Atualizado em: novembro 11, 2025 às 10:09 am
Por Guilherme Costa
Lá em 2024, a Corama —projeto solo da musicista Luiza Ribeiro — lançou o seu EP de estreia (“será que eh tudo sobre mim?”) e mostrou como o Indie Pop soava dentro da sua perspectiva. Mas isso não era o suficiente para a jovem amazonense, ao passo em que ela lançou o EP “não eh tudo (só) sobre mim” — com versões remodeladas do lançamento de 2024 —, no fim de maio deste ano, afirmando que o projeto era o ponto de virada da sua carreira.
Parte da sua identidade — incluso no ponto de virada da artista —, aliás, vem da afirmação de não seguir estereótipos, como ela comentou em comunicado à imprensa na época do lançamento da Live Session:
“A cena independente de Manaus é cheia de gente talentosa, mas não é fácil. A galera daqui enfrenta um monte de estereótipos, como se a gente só pudesse existir dentro de um molde folclórico. Isso faz com que a cena musical do Norte seja meio esquecida, como se não tivesse o mesmo peso que outras regiões do Brasil. Ser artista independente em Manaus e ainda por cima LGBT é um desafio enorme.“
No dia 7 de novembro, de forma independente, saiu o disco de estreia da Corama: “Quem melhor que eu?”. Com sete faixas, em pouco mais de vinte e um minutos, o álbum segue tendo as experiências amorosas da cantora como foco da sua arte. Mas desta vez, o tom confessional está apontada para outra direção:
“Acho que a gente passa tanto tempo tentando entender o amor pelos olhos dos outros que esquece de olhar pra dentro. Esse álbum é sobre isso: se permitir amar sem medo, sem precisar esconder ou se apoiar em metáforas. É ter coragem. É sobre ser mulher e entender que tudo bem sentir algo por outra mulher. Acho que amadureci muito quando percebi o quanto eu finalmente conseguia expor e compreender o que sentia.”
A guitarra (ao estilo Two Door Cinema Club) da faixa “dia certo, hora errada”, abre o álbum com tons Indie e Dream Pop, com baixo e sintetizador também se fazendo notório, enquanto a Corama canta sobre o “quase amor” que não se concretiza por apenas um (grande) detalhe. “PRECISO SABER” vem na sequência, apresentando boas melodias pops, enquanto a cantora não tem medo de mostrar a sua vulnerabilidade: “E eu faria tudo pra te ver feliz/ Mas você não pensa e tudo fica por um triz/ Quero que você se permita sentir/ Pra que ficar tão perto e tão distante assim”.
Embora a parte rítmica seja dançante, bem ao estilo baladinha, a parte lírica é agridoce, sem medo de olhar, apontar e refletir para as cicatrizes que o amor pode causar. No entanto, há lições a serem tiradas dessas experiências. E é por aí que as faixas “Algumas razões” e “Contadores de Farsas” estão inseridas. Esta última já é conhecida, por fazer parte do EP “não eh tudo (só) sobre mim”, e aponta para aqueles relacionamentos que tem o seu fim prolongado pela ilusão de que haverá a última e definitiva salvação da relação: “Não quero mais/ Ter que mentir pra você e pra mim/ Ter que agir como se eu lembrasse/ Do seu sobrenome”.
Produzido por Yasmin Moura e Roberto Freire, que também ficaram à cargo de gravar as ótimas linhas instrumentais (sobretudo as linhas de baixo) ao lado de Roberto Freire. “Quem melhor que eu?” também tem a participação do músico Matheus Who na faixa “se você não quer desaparecer” — faixa que é guiada por camadas oníricas de sintetizadores. “Quem melhor que eu?” também é o nome da faixa que encerra o álbum, deixando as camadas etéreas de lado e focando mais no peso da guitarra e bateria. Neste caso, a parte lírica acompanha a parte instrumental da faixa que reflete sobre o momento de aceitar que tudo acabou.
Como eu disse acima, o disco de estreia da Corama fala sobre amor e suas feridas e cicatrizes. Para além da nossa relação amorosa com o outro, o álbum é um grito sobre ela ter o direito de dizer que ama uma mulher: em suas palavras “foda-se, eu sinto afeto romântico por mulheres, eu quero ela”.