Atualizado em: dezembro 19, 2025 às 9:20 am

Por Guilherme Costa

O Basement Tracks já havia chamado a atenção do público e da mídia (underground) em 2018, quando o grupo oriundo de Juiz de Fora (MG) lançou o seu disco de estreia: “Rave On”. Naquela altura, o lançamento cativou a todos por caminhar entre o Shoegaze e Dream Pop de uma forma bastante única.

Sete anos depois, Victor Fonseca (guitarra, voz), Ruan Lustosa (guitarra), Ruy Alhadas (teclados), Rodrigo Baumgratz (baixo) e Lucas Duarte (bateria) estão de volta, com um álbum mais dançante e com paisagens que sugerem que tal clima se prolongue noite adentro.

Contudo, os acontecimentos que antecederam o lançamento de Midnight Show” não foram nada agradáveis. Programado para ser lançado na época da pandemia da COVID-19, entre 2020 e 2021, os mineiros viram o projeto ser pausado após o vocalista e guitarrista Victor Fonseca sofrer um AVC em cima do palco, durante uma apresentação do grupo. Com a recuperação ocorrendo de forma gradual, o grupo voltou ao estúdio para concluir a produção do sucessor de “Rave On”.

Midnight Show” saiu no dia 3 de abril, de forma independente, e revelou como o quinteto estava interessado em grandes trilhas para as noites. Em São Paulo, por exemplo, as faixas seriam ótimas para agitar o clima de lugares como o Cineclube Cortina e a Milo Garage. Cito esses dois lugares, porque a atmosfera do álbum está muito próximo das baladinhas Indies dos anos 2000 — mesmo que a utilização de sintetizadores nos remetem aos grandes artistas da New Wave oitentista.

O álbum, aliás, inicia nessa vibe gótica com a música “Cold Gold”. Entre as camadas marcantes de sintetizadores e um groove produzido por bateria e baixo, a faixa se desenvolve numa grande balada que poderia está no set de algum evento do Madame Satã (agora, Madame Underground Club) e, ao mesmo tempo, tem um quê das novas gerações de Dream Pop — muito por causa da participação da Nina Hübscher, cuja voz auxilia a criar tons oníricos no refrão da música. “Heavy Dream” dá segmento na vibe oitentista, ao flertar com as camadas que o Jesus and The Mary Chain e o Primal Scream (da Era “Screamadelica”) produziram!

Convidadas é o que não faltam no segundo álbum do Basement Tracks. Além da Nina, o álbum conta com a participação da Amélia do Carmo (Varanda), Stéphanie Fernandes (que participa em três faixas) e da Isabel Oliveira (Flopsy Franny) — falecida no ano passado.

Embora os sintetizadores, baixo e bateria sejam os protagonistas no álbum, as linhas de guitarras também são de suma importância para a criação das texturas presentes em “Midnight Show”. Nisso, o álbum se assemelha em muito às bandas oitentistas, cujo foco é em criar melodias que a música pedem, sendo ora mais comedida e ora mais presente.

Mas, para mim, o álbum está mais na década dos anos 2000 do que na de 80; até porque, o uso e abuso dos benefícios dos sintetizadores não é exclusivo da Era das Cores. “Dive”, faixa que emula as texturas do Temples, cujo refrão é alimentado pela potente voz da Amélia, tem também um quê do que a Lana Del Rey fez em “Born To Die”. Já “Neon Mirror”, que conta com a participação de Stéphanie, está num caminho entre Men I Trust e o MGMT. Até mesmo em “Honey”, que é realçada pela Isabel, e que lembra alguns grupos da década de 80 se enquadrando no novo século, tem uma veia pertencente ao Metronomy, Empire of The Sun e as já citadas Men I Trust e MGMT.

Mesmo que o texto procure paralelos com o que já foi feito, “Midnight Show” — assim como “Rave On” — carrega uma identidade muito grande e marcante. Entre atmosferas dançantes, contemplativas e reflexivas (“Bree”) e texturas ricas em melodias, grooves e camadas eletrônicas, o quinteto se posiciona entre um dos grupos mais divertidos de se ouvir do país (e isso é um grande elogio).

Nesses quatro anos do especial Melhores do Ano, eu sempre coloquei alguma banda/ artista que me impactou logo na primeira nota da sua música. Entre o Sei Still, Unthank:Smith e o Ozu, está o Basement Tracks!

O Basement Tracks está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!