Atualizado em: junho 12, 2025 às 8:04 am

Por Arthur Coelho

Depois de passar por Porto Alegre (quarta-feira, 04/06) e Rio de Janeiro (sexta-feira, 06/06), o Emo Vive – idealizado pelo Polifonia -, finalmente chegou à cidade de São Paulo contou com datas exclusivas no sábado (07/06) e domingo (08/06), ambas organizadas na Audio Club, localizada na saída da estação de metrô e trem Barra Funda.

No último dia do evento, tive a oportunidade de conferir as apresentações das bandas envolvidas em um tempo típico da cidade paulistana: chuva e frio. O que não foi um obstáculo para diversas pessoas que fizeram questão de brigar pela grade dos shows a partir das 15h, quando a casa finalmente abriu.

Do ABC Paulista para o palco dos sonhos

Menos de meia hora depois, a sequência de shows começou com a apresentação do Morro Fuji, grupo de rock alternativo formado em São Bernardo do Campo e que conta com Angela Destro (vocal), Pietro Dermachi (baixo), Leo Pacheco (guitarra), Nico Faria (voz e guitarra) e Natan Bertolino (bateria). O setlist do quinteto foi diversificado e mesclou suas principais músicas (Cisma Insone, D’Artagnan) com faixas exclusivas (Memorável, Ação e Reação) que deverão sair em breve, mostrando seu influente estilo que pega referências de shoegaze, city pop e até mesmo de MPB.

A apresentação foi curta e para um público limitado, mas agradou quem assistiu. Nas redes sociais (X e Instagram) diversos perfis chegaram a comentar positivamente sobre a banda e sua presença de palco.

Setlist
D’Artagnan
Brisa
Ação e Reação
Memorável
Cores e Luzes
Cisma Insone
Meus pés

O quinteto do Morro Fuji abriu os trabalhos com um som sensível /Reprodução: Instagram, @andinh0_

O Hateen 100% brasileiro

O domingo de fechamento do festival não vendeu todos os seus ingressos, mas foi quase lá. No dia das apresentações, a produtora chegou até mesmo a anunciar um desconto de 50% para as entradas restantes.

Isso se traduziu em um público menor também para o Hateen, banda veterana da cena alternativa que segue lançando músicas desde 1994 sobre a liderança do vocalista e compositor Rodrigo Koala (que também trabalhou com o Ira!, Gloria, NX Zero e CPM 22).

Diferente de outros convidados, o grupo apenas se apresentou nos shows em São Paulo e preparou setlists diferentes para cada dia. O Sábado foi marcado pelas músicas mais antigas e cantadas em inglês, que rendeu até mesmo um cover de “In Circles”, hit do Sunny Day Real Estate. Enquanto o Domingo deu espaço para as músicas em português, coroando os hits “Quem Já Perdeu Um Sonho Aqui?”, “Obrigado Tempestade”, “Se Um Dia Lembrar De Mim” e, é claro, o maior sucesso “1997”, com participação especial de Esteban Tavares nos vocais, ex backing vocal e baixista da Fresno e que segue carreira solo atualmente.

Setlist
Não vá
Uma vida sem saudade
Coração de plástico
Passa o tempo
Inferno pessoal
Minha melhor invenção
Se um dia lembrar de mim
Você não pode desistir
Quem já perdeu um sonho aqui?
1997
Obrigado tempestade

O icônico Rodrigo Coala em um emocionante show em São Paulo/Reprodução: Instagram, @cesinha

Esperado por alguns, desconhecido para outros

Por volta das 17h a casa encheu um pouco mais, seja para marcar território para os shows posteriores ou para acompanhar o MAE (Multi-sensory Aesthetic Experience), grupo que combina o pop punk com passagens experimentais com o uso de teclado, guitarras bem técnicas e vocais bem melódicos e que se apresentou no Brasil pela primeira vez, mesmo estando na ativa desde 2001.Em um grande show de cerca de 1h e 15 minutos de duração, os carismáticos estadunidenses da Virgínia tocaram o disco “The Everglow” na íntegra, o que nem mesmo excluiu o prólogo e o epílogo de poucos minutos.

Provavelmente, eles foram a banda internacional que mais dividiu o público, seja por não serem tão conhecidos no Brasil ou pelo som distinto do hardcore. Mas isso não significou que fosse difícil encontrar algum fã com uma camisa do grupo ou ouvintes mais eufóricos de um público disperso entre a agitação da proximidade do palco e do clima morno do meio e fundo da pista.

Fato é que a produção técnica da apresentação se destacou pela qualidade e sonoridade, limpando o som de todos os instrumentos e potencializando as melodias de “Someone Else’s Arms”, “Painless”, “Suspension” e outras.

