Atualizado em: abril 9, 2025 às 6:43 pm
Por Guilherme Costa
A cena underground norte-americana é imensa e cada dia pode reservar uma nova descoberta. Em um desses dias aleatórios (em 2018, eu acho), eu conheci o trio californiano L.A. Witch. Formado por Sade Sanchez (vocal e guitarra), Irita Pai (baixo) e Ellie English (bateria), a banda não chamou a minha atenção de cara; somente no segundo álbum, “Play With Fire”, com o single “I Wanna Loose” que o Garage Rock arrastado e cheio de reverb caiu no meu gosto.
O ‘Garage Rock arrastado e cheio de reverb’, a propósito, era o grande diferencial do trio em relação à tantas bandas novas de Pós Punk e Shoegaze que surgem a cada dia. Mas para o seu terceiro álbum, “DOGGOD”, a banda decidiu que o próximo passo seria sair (quase) totalmente das suas características mais marcantes!
Lançado na última sexta-feira (4), via Suicide Squeeze Records, o terceiro álbum de estúdio da L.A. Witch é uma versão mais crua de Sade, Irita e Ellie, mas não menos dissonante. “Icicle”, faixa que abre o álbum, é um daqueles hinos Pós Punk que é capaz de tocar numa balada, quanto ser a trilha de uma cena super melancólica de um filme melancólico (“Revele as sombras/ Eu sempre soube que me seguiam/ Todas as sombras/ Deus, eu queria que você não pudesse ver”). “Kiss Me Deep” e “SOS” – esta última com toques de sintetizadores típicos do Xmal Deutschland – também seguem essa vibe obscura do gênero tão amado na década de oitenta (e nas posteriores).
O Pós Punk não é apenas uma sala em que o Siouxsie and The Banshees, Joy Division e o Smiths se encontram. Há outras bandas que, se não estiverem no mesmo lugar, estiveram ao seu lado, como o início do R.E.M.. E é aí que “Eyes of Love” se encaixa; para mim, ela é a melhor música do álbum, construída por uma guitarra (ao mesmo tempo) simples e dinâmica da Sade, ao passo que o seu canto evoca algum tipo de nostalgia ácida.
“777”, a faixa título e “Lost at Sea” é a garantia de que o espírito do Garage Rock não fuja das bruxas de Los Angeles. “Lost at Sea”, aliás, é a mais distinta do álbum, com a sua paisagem psicodélica e onírica. Sanchez canta os versos “Sem você eu me sinto perdido no mar”, que se conecta com a explicação do conceito do álbum:
“Sinto-me como uma espécie de servo ou escravo do amor. Há uma disposição para morrer por amor no processo de servi-lo, sofrer por ele ou buscá-lo… exatamente como um cão servo leal e devoto faria.”
Mudando a roupagem, mas não o estilo, o L.A Witch seguiu mostrando o porquê é um dos grandes nomes da cena alternativa dos Estados Unidos. Enquanto a crueza do Pós Punk possa parecer estranha para os fãs de longa data, o estilo inconfundível de canto da Sade e a forte base construída por Irita e Ellie seguem em sua plenitude.