Atualizado em: outubro 16, 2025 às 10:24 am

Por: Arthur Coelho

O grupo Bella e o Olmo da Bruxa marcou uma nova fase de sua carreira com o lançamento de seu segundo álbum “Afeto e Outros Esportes de Contato”, que dá continuidade à sonoridade do quarteto com seu rock triste de elementos alternativos.

Como você já deve ter notado, o novo trabalho possui um nome particularmente estranho (uma tradição que é seguida em algumas de suas músicas, como em “Deus, Gay”), mas que começa a fazer muito sentido com a temática seguida no trabalho.

Todas as músicas aqui tratam de temas similares: fim de relacionamentos, nostalgia e traumas de aniversário, que estão bem espalhados entre as onze faixas do álbum e suas distintas abordagens que vão do rock com elementos de shoegaze até o pagode em uma música específica.

Alguns nomes como Slowdive, Lupe de Lupe e Fresno são aqui evocados como referências em elementos musicais que não apagam a identidade própria que o Bella e o Olmo vem construindo já há algum tempo. Eles, na verdade, dão toques especiais em partes específicas de suas músicas, principalmente quando falamos de “Pra ti, Guria”, que parece unir essas três bandas em um espaço alternado.

Seu instrumental é simplesmente uma obra prima, uma união entre os elementos do rock e a sinfonia em parte crescente que deve soar ao vivo de forma impressionante. O quarteto Julia Garcia, Felipe Pacheco, Pedro Acosta e Ricardo De Carli se supera aqui na dinâmica de explorar novos ritmos.

Outras músicas não ficam muito trás em trazer momentos diversificados: “Hematomas no corpo do nada” trabalha com certo peso instrumental e partes mais agitadas, algo que é único no compilado, enquanto “Eu sei, é foda” entrega todo o protagonismo ao baixo. A já citada “Deus, gay” soa como um indie folk e “Mesmo Assim” se diferencia na alternância de vocais com a co-autora e convidada Sophia Chablau (da banda Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo).

Sem contar a finalização “Teu Pra Toda Vida/Uma Rosa Sem Espinhos”, onde o grupo troca o rock alternativo pelo pagodinho romântico ao melhor estilo do cantor Belo. Definitivamente algo surpreendente.

A predominância de uma atmosfera cabisbaixa, melancólica e introspectiva no disco não impede que o grupo consiga explorar diferentes dinâmicas e recursos musicais. E isso faz com que a Bella e o Olmo consiga fazer música triste, mas sem necessariamente pesar o clima.

Um bom exemplo disso é “vou me matar”, uma canção indecisamente suicida que soa de forma divertida (calma lá, eu sei que isso ficou meio estranho), pois trabalha com o contraste de sua letra tensa sobre saúde mental com um instrumental de ritmo animado e contagiante.

O novo trabalho dá sequência à abordagem de temas nostálgicos e aqui deixa bem evidente o impacto do término de uma relação, assim a saudade de algo que não existe mais. “Briga de irmão e outras cadeias de violência” é uma ode a tal sentimento e compartilha com “E as Frases? a necessidade de reviver o passado.

Ambas estão direcionadas a feridas que ainda não se foram e que precisavam ser tratadas de forma terapêutica no formato de música. Até por isso, “Nova Paixão” e “Bem no seu aniversário” soam como a exposição desse(s) trauma, algo tão marcante quanto tal data de aniversário, que é citada repetidas vezes em tais faixas.

Tais músicas conseguem expor a dor contagiante das letras creditadas a Pedro Acosta como navalhas que ferem também o ouvinte; que o colocam no papel de ouvir a dor do outro e pensar na sua. O reconhecimento é parte do que faz tão especial a música de bandas desse estilo de rock sensível.

Assim como a Bella e o Olmo da Bruxa afirma: o afeto é também um esporte de contato. Um esporte que oferece tantos riscos de se machucar quanto o judô; que pode te ferir como um soco no boxe e deixar mágoas e estilhaços de rancor no lugar de um olho roxo. Mas é, também, um esporte viciante, assim como a sensação de superar seu adversário e a si mesmo. O afeto é um esporte de contato e se você se machucar feio, pelo menos vai ter um disco pra te lembrar disso enquanto afoga as mágoas.