Atualizado em: dezembro 1, 2024 às 7:55 pm
Por Guilherme Costa
Escrever para o Um Outro Lado da Música me fez conhecer muitas bandas e artistas. Alguns (muitos) me apaixonei, como foi o caso do Maximo Park. Formado em Newcastle, o disco de estreia da banda “A Certain Trigger” tem num dos singles a faixa “Apply Some Pressure” – a faixa que me fez conhecer o grupo. Lembro do riff de abertura, o refrão pouco convencional e o apelo pop – aquele, em que você ouve uma música e automaticamente começa a dançar.
Três anos depois eu, incrivelmente, perdi o lançamento do disco “Nature Always Wins”, e me impressionei com o projeto do vocalista Paul Smith, Unthank:Smith (que esteve entre Os Melhores do Ano de 2023 do Um Outro Lado da Música), e fiquei atento quando o Maximo lançou o single “Your Own Worst Enemy”.
E, antes de comentar sobre o álbum, eu quero compartilhar um sentimento. Há uma certa tensão quando você conhece uma banda/ artista, se apaixona por ele, e fica temeroso quanto a qualidade de um novo lançamento. Felizmente, com o Maximo Park as expectativas foram cumpridas já na segunda prévia do álbum.
Agora formado por Paul Smith (vocal), Duncan Lloyd (guitarra) e Tom English (bateria), além dos músicos não oficiais Jemma Freese (teclado) e Andrew Lowther (baixo), “Stream of Life” é o reflexo das visões de suas vidas (seja olhando para si, ou olhando ao seu entorno), realçado pela primeira gravação 100% presencial após a pandemia da Covid-19:
Sempre tentamos documentar o mundo ao nosso redor em cada fase de nossas vidas, enquanto sutilmente empurramos a música para frente a cada vez – este disco dá continuidade a essa missão. Foi ótimo estar de volta ao estúdio depois de gravar remotamente da última vez. Trabalhar com Ben em Atlanta e Burke em Byker foi tão estimulante como sempre foi, e acho que capturamos essa energia. Tematicamente, o álbum cobre paixão, política e privilégio, entre outros tópicos.”
Gravado em Athens, a cidade do R.E.M., Geórgia, Estados Unidos, e produzido por Ben Allen, o oitavo álbum do trio britânico carrega, com extrema lealdade, a sua sonoridade clássica, com Paul Smith refletindo sobre a vida: “Aí vem aquela sensação horrível/ Você é seu pior inimigo”, canta Smith, enquanto Duncan Lloyd e a sua leal Rickenbacker ocupam os espaços deixados por Smith.
A viagem à Athens também rendeu uma parceria com a artista local Vanessa Briscoe Hay, no single “Dormant ‘Til Explosion”, lembrando que Smith sempre se dá bem com os seus duetos. A sequência é um outro som “típico Maximo Park”, “The End Can Be As Good As The Start”, passando a mensagem sobre “fé, solidariedade e relacionamentos sustentáveis diante dos obstáculos estruturais da sociedade”. Para além do seu som divertido, as letras do Maximo sempre foram importantes. Em “Stream of Life” não é diferente; inclusive o álbum encerra com “No Such Thing As A Society”, cujo título foi retirado duma contestável fala da controversa Margaret Thatcher.
“Armchair View”, entretanto, é um Folk com camadas eletrônicas, na faixa mais distinta do álbum. A faixa é a passagem para a segunda parte do álbum, que conta com o single promocional “Quiz Show Clue” – em que Smith canta “Eu não existo, e nem você, somos apenas uma nota de rodapé agora, uma pista de quiz show.”, e segue com a bela “Stream of Life”. A propósito, o nome do álbum foi inspirado no livro da brasileira Clarice Lispector, Água Viva.
Com pouco mais de vinte anos de carreira, o Maximo Park segue relevante e fiel ao seu eu. Se no novo álbum o grupo reflete sobre o cotidiano (que sempre gera bons temas no mundo da arte), então “Stream of Life” pode ser o meu reflexo enquanto um jovem apreciador da banda!