Atualizado em: março 25, 2025 às 8:40 pm

Por Guilherme Costa

O Far From Alaska fez (muito) barulho logo com o disco de estreia, “modeHuman”, unindo o rock moderno de bandas como o Incubus com um toque eletrônico, numa estética boa demais para ser verdade. Mas era. Para você ter noção, eu conheci a banda numa postagem do Whiplash (site nacional de metal, conhecido – além do trabalho jornalístico – pelas interações nada amigáveis do seu público). Tanto o som arrojado quanto os videoclipes colocaram a estreia dos potiguares entre as mais impactantes da década no rock underground nacional (sem dúvidas).

A aguardada sequência veio com o bom “Unlikely”, em 2017, no qual o então quinteto acenava para uma sonoridade tão eletrônica quanto pesada; como você pode perceber em “Bear” e “Flamingo”. Ali já foi possível perceber burburinhos do tipo “ah, o disco anterior é melhor”. Pois bem, oito anos após o lançamento do seu segundo disco, o FFA lançou o seu terceiro álbum de inéditas, sugestivamente intitulado “3”, saindo ainda mais da proposta do álbum de estreia.

Atualmente formado por Emmily Barreto, Cris Botarelli e Rafael Brasil, “3” é ousado, plural e experimental. Até demais.

O convite para a pista de dança é feito logo na abertura com a eletronicaníssima “Txananam”, sendo seguida de “cuz you”. Nessas duas faixas o tiro para uma nova roupagem foi certeiro, com a guitarra de Rafael soando muito bem e em total sinergia com o dance cantado pela sempre ótima Emily; em “cuz you”, Cris também é destaque, com uma linha de baixo bem swingada. “Trouble”, já na parte final do álbum, nos oferece um capítulo 2 de “Unlikely” numa miragem em que a banda decide se unir com o Drum n’ Bass do Dj Marky (Dj e produtor brasileiro que fez sucesso no país início dos anos 2000); talvez é a melhor música do álbum!

No decorrer dos poucos mais de 45 minutos do álbum o bom nível do início, entretanto, não se mantém, com algumas faixas pecando pelo excesso de camadas eletrônicas ou por destoar demais de tudo do que a banda fez, como é o caso dos pops de “meltdown” e “good part”, além do Reggae de “secret” – faixa que conta com o astro Pato Banton. Outra participação que não me cativou foi a de Lenine, na faixa “olha”.

Rupturas é algo normal na vida de artistas inquietos. Para o bem e para o mal, o exercício de sempre sair da zona de conforto e esticar os seus limites causam sensações definitivas que, paradoxalmente, ficam bem maleáveis com o tempo. Em “3”, o destaque para esse tipo de faixa fica na trinca “future” (que conta com a participação da dupla Medulla), “auuu” e “hardtoxe”, que conseguem ser rock n’ roll o suficiente para os fãs mais apegados à estreia, e eletrônica e experimental o suficiente para encarar essa nova fase de coração aberto.

Talvez “3” seja um álbum de transição para a versão trio do FFA. Por ora, não saberemos, já que o grupo anunciou um hiato por tempo indeterminado, com apenas alguns shows e  gravação de um DVD acústico a serem realizados. De toda forma, o novo álbum do Far From Alaska pode até assustar numa primeira audição, mas, como toda ruptura, se torna mais fácil com o tempo.