Atualizado em: julho 3, 2025 às 8:52 am
Por Arthur Coelho
Na quarta-feira do dia 25 de junho, o quarteto formado por Darkwave (vocal), Hari (guitarra), Lucão (baixo) e Tucca (bateria) lançou o single “navalhas”, o primeiro da banda paulistana desde “Dissolver II”, destaque do mês de novembro do ano passado.
A canção fará parte de um futuro EP (o segundo de sua discografia) e marca uma nova fase de transição do grupo, que passa por mudanças no processo criativo e ganha novas influências advindas do hardcore melódico.
“navalhas” combina um som atmosférico com uma pegada intensa e é guiada por letras introspectivas e sensíveis que refletem todo o sentimentalismo do grupo com a junção de riffs charmosos ao lado de linhas vocais marcantes.
Conversei com Darkwave e Hari sobre o lançamento do novo single e eles compartilharam conosco detalhes exclusivos sobre seu processo criativo, o significado da letra e os planos futuros do homeninvisível em sua nova compilação.
“navalhas foi pensada pra ser uma explosão quando tocada ao vivo”
Podemos esperar que “navalhas” faça parte de um primeiro disco lançado pelo homeninvisivel?
Darkk: A gente escolheu lançar “navalhas” como single único deste EP, que marca justamente a nossa virada musical. Provavelmente ela não estará no nosso disco full. É uma música que a gente escolheu para ser single do EP justamente por acreditar que ela carrega muito da nova sonoridade que a banda queria propor.
No estúdio suas faixas soam de forma mais atmosférica com influências do shoegaze, mas em shows as mesmas músicas são tocadas de forma muito mais rápida e próxima do hardcore. É algo proposital? “Navalhas” foi criada com isso em mente?
Darkk: Isso é algo que começou a acontecer naturalmente, mas hoje já faz parte da nossa identidade ao vivo. A gente entende o estúdio como um espaço de imersão, por isso, nos sentimos à vontade pra explorar o lado mais atmosférico e introspectivo, que tem muito a ver com nossa influência do shoegaze. Já o palco é outra coisa. Ao vivo, o corpo fala junto com a música. A intensidade aumenta, os bpm (batidas por minuto) aceleram, e a entrega emocional precisa vir com força. Então a gente assume o lado mais urgente, mais punk e mais direto. “Navalhas” já nasceu com essa dualidade. A faixa tem essa base emocional densa, mas foi pensada pra ser uma explosão quando tocada ao vivo. É uma música que parte da introspecção, mas que encontra força no barulho. A gente gosta dessa tensão entre o peso e o suave, o silêncio e o grito. E, nos shows, essa energia é transformada em catarse coletiva mesmo.
Hari: Navalhas não foi criada com alguma intenção. Ela surgiu de maneira espontânea, tanto os arranjos como a letra. Mas de fato ela acompanha essa mudança de sonoridade da banda que tem acontecido de uma maneira gradual. É uma música que descreve um pouco essa transição, mas acredito que no EP tem outras músicas que deixarão isso mais escancarado.
A maioria dos seus lançamentos credita no Spotify o nome de Vinicius dos Anjos como compositor, mas o novo single dá créditos para Hari Kishora, também produtor. Houve uma mudança nesse processo criativo do grupo? Como foi isso?
Darkk: Na verdade foi algo bem natural desde a entrada do Hari na banda. No primeiro momento como baixista, mas, de forma gradual e natural, ele veio trazendo muito do seu processo criativo para a banda. Ele é um ótimo produtor musical e muito bom compositor também. Desde o ano passado a gente já vinha conversando sobre uma mudança de sonoridade como algo que queríamos ver nos trabalhos futuros da banda, e finalmente isso aconteceu. O processo criativo foi bem tranquilo e muito natural.
