faixas, o vocal mais melódico, quase pop, de Moore não é um problema, sendo até algo a que estamos acostumados (vide o TesseracT). Contudo, falta algo em “Gravity” e “Afterglow”. Talvez seja a eterna briga entre diminuir o ritmo para ter um single mais comercial. De toda forma, os refrãos clichês e a tentativa de soar “limpo” (algo que eu considerei legal em “Static” e “Stuck in My Head”) não funcionaram nessas duas faixas.

“Numb” e “Words Are Worthless”, pelo contrário, são ótimas faixas para servirem como singles. Essa direção meio Three Days Grace combina com a proposta do disco entre caminhar o clássico e o moderno, as aproximando de um rock mais acessível — e não uma música mais pop.

Como já não existe nada novo, a grande questão é como tomar o som para si. No geral, o disco de estreia do Sleep Theory é muito bom, mesmo que haja um ponto baixo quando eles fizeram das camadas eletrônicas o seu grande horizonte; quando eles deixam o peso em evidência, o quarteto se coloca entre as boas novidades do Modern Metal que, por via de regra, sempre irá dividir opiniões.