Atualizado em: dezembro 16, 2024 às 9:47 am

Por Guilherme Costa

No dia 4 de outubro saiu o segundo disco de estúdio da cantora e escritora Mel Duarte, “Colmeia”, de forma independente. O novo disco conta com poemas musicalizados do seu último livro “Colmeia: Poemas reunidos”, lançado em 2021 pela editora Philos. Diferentemente do seu álbum de estreia “Mormaço – Entre Outras Formas de Calor”, em que a poesia e a música se interligavam, (vide a faixa “Benigno Signo”) em “Colmeia” as duas artes são dividas: a primeira metade são de músicas, enquanto a segunda conta com Mel declamando os poemas.

Musicalmente o disco também soa diferente do seu antecessor. Aqui, sob a produção de Felipe Parra, o Hip Hop é o grande catalizador da força demonstrada no álbum; embora haja espaços para o Trap, Funk (o carioca) e o Samba/ Pagode.

“Escreva mulher, que não falhe o poder da sua palavra/ Escreva mulher, que não falhe o poder da sua palavra/ Uma mulher que escreve, ninguém cala/ Uma mulher que escreve, ninguém cala” E é com essa mensagem que Mel Duarte abre o disco, com uma base de Afrobeat, na faixa “Querem nos calar”. Extremamente incisiva e direta, o álbum carrega o DNA dos grandes do rap nacional com uma lírica tão rica quanto a produção de Parra (cujo trabalho solo é digno de menção!).

Falando sobre a luta diária do povo negro, os seus alicerces na religião e ancestralidade, racismo estrutural, e exaltação da sua cultura e raízes, Mel Duarte não só aponta o dedo para os seus algozes – como no Trap de “Fagulha” (“sem falar na nova onda antirracista que se movimenta pelo o que acontece na gringa, mas no Brasil finge que não vê” ) – como também usa da música para ser resiliente em “Não Desiste” (“não desiste negra, não desiste/ ainda que tente lhe calar/ por mais que queira esconder/ corre em tuas veia força Iorubá, axé, pra que possa prosseguir”), numa faixa em que o protagonismo dos beats são compartilhados com instrumentos de percussão.

Baseado no samba/ chorinho álbum encerra com a faixa “Menina Melanina”, no qual Mel Duarte mostra que, embora a luta esteja muito longe terminar, a auto celebração não pode ficar em segundo plano (“preta, pretinha, não ligam pro que dizem as pessoas/ preta, pretinha, só a cabeça pra colocar a coroa”).

“Colmeia” é uma atividade dupla entre curtir o som e se ligar na mensagem, e ser impactado com a sua bela e forte voz na parte das poesias declamadas. Escritora e musicista, Mel Duarte esbanja talento e sucesso no seu segundo álbum de estúdio.

Mel Duarte está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!