Hari: a maioria das músicas que lançaremos no EP já tinham sido feitas há um tempo atrás. Eu costumo ter uma biblioteca de riffs, canções, etc., e deixo guardadas para utilizar em algum momento oportuno. Mostrei para os meninos da banda e todos curtiram as propostas, então fomos para o estúdio, ensaiamos, polimos os detalhes, cada um foi deixando a sua marca à sua maneira nas canções e assim elas foram nascendo. Essa forma funcionou bastante e em pouquíssimos meses tínhamos no mínimo 10 ideias para escolher quais delas seriam mais interessantes para ser lançadas nesse primeiro momento. A ideia de eu produzir esse material surgiu de maneira natural visto que eu já tinha uma ideia de como eu gostaria que soassem as músicas, os meninos curtiram e assim fizemos.
A letra do single carrega muito sentimentalismo e parece revelar uma certa mágoa com alguém. Como a faixa surgiu? Ela teve certa inspiração pessoal ou foi pensada em outra obra?
Hari: essa música nasceu em 2022, pois ela seria utilizada em uma outra banda que eu estava começando a formar com um velho amigo (Raul) que tocava em uma banda que eu tinha anos atrás, que se chamava The Last Machine, e o Lucas, que hoje em dia toca conosco na homeninvisivel. O Raul me deu algumas sugestões de como poderiam ser as músicas para esse projeto e então surgiu navalhas. Escrevi o primeiro verso e o refrão naquele primeiro momento e ficou bem legal a música. A banda acabou não indo pra frente e a canção foi engavetada. Com a reformulação na formação da homeninvisivel e consequentemente na sonoridade da mesma, decidi pegar essa música pra trabalharmos e funcionou muito bem. Acredito que a maioria das bandas que seguem a linha sonora que tocamos fazem letras inspiradas em situações pessoais ou vivências cotidianas. Não necessariamente sobre algum momento específico, mas muitas vezes de uma reflexão também. A letra de Navalhas retrata muito o que qualquer pessoa comum pode vivenciar ou já ter vivenciado.
Na parte sonora, essa combinação que vocês fazem entre shoegaze e hardcore é praticamente novidade na cena brasileira. Essa mistura me lembra dos trabalhos do saudoso Title Fight. Como vocês chegaram nesse tipo de som? Alguma banda serviu de inspiração direta?
Darkk: A gente ouve muito isso, e sim, o Title Fight com certeza é uma referência muito forte pra gente, principalmente a fase mais etérea deles, no Floral Green e no Hyperview, que são discos “de cabeceira” pra mim, particularmente falando. Mas o nosso som no final das contas é resultado de uma mistura espontânea de tudo que a gente viveu até aqui. Cada integrante veio de um universo diferente: punk, hardcore, indie/shoegaze, emocore, e tudo isso acaba entrando de alguma forma e fazendo esse mix. No começo da banda, lá no EP Formas Negativas (2018), a pegada era bem mais shoegaze/noise pós-punk. Já de uns tempos pra cá, com a entrada do Hari e depois do Lucão e do Tucca, a coisa ganhou outro peso, outra dinâmica. Eles trouxeram essa urgência do hardcore e do punk melódico, que eu achava que faltava na formação anterior. Então no final do dia a gente abraçou esse som mais visceral mesmo. Essa mistura nunca foi pensada como “vamos fazer isso pra ser diferente”, foi uma consequência do que somos e do que ouvimos, do que trocamos entre si. É tipo um punk tentando tocar shoegaze, como o Hari costuma dizer (risos). Mas no fim, é isso que dá a cara da homeninvisivel: a mistura entre peso e sensibilidade.
Hari: Não considero nossa sonoridade tão hardcore. Acho que temos uma “atitude hardcore”, entende? A forma como a gente toca, como nos expressamos, como levamos a filosofia do underground na banda. Mas acredito que futuramente podemos ter músicas mais numa sonoridade hardcore (de ter aquela energia do hardcore quando colocado como gênero música, trás) e com certeza colocando essas especiarias do shoegaze, emo e afins junto, trazendo, assim, algum tipo de originalidade. Mas de verdade mesmo? Isso é algo que a gente não pensa tanto. As coisas apenas fluem e isso reflete como estamos no momento que essas músicas nascem. São, realmente, reflexos de como estamos naquele momento – impressões no tempo em forma de música!
Confira: