Atualizado em: novembro 10, 2025 às 7:04 am
Por Guilherme Costa
O Molho Negro já tem mais de dez anos de estrada, numa carreira que sempre reafirma a visão dos seus integrantes através de letras pessoais, ácidas, irônicas (com um toque de humor) e, acima de tudo, bastante diretas e retas. Embora haja algo mais sútil aqui e ali (como na faixa “Pra Quando Essa Moda Passar”), o trio paraense nunca deixou de se dar ao luxo de não apontar para as suas angústias.
Em seu sétimo disco de inéditas, “VIDAMORTECONTEÚDO”, lançado no dia 31 de outubro, via Deck (o primeiro com a gravadora), a banda aponta e grita contra o mundo virtual! Para além do conteúdo lírico da banda, sempre bem destacado, o trio mostra entrosamento em sua nova formação, com Antônio Fermentão assumindo as baquetas e contribuindo para incorporar a sua identidade ao trio.
Três anos após o lançamento do álbum “ESTRANHO”, no qual o consenso foi de que a banda estava mais séria, o novo trabalho torna a trazer a típica acidez com toques de humor irônico, com muito peso. Mas não se engane, João Lemos, Raony Pinheiro e Antonio Fermentão não estão em clima de sorrisinhos.
“Ficar Morto Vende” — caso haja vida pós morte, muitos artistas devem comemorar o aumento de vendas e streams da sua obra — abre o disco com o rock cru e direto do Molho Negro. Entre o Punk, Garage Rock, Hardcore e Rock and Roll, a música leva a assinatura sonora do trio, numa letra que decreta a proximidade do fim do mundo (além do “fator promocional” que a morte de um artista causa). “Sem Sinal”, a terceira faixa do disco, também é outra que se encaixa no lugar comum que o Molho Negro construiu em seus sete discos, com sua direção reta, onde menos é mais!
A trinca entre a faixa-título, “Tudo que faz mal” e “OUTRAS PESSOAS PENSAM” reforça o ímpeto do Molho Negro em criticar não apenas as redes sociais e a vida sendo compartilhada e divida em diversas telas, como também apontar para como tal problema se junta a péssima qualidade de vida (com descasos na vida profissional) numa bola de neve que resulta num cansaço social. “Tudo que faz mal”, neste ponto, é certeira com os versos: “A ideia de que basta esforço pra fazer você chegar no topo/ tá me parecendo papo de maluco” e “Essa noite você não dormiu/ só acordou e começou de novo/ repetição até ser declarado morto/ vendeu a alma pra comprar um lugar no céu/ sei lá, in hell”.
Novidade-vida-conteúdo
O conteúdo de “VIDAMORTECONTEÚDO” também passa por novas direções! A começar pela faixa “Na Frente do 14”, que, sob a bela linha de baixo do Raony, nos guia — com tons de Indie Rock Br — para uma lembrança do 14 (assim como o trio fez em “Black Rebel Marambaia Club”). O interessante é que a faixa também carrega um ar mais maduro, dialogando com a atmosfera do “ESTRANHO”.
Mas a grande adição sonora ocorre na faixa “Bombas & refrigerantes”. Carregada de elementos eletrônicos, a nona música do disco trás consigo uma direção nunca antes visto no Molho Negro (embora o trio já tivesse experimentado camadas eletrônicas em “Reacionários”, e aqui e ali no decorrer do novo disco); nela, o eletrônico é tão importante quanto guitarra, baixo e bateria (além da voz do João) para construir a atmosfera digna do Pop Rock nacional dos anos 2000, enquanto a letra trás consigo lembranças agridoces.
O álbum é encerrado com a faixa “Claustrofobia”, que, em seu andamento meio “Feel the Mantra”, do Deb and The Mentals, mostra que não há muito otimismo em relação ao nosso futuro. Com o humor irônico do início da carreira, o ar mais maduro do disco antecessor (afinal, todos amadurecem) e o peso de sempre, o Molho Negro segue mostrando que o mundo ao seu redor é uma fonte inesgotável de inspiração. Para nossa sorte ou não.