Atualizado em: agosto 24, 2025 às 9:19 pm

Por Guilherme Costa

É sempre interessante pensar nas hipóteses que são levantadas a partir de uma ruptura. São tantos e tantos argumentos e/ ou possíveis motivos que, por vezes, nos afastamos da resposta mais simples. No caso do Marrakesh, banda curitibana que lançou o seu terceiro disco de inéditas no mês passado, talvez a resposta mais simples seja a que resume a (nova) mudança de direção do grupo em seu recente trabalho.

“A gente acabou indo para vários lados que não chegaram a lugar nenhum, e acabou voltando ao início, que era fazer uma banda de rock. Então o que fica é sinceridade, é o que a gente tá querendo transparecer, a banda, no momento, é isso que vocês estão escutando” Comentou o vocalista e guitarrista Truno, em entrevista para o portal Minuto Indie.

O autointitulado álbum de inéditas do grupo, lançado no dia 7 de julho, via Balaclava Records, não contém os efeitos eletrônicos do Synthpop dos seus dois primeiros discos, conta com mais guitarras, uma sonoridade mais orgânica e letras inteiramente em português. Esse foco nas guitarras e num “som mais orgânico”, a propósito, não é uma definição que consiga sintetizar a intenção do grupo, uma vez que é uma definição vaga; mas quando o Marrakesh liberou o single “Talvez” — a primeira prévia do álbum — em dezembro do ano passado, ficou claro que eles estavam indo em direção de um Shoegaze/ Alt Rock melancólico, utilizando das guitarras para criar as atmosferas que antes eram endereçadas pelos efeitos eletrônicos.

As melodias de “Alma”, faixa que abre o disco, revelam que Truno, Lucas Cavallin (Winebathory), Daniel Ferraz, Matheus Castella e Thomas Berti (Volobodo) estavam dispostos a utilizar do minimalismo a sua maior arma para que letras em tom confessional fossem as mais impactantes possíveis. Em “Brincos”, por exemplo, a letra explora a tensão de algo que está próximo da ebulição “Jogou meus brincos no chão/ Falei que não pegou bem/ Eu ja me esforcei demais/ Mas por ti foi com prazer/ Eu que mereço mais/ Não li os seus sinais”.

Há partes em que a sutileza fica de lado, dando lugar a uma tensão latente. Isso acontece aos poucos na faixa “Quem Sabe”, que começa com um dedilhado de violão e cede a pressão imprimida na letra e tem os versos “tentei mudar, correr e alcançar outro lugar, só pra respirar de novo” gritados, ao passo que a guitarra distorcida e a bateria vão ficando mais pesadas. Já em “Ponto Final”, tal tensão já é apresentada na sua primeira nota; a faixa, que tem uma linha de baixo marcante e tensa, é aquele tipo de música que mostra como a melancolia pode ter traços mais pesados. Curiosamente, a faixa funciona como uma espécie de interlude para o single “Cão” — uma das faixas mais pesadas e, ao mesmo tempo, sutis do disco.

Em sua nova encarnação, o Marrakesh mostra a evolução de pouco mais de dez anos de estrada ao ser maduro o suficiente para recalcular uma rota que não estava fazendo muito sentido. Embora essa não seja a primeira ruptura do grupo, ela se mostra a mais significativa.