Atualizado em: setembro 24, 2025 às 9:35 am

Por: Arthur Coelho

O Darwave é um dos estilos que mais ganha adeptos na atualidade, principalmente quando falamos da cena musical mexicana-estadunidense (chicana) responsável por reinventar o som derivado de bandas post-punk dos anos 80 com novas influências criativas.

Há algum tempo, o dueto Twin Tribes apareceu por aqui como um dos representantes dessa nova geração de música gótica, e hoje a recomendação ficará com um grupo de origem similar, mas de som ainda mais diferente.

Criado pelo multi-instrumentista Darius Davila no estado do Texas (Estados Unidos), o Haunt Me começou como um projeto solo de música gótica romântica e logo passou a explorar novas direções com a entrada de Hilaro Bautista e as participações de Angel Meneses, que integra o agora trio em apresentações ao vivo.

O conjunto ganhou certa popularização com o single “Please Stay”, que posteriormente viria a fazer parte do EP “Wish You Were Here” (2020), em uma construção sedutora e polida de uma balada romântica e gótica comandada pela voz grave de Darius com um certo quê de Morrissey.

Este ano eles apresentaram o álbum “Watch You Bleed”, o segundo de estúdio, que expande as influências do projeto em um nível que vai surpreender o ouvinte que conheceu o trio pelo seu maior hit e empolgar antigos amantes.

Em doze diferentes músicas, eles expandem a sonoridade darkwave para além da reverberação e graves marcantes (que não deixam de estar presentes no compilado) e mostram uma recusa em se prender a qualquer fórmula post-punk.

Muitas das músicas de “Watch You Bleed” contam com partes de música eletrônica na pegada do electrogótico, em construções sonoras que causam contrastes entre grave/agudo e frenesi/cadência. Um exemplo dessa última parte consta na abertura “Bloodlust“, que coloca vocais lentos por cima de um instrumental intenso. “Their Hate Will Destroy Them” também faz algo similar em um beat divertido que serve de palco para o pessimismo das composições de Darius e Hilaro.

Outros nomes, como “Inhale Exhale” e “Devour”, chegam a causar certa similaridade com a estranheza instrumental que o Crystal Castles tão bem apresentava. O grupo de electronic noise chegou a gravar um feat com Robert Smith (The Cure) e também era inspirado pelo goticismo, o que pode justificar tal inspiração (não) proposital.

Red Room”, a quarta faixa, brinca com a alternância entre o lado direito e esquerdo do fone e se junta à melancolia romântica de “Cemetery Rendezvous” na construção de uma trilha futurista, uma espécie de cybergoth (o cyberpunk gótico) que soa tanto cinematográfico quanto festivo, em músicas que fariam parte das mais estranhas pistas de dança. Nessa suposta festa, a ressaca vem representada na atmosférica “Surrender to the Night”.

O disco em si é uma grande mistura de darkwave, electronic goth e rock com traços experimentais, algo que a faixa-título representa como síntese. E o especial desse lançamento é a forma como o Haunt Me consegue dar vida a variações tão distintas a partir de uma mesma perspectiva lírica romântica/melancólica e, por vezes, irracional, que exacerba a razão dos sentimentos e se torna selvagem sem transformar tal manifestação em berros ou gritos. Longe de qualquer dramatismo excessivo, a apatia gótica de “Filthy” é o que melhor representa a maneira pela qual o grupo se expressa.

Entre outras músicas, ainda há espaço para a densa balada romântica “Scream For Me” e para seguir os caminhos de Twin Tribes e Mareux na empolgação post-punk de “VHS Horror Night”. Além dos flertes com o rock post-punk de The Cure e Joy Division em “Bleed For Me”.

Watch You Bleed” é um álbum com diversos sabores, influências e com arranjos que soam de forma mais densa e menos polida que lançamentos anteriores, com um diferente estilo darkwave que expõe a morbidez do presente e constrói a melancolia de um futuro alternativo.