Atualizado em: novembro 5, 2025 às 10:34 am
Por Guilherme Costa
No dia 24 de outubro, saiu o segundo disco de inéditas da Chini.png, “Vía Lo Orozco”, via Sello Fisura. O sucessor do aclamado “El día libre de Polux”, que esteve entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música de 2023, era aguardado — entre outros motivos — pelas prévias que mostravam um lado mais folk de María José Ayarza (a Chini.png) e companhia.
Mas não se engane! O Art Rock Alternativo segue sendo o fio condutor sonoro da artista chilena que, neste trabalho, se inspirou no seu passado e presente para criar as onze faixas presentes no álbum.
“Não se trata de uma nostalgia pura, mas de um retorno caótico, repleto de poeira e ecos familiares. É um álbum que propõe uma arqueologia emocional, revisitando as primeiras feridas do amor, as lições distorcidas que são herdadas.” Comentou em comunicado à imprensa.
Acompanhada de Juan Desordenado (guitarra), Leonardo Jara (baixo), Pepe Mazurett (bateria) e Marcarena Galaz (backing vocal), Chini inicia a sua história com a curta faixa-título (com seus 59 segundos de duração); a sequência é com a faixa “Lava”, que teve um videoclipe compartilhado em seu canal oficial do YouTube no mesmo dia do lançamento do álbum. Uma espécie de interlude e um rock mais “básico”, foram apenas o aperitivo de outro álbum musicalmente rico da musicista chilena.
Com “Diagonal”, do qual os seus dez primeiros segundos tem uma série de vinhetas editadas, a sonoridade começa a ser expandida. A música, que varia entre uma percussão groovada e guitarras distorcidas — ao estilo Sonic Youth —, é acompanhada de uma letra que reflete o seu caos sonoro, a medida que Chini canta “Você se perderá um pouco mais/ Como é solitário buscar calma sob essa turbulência/ Eu te perderei um pouco mais/ O imaginário leva a alma para um passeio sem rumo/ Para onde não posso te seguir”. Curiosamente ela é (também) encerrada com uma espécie de vinheta.
“Manflorita” vem para acalmar os ânimos, embora a letra se baseie em relações separadas entre bem e o mal/ certo e errado, com a sua dinâmica violão-sintetizador. Ela é (paradoxalmente) mais seca: talvez seja pelo tema, que tem versos bastante destemidos (“eu sei que ninguém pertence a ninguém/ e apenas um deus imaginário nos domina por prazer./ Pequena flor, paraísos feitos e desfeitos./ Agora, em minha dor, ele me força a pecar e a cantar”). Nada seca é “Oro”, que segue na dinâmica violão-sintetizador (que, na verdade, conta com uns acordes de guitarra aqui e ali) e conta com a participação de Laurela, Javier Parra e Nando García, evocando um Folk com camadas oníricas. Ela não é apenas uma música “fofa”. Ela é daquelas obras que te alça aos céus, quase como o culto (infelizmente eu não consegui encontrar um paralelo melhor), tamanho é o seu apelo etéreo, realçado com o canto à capela em sua parte final.
Guitarras distorcidas, violões, linhas melódicas vocais (aspecto que fez toda diferença no álbum) e sintetizadores, são os destaques para a construção de “Vía Lo Orozco”, que é tão semelhante e distinto aos seus trabalhos anteriores. Se “Pide un Deseo” e “Timida” — que conta com a participação de Agnes Paz e do Campaneros de Santiago — poderiam estar no EP “Ctrl+z”; “Ciencia”, “Hierro” e “Reliquia” (I e II) provam, ao seus respectivos modos, que a ousadia criativa da artista teve a sua grande recompensa!
Se com o disco de estreia, a Chini.png se colocou entre os grandes destaques do rock sul-americano, com “Vía Lo Orozco” ela se firma neste grupo que, infelizmente, talvez não seja conhecido por muitos, por causa da pouca integração entre artista e público do nosso continente. Pois, por aqui, eu digo que o rock no nosso continente é tão rico quanto às diversas culturas encontradas na “sudamerica”, e “Vía Lo Orozco” (além da própria Chini) sempre terá o seu destaque merecido.