Atualizado em: novembro 6, 2025 às 10:32 am

Por Guilherme Costa

Desde o seu surgimento, o Night Tapes vem ganhando destaque de forma gradual, consequentemente gerando grandes expectativas para os seus próximos trabalhos. Com quatro EPs nos últimos seis anos, o trio — atualmente formado por Max Doohan, Sam Richards e Iiris Vesik — nunca deixou de aguçar a curiosidade do seu público, devido a sua atividade constante. Os dois últimos EPs, “Perfect Kidness” e “Assisted Memories”, foram a conclusão de que o próximo passo da banda seria na direção correta.

O disco de estreia prova isso!

A expectativa para o álbum de estreia era grande, por causa dos (já citados) recentes EPs e por causa das prévias que o Night Tapes liberou (cinco músicas, ao todo), mostrando algumas facetas para além do seu Dream Pop (cujo ápice é a faixa “Drifting”, presente no “Assisted Memories”). “Portals//polarities” saiu no dia 26 de setembro, via Nettwerk, e não decepcionou.

Fruto de uma colagem de experiências das recentes turnês — como, por exemplo, uma viagem ao México —, o álbum demanda a necessidade de bons fones de ouvidos para a sua audição, tamanha é a quantidade de camadas presentes em cada faixa. Algumas são mais sutis, como em “masterplan”, que tem a base instrumental orgânica (bateria, baixo e guitarra) sendo sobreposta por sintetizadores; em outros casos, porém, a profundidade sonora demanda mais atenção aos detalhes, como no imenso universo em que “lemon tree midnight consegue se inserir.

As  “novidades” não são mostradas logo de cara. Pelo contrário. O Night Tapes soa como os seus trabalhos anteriores, passando pelo Dream Pop carregado de camadas oníricas de sintetizadores. “Enter”, faixa que abre o disco, até é introduzida com sintetizadores etéreos, mas logo pende para um Indie (Dream) Pop do Class Actress (em coisas, como “Bienvenue” e “Let Me Take You Out”) e da Japanese Breakfast. “Television”, um dos singles lançados de forma promocional, flerta com o Soft Rock do Fleetwood Mac, embora tenha uma identidade própria — sobretudo por causa da bela e angelical voz de Iiris Vesik. Swordman, por sua vez, lembra em muito as linhas utilizadas em “Drifting”, indo para um lado mais Dance.

Indo bem no fora e dentro do lugar comum

Os quatro EPs do Night Tapes estabeleceram muito bem a sua identidade, fazendo com que o seu debut completo não partisse de um lugar desconhecido. Então, como soar orgânico e mesmo assim conseguir surpreender? Bom, o trio decidiu que o lugar comum não é tão limitante assim!

A faixa “babygirl (like n01 else)” talvez seja o melhor exemplo de como, paradoxalmente, Max, Iiris e Sam conseguiram soar diferentes dentro da sua (vasta) proposta. Ela é baseada numa roupagem Trip Hop/ Lo-Fi, no qual eles já haviam feito algo do tipo em “Selene”, mas com uma sutileza no qual os elementos Dream Pop estejam em segundo plano. Explicando sobre “babygirl (like n01 else)”, Iiris comentou que talvez ela seja uma das músicas mais misteriosas do disco, o que aumenta o teor singular da faixa:

“Para ser honesta, essa música é um mistério para mim. Existem muitas interpretações possíveis. Tenho a sensação de que ela fala sobre uma energia específica e sentimentos de desejo de posse/controle que podem acompanhá-la. Na medida certa, no lugar e momento certos, essa energia é incrivelmente sexy; quando desequilibrada, é diabólica.”

Para além das várias direções que os sintetizadores do Indie Pop podem levar, o Night Tapes também flertou com o Hip Hop — utilizando os samples da faixa “93 ‘Til Infinity”, do Souls Of Mischief — em “Pacifica”. A bateria seca em looping, também me lembrou algumas aventuras da Sinéad O’ Connor e Suzanne Vega. Eles também flertaram com a música eletrônica dos anos 90 (Prodigy, Dubstar e etc), e não o Eurodance) em “Helix”“Patience (waiting for the setting sun)” e, sobretudo, “Storm” — cujos beats se aproxima sons da mistura entre House Music e EBM.

Guiados por bateria, baixo e guitarra, a sonoridade de “Portals//polarities” consegue se fundir muito bem com o som sintético para construir uma base para a voz da Iiris brilhar. Aliás, a sua voz funciona como uma extensão da base instrumental, expandindo os limites das treze músicas presentes no disco.

Como eu disse no início da resenha, o trio é uma daquelas bandas que sempre causam a sensação de “quero mais”. E, sim, eu quero outras coisas novas deles, ao mesmo tempo em que eu quero colocar um fone de ouvido, estar num lugar tranquilo, e poder viajar para o universo chamado Night Tapes.