Atualizado em: julho 13, 2025 às 6:49 pm
Por Guilherme Costa
Sempre quando eu escrevo algo sobre os australianos do Clamm, eu menciono o quão profícua tem sido a nova safra australiana do Punk Rock, capitaneada pelo Amyl and The Sniffers, além de outros grupos de destaques como o Hockey Dad e as Stonefield (saudade delas!). Também cito a vitalidade e fúria empregada em cada nota do trio liderado por Jack Summers.
Após discos apontando o dedo indicador e médio para as segundas-feiras, opressão do sistema, as dificuldades de se manter são no mundo (embora eu creio que isso nunca teremos um sinal positivo para deixar tal drama), e etc., o Clamm lançou o seu terceiro disco de inéditas “Serious Acts”, no dia 30 de maio, via Meat Machine. Poderiam eles diminuírem o ritmo? Sim e não!
Com a baixista Stella Rennex se juntando a Miles Harding (bateria) e Jake Summers (guitarra e vocal), o Clamm diminuiu a sonoridade agressiva, mas não deixou — paradoxalmente — de ter um atmosfera calamitosa. E talvez essa sensação seja um bom adjetivo para o disco. Em “Serious Acts” não há, no geral, músicas rápidas, com um ataque em seu início; há uma atmosfera mais sufocante e mais urgente.
“And I Try” foi primeiro recado de que não haveria uma fórmula repetida. A primeira prévia do disco, liberada em fevereiro, conta com um certo groove, embalado por texturas de sintetizadores, que deixa o ouvinte com o sinal de alerta ligado. Ela é também uma das músicas mais distinta da curta carreira do trio:
“Esta faixa foi um pouco um experimento para nós. Começamos colocando camadas de loops metálicos sintetizados e construímos organicamente a música a partir daí. Ela introduz uma direção sonora ligeiramente nova — tensa, mas espaçosa. Liricamente, ela se aprofunda em temas de identidade, transformação e introspecção, questionando como nos percebemos e nos apresentamos, e a extensão do controle que realmente temos sobre esse processo”
“No Idea” segue o padrão mais clássico do Punk Rock do Damned e companhia, embora haja uma explosão característica em seu refrão. Ela é um “oásis” em meio ao cenário que a banda entrega na primeira metade do álbum, com um ritmo bem truncado, seco — como se eles estivessem a ponto de iniciar um combate. O ápice é com a caótica “Blinded”. Com “Problem Is” e “Bag I’m In” preparando o terreno, “Blinded” soa como o ponto em que não há mais opções senão o confronto, ao passo que Summers canta sobre a inércia que nos é condicionada diariamente (“Sentado sem fazer nada/ E as telas estão ligadas/ E elas estão brilhando intensamente/ Eu estou fervendo/ Então eu assisto e rolo/ Tão distrativo/ Keira Knightley e Harrison Ford/ Clima mudando”) e a indignação que ferve dentro de nós (“Ficar sentado distraído enquanto tudo queima /Um clima em crise, a hipocrisia vive/ Exceto pela cobertura da mídia de massa/ Estou preso em um ciclo de serviço que é alimentado pelo medo/ Lide, reúna seu povo e aguente firme, meu querido/ Menos, quanto menos você ouve, mais você ganha/ Quanto mais você ganha”).
A fúria preste a explodir é o desfecho da eletrônica (outra faixa entre as mais distintas do grupo) “More Serious Act”, que encerra esse clima pré e pós caótico. A agressividade dos primeiros trabalhos retornam nas faixas seguintes: “Heavy Fines, Loss of License” e “Bear the Brunt” e “Time”, que começa de forma sorrateira com o baixo de Rennex — cuja importância na base para que guitarra e bateria explodissem tem de ser exaltada. “Pigs Don’t Read” encerra o álbum caminhando entre o Punk e o Hardcore.
O nosso mundo ainda oferece (e sempre irá oferecer) motivos para nos revoltar. E o Clamm decidiu mudar um pouco a sua atmosfera para vociferar contra a opressão diária que eles lá na Austrália e todos os seus ouvintes ao redor do planeta sofrem diariamente. O combate e as consequências é apenas o desfecho de uma agonia que o álbum capturou muito bem!