Atualizado em: junho 13, 2024 às 4:51 pm
Por Guilherme Costa
Trocas de integrantes de uma banda, sobretudo quando é o vocalista, sempre é – de certa forma – traumática. É tão impactante que mesmo sendo algo até comum, não deixa de criar rupturas na relação com os fãs. Essas rupturas podem ser realçadas se a escolha do novo vocalista levar a banda em direção a outros caminhos (por vezes, mesmo se o caminho principal for o mesmo, haverá críticas: vide o Angra). Este é o caso do Bullet Bane.
Criado em São Paulo, cuja formação inicial contou com Victor Franciscon (voz), Fernando Uehara (guitarra), Rafael Ferreira (baixo), Danilo Souza (guitarra) e Renan Garcia (bateria), o primeiro álbum de estúdio da banda (“New World Broadcast”) foi orientado para o Hardcore clássico, no qual o grupo se destacou por seu som arrojado e bem elaborado. A sequência (“Impavid Colossus”) seguiu com mais peso, mas já dava indícios do que estava por vir no álbum seguinte “Continental”, onde o Hardcore até se fez presente, mas as guitarras pesadas estavam direcionadas para um lado mais atmosférico. Então o vocalista Victor Franciscon deixou a banda.
Arthur Mutanen foi o escolhido para ocupar o posto de vocalista da banda e o primeiro álbum com a nova formação, “Ponto” (o melhor com a atual formação), lançado em 2020, já não tinha Hardcore mas seguiu com uma sonoridade influenciada pelo Deftones, com o seu peso característico. Em 2022 foi lançado o álbum “BLLT”, e com ele outra mudança: a adição de elementos eletrônicos. Cada vez mais presente em vários estilos do Metal, as camadas eletrônicas por vezes são protagonistas e em outras, não – como foi o caso do BLLT”. Já no sexto álbum de estúdio, “ART.FICIAL”, os efeitos eletrônicos se tornaram o protagonista.
As prévias já mostraram a ruptura que a nova mudança na sua sonoridade iria causar (embora houve um certo prelúdio com algumas faixas do BLLT, como “Cancela o Replay”), e elas tomaram forma quando o sexto álbum do Bullet Bane foi liberado em todas as plataformas digitais, na última sexta-feira (7).
“ART.FICIAL” já começa de uma forma difícil, uma vez que a faixa que abre o disco (“A Vida é Um Sopro”) é quase uma EDM (a propósito uma das críticas palpáveis desse disco é a perda do protagonismo das guitarras). O ponto baixo é sem dúvidas “Amor e Suas Dúvidas”: faixa pop que destoa completamente do restante do álbum (até o Drum n’ Bass que surge do nada na faixa, “Difícil Me Odiar”, faz sentido quando ela emenda no single “No Fundo Eu Me Importo”) e “Motopapi”, que começa promissor e simplesmente descamba para um reggaeton, terminando sem mais nem menos.
Pensando no que o álbum trouxe de melhor, “Sem Direção”, mesmo que o verso (“vou pro inferno/ levo ferro”) não seja um dos mais inspirados da história da banda, é um dos acertos do discos nessa nova proposta de dar mais protagonismo aos elementos eletrônicos. Quando as guitarras, baixo e bateria dividem tal protagonismo, faixas como “Elevador” – na minha visão, a melhor faixa do álbum e a que melhor sintetiza a nova fase do grupo – e “No Fundo Eu Me Importo”, também se sobressaem num disco cuja digestão é bastante demorada. Outro ponto favorável, é que as faixas encaixaram muito bem com a voz do Arthur, fazendo dele a grande peça do álbum.
Para o bem e para o mal, mudanças causam efeitos efeitos mistos e passionais. Não vou entrar no coro de dizer que a banda é a cópia do Bring Me The Horizon ou simplesmente a elogiar porque isto significa apoiar o rock nacional. O fato é, goste ou não (ou mais ou menos), que este é o novo Bullet Bane.