Setlist
Embers and Envelopes
The Everglow
Prologue
We’re So Far Away
Someone Else’s Arms
Suspension
This Is the Countdown
Painless
The Ocean
Breakdown
Mistakes We Knew We Were Making
Cover Me
The Everglow
Ready and Waiting to Fall
Anything
The Sun and the Moon
Epilogue

A diferente banda MAE se apresentando pela primeira vez no país/Reprodução: Instagram, @lucastavares.photo

ARE YOU LISTENING?!!!

Apenas 20 minutos dividiu o clima sereno do Mae da caótica apresentação do Emery, a banda mais pesada da noite, que foi a responsável pela formação de rodinhas e de pessoas se jogando num público que já era uma multidão.

“So Cold I Could See My Breath” abriu o show dando uma amostra da energética atmosfera tomada pela mistura da bela cantoria com os profundos gritos mesclados entre Devin Shelton e Toby Morrel, que subiram ao palco com as mesmas roupas utilizadas nos dias anteriores: casacos e calças esportivas.

O grupo estava desfalcado, sem a presença do tecladista e backing vocal Josh Head, cuja ausência resultou em uma troca de funções que deixou o quarteto com apenas um guitarrista, mas nem mesmo isso tornou a apresentação do Emery menos histórica do que foi.

Todo o público da Audio, seja no mezanino ou na pista, agitou e cantou muito com o especial setlist do Emery dividido entre sete músicas do disco “The Question” (que fez 20 anos em 2025), incluindo versões acústicas de “The Weakest” e “The Terrible Secret”, outros três clássicos do grupo: “The Party Song”, “The Ponytail Parades” e “Walls”, que novamente contou com a participação de Esteban Tavares nos gritos, e levou o público ao delírio desde o grito de abertura “ARE YOU LISTENING?!” até os acordes finais.

Para a tristeza da maior parte do público, a apresentação foi uma das menores da noite, com apenas 30 minutos e contou com apenas duas músicas de “The Weak’s End”, disco de maior sucesso da banda e que havia sido originalmente anunciado como o manda-chuva do setlist.

Setlist
So Cold I Could See My Breath
Playing With Fire
Studying Politics
The Weakest (acústico)
The Terrible Secret (acústico)
Listening to Freddie Mercury
In a Win, Win Situation
Bis:
The Ponytail Parades
The Party Song
Walls

Após muitos anos de espera, o Emery finalmente retornou ao Brasil com seu iminente caos/Reprodução: Instagram, @guilhermekrolart

Um novo vocal para músicas antigas

A noite finalmente caiu quando o Anberlin subiu ao palco, trocando o fundo do festival pelo nome da banda e cortando parte da iluminação. Mais pessoas chegaram e a casa esteve perto de sua lotação quando a agitação deixada pelo Emery permaneceu intacta quando o grupo de post-hardcore apresentou o intenso riff inicial de “Never Take Friendship Personal”, faixa que abre o disco de mesmo nome (que também faz 20 anos em 2025) e que foi tocado na íntegra com a ajuda de Matty Mullins, vocalista do Memphis May Fire, que assume o lugar de Stephen Christian, vocalista original do Anberlin que não sai em tunês.

Matty é originalmente um cantor de metalcore, mas casou seu estilo perfeitamente com as músicas de sua nova banda, que o convidou para regravar a compilação “Never Take Friendship Personal” no início do ano. E mais do que isso, conseguiu encantar o público com seus apaixonantes vocais cantados de forma mais aguda.

A noite finalmente caiu quando o Anberlin subiu ao palco, trocando o fundo do festival pelo nome da banda e cortando parte da iluminação. Mais pessoas chegaram e a casa esteve perto de sua lotação quando a agitação deixada pelo Emery permaneceu intacta quando o grupo de post-hardcore apresentou o intenso riff inicial de “Never Take Friendship Personal”, faixa que abre o disco de mesmo nome (que também faz 20 anos em 2025) e que foi tocado na íntegra com a ajuda de Matty Mullins, vocalista do Memphis May Fire, que assume o lugar de Stephen Christian, vocalista original do Anberlin que não participou das turnês.

Matty é originalmente um cantor de metalcore, mas casou seu estilo perfeitamente com as músicas de sua nova banda, que o convidou para regravar a compilação “Never Take Friendship Personal” no início do ano. E mais do que isso, conseguiu encantar o público com seus apaixonantes vocais cantados de forma mais aguda.

O grupo marcou a noite de muita gente ao tocar os hits “Paperthin Hymn” e “The Feel Good Drag” ao lado de “(The Symphony Of) Blasé” e “Audrey, Start The Revolution!”, músicas geralmente esquecidas nos shows mais recentes.

