Atualizado em: setembro 2, 2025 às 8:50 pm

Por Arthur Coelho

Sintetizadores, temas sombrios e batidas marcantes são algumas das principais características do darkwave, estilo que levou toda uma geração de bandas post-punk ao engajamento de um novo gênero musical ainda mais obscuro e misterioso.

Seu auge ocorreu no final dos anos 80 e 90 quando bandas como Joy Division (“Unknown Pleasures”), The Cure (“Seventeen Seconds”) e Sisters of Mercy (“First and Last and Always Collection”) lançaram alguns dos discos essenciais que definiram a história do estilo. Mas isso está longe de significar que a influência do estilo está restrita a tal época.

Quem apostava nisso se enganou completamente, pois as décadas de 2010 e 2020 provam exatamente o contrário. Bandas do mundo todo marcam uma nova onda de crescimento do gênero, que agora recebe representações de fora da cena do Reino Unido.  Alguns de seus destaques são Molchat Doma (Bielorrúsia), Mareux (Irã-Estados Unidos), French Police (Estados Unidos) e, é claro, a recomendação de hoje: o dueto Twin Tribes.

Formado em 2017 no estado do Texas, o grupo é composto pelo mexicano Luis Navarro ao lado do estadunidense Joel Niño Jr, que lançam músicas de forma independente desde 2018 e se dividem entre as funções instrumentais e vocais. Com três discos de estúdio lançados até o momento – sendo o mais recente deles “Pendulum” (2024) – parte de sua popularização se deve à segunda compilação deles, “Ceremony” (2019), que conta com dez faixas em meia hora de duração.

A faixa de abertura “Exilio” é uma das principais músicas do grupo e em pouco tempo já consegue mostrar aos ouvintes a evolução de qualidade de produção em relação ao antecessor.

Em uma entrevista para o portal Tucson Sentinel, Navarro chegou a admitir que “Exilio” foi escrita do ponto de vista de alguém sem documentos e se sentindo desconectado da sociedade.

“Inside the misery we lost faith/ Illusions keeping me alive/It’s burning me inside/Eyes of fire (Dentro da miséria perdemos a fé/ Ilusões me mantendo vivo/ Está me queimando por dentro/Olhos de fogo)”

Outra canção que brilha no início é “Heart & Feather”, responsável por algo não tão comum na carreira do Twin Tribes: versos longos e refrãos definidos. Ela conta com um videoclipe performático no Youtube que está quase alcançando um milhão de visualizações.

Dando sequência, “The River” eleva a atmosfera do compilado para um lado mais mórbido e com menos agitação que a anterior. Além de destacar os vocais graves e reverberantes de Luis Navarro com a bateria eletrônica sempre presente no conjunto.

“Throw the sage in the fire/ Blindfolded to desire/ The burning underlines your eye/ Throw the sage in the fire/ Blindfolded to desire/ Your secret’s safe without the lies (Jogue a sálvia no fogo/ De olhos vendados ao desejo/ A queima destaca seus olhos/ Jogue a sálvia no fogo/ De olhos vendados ao desejo/ Seu segredo está seguro sem as mentiras)”

O disco segue com duas faixas que colocam a melancólica em cena, mas com ritmos opostos. “Avalon” é agitada e tocada aos 180 BPM (Batidas Por Minutos), enquanto “Obsidian” consiste em uma canção lenta inspirada pelo obscurantismo do The Cure.

“Slowly memories cut through fog/ Eyes closed I walk to the gallows/ Still I see, clearly, clearly, free/ Ready forever/ Lay here beside her again (Lentamente as memórias cortam a névoa/ De olhos fechados eu caminho até a forca/ Ainda vejo, claramente, claramente, livre/ Pronto para sempre/ Deite-se aqui ao lado dela novamente)”

“Ceremony” é o lançamento de consagração do Twin Tribes e podemos dizer que o hit “Fantasmas” é um dos grandes responsáveis por isso. A faixa conta com um videoclipe e foi por muito tempo o maior sucesso da banda, capaz de mostrar novas influências ao som darkwave, como por exemplo, do rock gótico latino.

Ao ser perguntado em uma entrevista com o El Garaje Del Frank sobre a ideia do refrão da faixa ser cantado em espanhol, Luis chegou a declarar:

“Adoro a ideia de alternar entre inglês e espanhol durante uma música. Eu ouvi pela primeira vez na banda alternativa mexicana Zoe e me apaixonei por ela. Eu me senti muito identificado, especialmente morando em uma cidade fronteiriça onde todos mudam do inglês para o espanhol, de um lado para o outro. Acho que o coro em espanhol nos ajudou a nos conectar com o público de língua espanhola”.

“It’s time to offer the life/When all your thoughts have been cast aside/I don’t believe anymore/I don’t believe anymore/Solo miro fantasmas/Estan dentro de ti (É hora de oferecer a vida/Quando todos os seus pensamentos foram deixados de lado/Eu não acredito mais/Eu não acredito mais/Só vejo fantasmas/Estão dentro de você)”

Na reta final das exatas 10 músicas, ainda dá tempo do dueto mostrar seu lado ultra romântico com “VII” e “Upir”. Além de fechar oficialmente o compilado com o ritmo dançante de “Perdidos” e o som atmosférico de “Shrine”.

“The moment I miss you/I reinvent all the signs/Heart and feather won’t align/My presence within you/Something you can’t deny/You are the ritual of my life (No momento em que sinto sua falta/Eu reinvento todos os sinais/Coração e pena não se alinham/Minha presença dentro de você/Algo que você não pode negar/Você é o ritual da minha vida)”