Atualizado em: agosto 27, 2025 às 9:56 am

Por Guilherme Costa

Três anos se passaram do lançamento do autointitulado disco de estreia dos chilenos do Escondite, e o grupo liderado por Germán Muñoz está com o seu segundo e ambicioso disco de estúdio na pista. “La Quebrada”, que saiu no dia 30 de maio via Sultan Discos, era para ter saído no ano passado, mas por algum motivo foi adiado; talvez, para que o projeto ganhasse os seus retoques finais (ou, talvez, por questões maiores à arte…). Fato é que, uma vez no mundo (e nos nossos ouvidos), o novo disco do grupo é como uma peregrinação em direção a si mesmo.

“Dez músicas que falam de desvios. Caminhos que se ramificam entre árvores e vozes que não terminam em ir embora. A discoteca, como aquele objeto que não se identifica, escapou por uma simples vista e se fundiu na paisagem. Como se a música estivesse aqui desde sempre. Um reflexo — talvez impreciso — de nós mesmos, não estou caminhando pelos mortos.” Comentário retirado do perfil do grupo no Bandcamp.

O disco abre com a atmosférica “Entre Los Árboles”, uma faixa instrumental — carregada de diversas camadas eletrônicas — de pouco mais de quatro minutos e que te introduz na atmosfera dos próximos quarenta minutos do álbum. Se ela estivesse no meio do disco, eu diria que ela seria como uma pausa para respiração; estando no início, ela então funciona como um aviso do início de uma jornada. Uma jornada que tem sequência na etérea “Gravedad”, onde os sintetizadores ambientes permanecem em seu início, mas que logo cede a voz e guitarra de Germán, que canta “Você sabe a verdade, é que estou preso nesta terra”.

Sem dúvidas um grande passo na curta carreira do grupo!

Entre o Slowcore, Shoegaze e Rock Alternativo, todos (no geral) com influências da década de 90, o álbum apresenta uma variedade de texturas de guitarras e sintetizadores, enquanto baixo e bateria trabalham para fincar o ritmo no chão: são a base para a expansão dos outros. O que quer dizer que o álbum não foca apenas numa sonoridade etérea, tendo como contraponto o rock introspectivo, sinuoso e distorcido de “Espiral” e “Objeto Raro”  — faixa que conta com a participação da banda Adelaida — que contém  riff mais legal presente no disco.

“Nasa” é um interlude, também de caráter “interdimensional”, que separa a primeira e a segunda metade do álbum. “Copiloto” retorna com as guitarras distorcidas e volta com o clima numa rotação, embora haja uma explosão na faixa já em sua parte final.

O ponto mais forte, e que destoa um pouco da melancolia do álbum, é a faixa “Animal Negro” — música inspirada num conto que Germán leu. Aqui, o ritmo é acelerado, cru, as guitarras e a bateria se cruzam (como se estivessem num combate) numa atmosfera Punk Rock. A letra não poderia ser mais sombria e misteriosa “Sol negro sem estações/ Um punhado de terra infértil/ Não há fantasmas nem aparições/ Só o ruído do mar intenso/ Oh animal negro”.

Passado o furor punk de “Animal Negro” e da indie “Contrarresta”, o álbum é finalizado com outra peça atmosférica “Al Amanecer”, que introduz a faixa final “La Quebrada”. Tendo a participação do Inmontauk (projeto do músico Ismael Palma), a música parte de onde “Gravedad” termina; há um feeling do rock progressivo (psicodélico) nela, transformando-a numa grande viagem onírica.

Germán Muñoz (guitarra e vocal), Daniela Araya (sintetizador e vocal), Matías Bacigalupo (guitarra) e Raúl Guzmán (bateria), Sebastián Alfaro (baixo), fizeram a espera valer a pena, num álbum que merece um destaque do tamanho da viagem que “La Quebrada” é capaz de construir. Indo do onírico e lisérgico, passando por camadas mais hostis, o segundo álbum do Escondite é uma ótima trilha sonora para uma jornada introspectiva.