Em algumas faixas, os graves do baixo e do bumbo da bateria estavam estourados, causando tremores que podiam ser sentidos nos corpos dos fãs mais distantes da pista, mas o desequilíbrio não permaneceu por muito tempo e muito menos apagou o brilho da apresentação que, após uma desnecessária e rápida saída de palco do Anberlin, também contou com três músicas de outro disco.

Setlist
Never Take Friendship Personal
Paperthin Hymn
Stationary Stationery
(The Symphony of) Blasé
A Day Late
Time & Confusion
The Runaways
The Feel Good Drag
Audrey, Start the Revolution!
A Heavy Hearted Work of Staggering Genius
Dance, Dance Christa Päffgen
Bis:
The Resistance
High Stakes
Godspeed

Depois de 11 anos, o Anberlin volta a tocar no Brasil com apresentação encantadoras/Reprodução: Instagram, @daymphotos

A Fresno como não se via há muito tempo

O Anberlin passou um pouco do tempo limite de sua apresentação, mas nenhum ouvinte que esteve lá vai reclamar disso. E nem mesmo os membros da Fresno, que sofreram um pequeno atraso para começar o espetáculo.

Não é exagero nenhum dizer que o Emo Vive proporcionou um dos melhores dias da vida de Lucas Silveira e Vavo, fundadores do grupo. Afinal, o que poderia ser melhor para dois artistas do que fechar quatro noites de festival para três de suas maiores influências no mundo da música?

O orgulho e prazer de ter feito parte dessa história foi ressaltado muitas vezes pelo vocalista do grupo em seus diversos discursos entre faixas divididas entre os três primeiros discos do conjunto musical: Quarto dos Livros (2003), O Rio a Cidade a Árvore (2004) e Ciano (2006), que recebeu mais destaque que os demais. “Teu Semblante” abriu a noite retrô e, entre outras faixas, passou o embalo para o discurso, que virou um coro do público e surpreendentemente originou em parte de “Onde Está”. O mesmo fervo permaneceu em “Evaporar”, “Absolutamente”, “Stonehenge” e outras. A apresentação foi desde o drama de “Alguém Que Te Faz Sorrir” até a agitação de “Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas”, que curiosamente foi inspirada por “The Ponytail Parades” (Emery), e fechou o evento com a clássica “Quebre As Correntes”, a única que permanece nas listas das apresentações atuais da banda.

Podemos até mesmo dizer que os shows da Fresno no Emo Vive foram os mais diferentes feitos pelo grupo em anos, oferecendo uma oportunidade única para os fãs (re)ouvirem músicas antigas da época mais hardcore do grupo e não são mais tocadas há muito tempo. Um exemplo disso é faixa “A Resposta”, música que abre Ciano, e que ganhou novos arranjos com a percussão extra (que não funcionou tão bem na música), além de um efeito surpreendente em seu momento de transição, como se o som ficasse abafado ou submerso por água: outro ponto positivo para os membros e a equipe que cuidou do som.

Setlist
Teu Semblante
Se Algum Dia Eu Não Acordar
Stonehenge
Onde Está
Evaporar
Duas Lágrimas
Verdade Que Eu Tanto Guardei
A Resposta
Alguém Que Te Faz Sorrir
Absolutamente Nada
O Que Hoje Você Vê
Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas
Quebre As Corrente

Com a presença da nova baixista Erika Silva, a Fresno fechou com maestria mais uma noite de apresentação/Reprodução: Instagram, @konfotografia

Por mais Polifonia!

Com muitos agradecimentos, a Fresno fechou com chave de ouro a primeira edição do Emo Vive, que, segundo postagens oficiais, deve apresentar novidades em breve sobre uma sequência em 2026.

Vale ressaltar que a organização do evento funcionou e contou com diversos pontos de merchandising, sendo um deles exclusivos da banda Fresno com blusas exclusivas em estilo retrô e copos, além de outra lojinha localizada no lado oposto, com camisas gerais do festival e posters entregues gratuitamente aos fãs.

E não menos importante, proporcionou uma noite histórica para quem presenciou a bela junção de diversas bandas identificadas com a cena, em uma soma de encontros entre novos expoentes (Morro Fuji) com bandas brasileiras já consolidadas (Fresno, Hateen) e grupos estrangeiros que foram responsáveis por influenciar todo o movimento alternativo brasileiro (Mae, Anberlin e Emery) em diferentes estilos, atmosferas e propostas, mostrando a diversidade do emo brasileiro que segue vivo por mais de 30 anos.

Bandas, produtores, organizadores e outros responsáveis pela primeira edição do Emo Vive organizado pelo Polifonia/Reprodução: Instagram, @daymphotos