Atualizado em: dezembro 18, 2025 às 8:46 am

Por Guilherme Costa

Por ter crescido ouvindo Hard Rock e Heavy Metal (mais tradicional) — além de muita New Wave —, o meu repertório a cerca de bandas de rock psicodélico/ Soft Rock não é dos mais vastos. Então, quando eu ouvi o disco de estreia do Floral Image, eu não soube muito bem o que dizer/ escrever — até porque eu fiquei chocado!

Formado em Norwich, Inglaterra, o grupo já havia chamado a atenção do público britânico com lançamentos regulares de singles entre os anos de 2019 a 2023 (incluindo, aí, o lançamento do EP “So Synthesised”) e uma extensa agenda de shows durante 23. Quando saiu o single “Burning 305”, em janeiro deste ano, foi explicado o motivo do grupo ter se afastado um pouco dos holofotes.

Gone Down Meadowland” saiu no dia 25 de abril, via Fuzz Club Records. Talvez por fruto de um período recluso numa fazendo em Norfolk, a estreia do quinteto evoca paisagens bucólicas através de trilhas oníricas. Mas não se engane, se há um certo teor contemplativo e escapista em suas músicas, há também espaço para contestações:

“Muitos dos temas são comentários anti-establishment sobre o estado do mundo moderno. Pode ser isolador ser um mero espectador das preocupações globais na pacata Norfolk, mesmo que seja fácil se acomodar em um falso conforto quando se está cercado por vastos espaços, beleza natural e pessoas amigáveis ​​no mercado. ‘Gone Down Meadowland’ é essa fantasia escapista e desprovida de ego que ainda não consegue escapar do mundo desmoronando sobre si mesmo; o isolacionismo de Norfolk.”

Fergus Nolan (vocais, guitarras), Jack Warner (vocais, teclados), Matt Kennedy (baixo), Mitch Forsyth (bateria) e Phil Whitton (guitarras) decidiram que o álbum seria introduzido com uma curta mas muito sugestiva faixa instrumental, revelando que o rock psicodélico (com toques progressivos) teriam muitas camadas de sintetizadores. O disco começa à vera com “The Dream”, faixa que — como o título sugere — embarca num daqueles sonhos que mais parece um transe, como a letra demonstra: “Deitada em cabelos emaranhados/ Soprada pela velha brisa/ Um olhar amoroso para me manter lá/ Antes de partirmos/ Traz um grande susto/ Um fantasma que você não precisa/ Nada está errado, vamos navegar no sonho”.

Mesmo que a primeira parte contenha músicas relativamente curtas, com nenhuma passando dos cinco minutos, o nível de profundidade que o quinteto atinge com os seus instrumentos é bastante notável. Entre a parte “tradicional” (bateria-baixo-guitarra-sintetizador) está instrumentos de sopros, percussão e timbres de plugs, que trazem a cada audição algo novo, como ocorre no single promocional “Burning 305” — com o seu andamento remetendo à algumas coisas do Temples — e na Dream Pop “Call Up The Doctor”, cujos trabalhos de guitarras foram essenciais para a construção da atmosfera lisérgica.

Ao contrário do segundo disco do A Virgo, destaque de ontem nos Melhores do Ano do site, Gone Down Meadowland” é, sim, dividido em Lado A e Lado B. O Lado A é encerrado com a faixa “The Score”, que relembra o que os Beatles se propuseram a fazer em “Revolver”, e logo emenda no Jazz Fusion de “Boogietown”. E é aí que o jogo começa para o Floral Image!

O Lado B tem três músicas que ultrapassam os cinco minutos de duração, e é marcado pelo aspecto de jam que o rock psicodélico da década de 60/70 usaram e abusaram. Todos estão soltos e não há espaço para regras, como no caso da já citada “Boogietown” (com Jack Warner tendo um papel primordial na qualidade da música) e de “Howling Dog Song”, que lembra em muito a época psicodélica do King Gizzard & the Lizard Wizard.

A instrumental “Twist Of A Nerve” introduz a última faixa “Sun For Hire”, que percorre um caminho entre o Genesis da Era Peter Gabriel com os ares modernos do Tame Impala. Seguindo uma variação de ritmos durante o seu andamento, a faixa encerra em grande estilo o álbum, uma vez que a letra resume bem o teor escapista e onírico que o álbum ecoa (Será que algum dia isso vai embora?/ Será que algum dia vai começar?/ O rio nunca vai para o seu lado/ E estamos exatamente onde você está”) enquanto a parte instrumental é tão profunda quanto o sonho em que eles estão. Parte desta atmosfera, também, é devido a grande performance vocal de Fergus Nolan.

Por mais que o Floral Image tenha repertório para fazer algo mais grandioso, eles preferiram compor faixas mais coesas mas sem deixar que elas caíssem num poço de simplicidade. E, por mais que o quinteto venha de uma cidade pequena, a ambição musical do grupo é do tamanho das paisagens que foram evocados em seu álbum de estreia.

O Floral Image está entre os Melhores do Ano!