Atualizado em: novembro 25, 2025 às 9:15 am
Por Arthur Coelho
O dueto britânico Zetra vem brilhando com uma carreira de lançamentos certeiros e um sucesso ascendente, inclusive coroado pela premiação de Artista Revelação do Reino Unido no Heavy Musical Awards. A nomeação no ano passado veio graças ao disco de estreia autointitulado, mas o reconhecimento se estende para 2025, ano em que o grupo deu continuidade à sonoridade anterior e voltou a cativar novos e antigos ouvintes com o EP “Believe”.
O novo trabalho de Adam Saunderson (guitarra e vocais) e Jordan Page (sintetizadores) foi lançado pela Nuclear Blast e traz cinco músicas inéditas que unem elementos góticos, melodias hipnóticas e versos capazes de conquistar tanto fãs de rock quanto de pop. Aqui, o duo constrói uma sonoridade que aproxima diferentes tribos, justamente por saber equilibrar variações musicais com uma produção encantadora — quase mágica — além de momentos sensíveis geralmente conduzidos pelo vocal de Adam.
The Portal has opened, the Darkness is calling. Absolution can only come through loss. A sacrifice must be made. Zetra asks the question. Do you believe enough?
(O portal se abriu, a escuridão está chamando. A absolvição apenas pode vir da perda. Um sacrifício deve ser feito. Zetra faz a pergunta. Você acredita o suficiente?)
A abertura, “The Angel Cries”, é uma ode ao pop gótico dos anos 80 e gruda no ouvido com a habitual combinação do grupo: guitarras potentes e sintetizadores densos. É uma boa faixa, embora não brilhe tanto quanto as demais — mais por mérito delas do que por demérito próprio.
“So”, que vem em seguida, apresenta um som familiar que coloca os sintetizadores acima da base rock. Os vocais são difíceis de compreender, mas ainda assim soam muito bem. A música, influenciada pelo shoegaze, evidencia uma desaceleração de peso em relação ao debute. A faixa ganhou um videoclipe ao lado “The Spider” — música quase impossível de se ouvir apenas uma vez. É quase inevitável não se pegar repetindo o encantador refrão “Only the spider is watching me” (Apenas as aranhas estão me vendo).
A letra, fantasiosa, transporta o ouvinte para um cenário distante, meio imaginário, meio literário. Não provoca os arrepios de “Lullaby”, do The Cure (“spiderman is having me for dinner tonight”), mas cria uma catarse cética bastante própria. Na reta final do EP de 18 minutos, o Zetra deixa os sintetizadores de lado por alguns instantes e abraça o acústico em “Find Me”, que cresce aos poucos com a entrada do instrumental, resultando em uma canção que soa bela, mesmo ao tratar de temas ligados ao pós-vida.
I know that you know
No life but your own
We can pray together
Break into dream
Crawl up from the dark
Fall into my arms
I can wait forever
Call to me
(Eu sei que você sabe/Nenhuma vida além da sua/Podemos orar juntos/Entrar no sonho/Rastejar para fora da escuridão/Cair em meus braços/Posso esperar para sempre/Chame por mim)
O final da canção ainda traz uma guitarra crescente que prepara ouvinte para a despedida do compilado em peso máximo. “Charlotte” abre com a bateria preenchendo os primeiros instantes e rapidamente revela a nova dinâmica do dueto no EP: gritos alternados com melodia. Mas essa parcela mais agressiva não vem de Adam ou Jordan, e sim da convidada Justine Jones, vocalista da banda de metalcore Employed to Serve. A música, no entanto, também carrega uma referência externa: trata-se de um cover do grupo feminino Kittie. Quem conhece o disco de estreia (2024) do Zetra já está familiarizado com essa alternância de intensidade — e sabe que ela funciona bem, especialmente aqui.
O dueto também é conhecido por músicas que não operam em estilo contínuo, mas em atos. Dentro de “Charlotte”, há diferentes movimentos, como em uma peça teatral que começa em explosão, atravessa cenas mais pesadas e se encerra em um clímax surpreendentemente belo e bem distinto da versão original numetal. O EP ainda conta com quatro faixas extras — “Shards of Power”, “A Queen Ascends”, “The Order’s Decree” e “The Final Rest” — que integram o lado mais gótico-experimental (e instrumental) de “Believe”. Disponíveis exclusivamente no Bandcamp, elas contam uma história mágica tecida por sintetizadores.
O Zetra está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!