Atualizado em: dezembro 4, 2025 às 9:32 am

Por Guilherme Costa

Algumas bandas conseguem construir uma base sólida de fãs em pouco tempo. No caso dos australianos do Clamm, o trio conseguiu tal feito após lançar dois discos de inéditas e um EP. Portanto, era hora de experimentar! E o grupo assim fez com o disco “Serious Acts”, liberado no dia 30 de maio, via Meat Machine.

O terceiro álbum de inéditas do trio, formado por Jake Summers (guitarra e vocal), Miles Harding (bateria) e Stella Rennex (baixo), decidiu ampliar os elementos presentes no seu visceral punk rock; os reverbs, fuzz e intransigência sonora ganharam a companhia de camadas eletrônicas. E o recado foi dado logo no primeiro single promocional do disco, “And I Try”.

“Esta faixa foi um pouco um experimento para nós. Começamos colocando camadas de loops metálicos sintetizados e construímos organicamente a música a partir daí. Ela introduz uma direção sonora ligeiramente nova — tensa, mas espaçosa. Liricamente, ela se aprofunda em temas de identidade, transformação e introspecção, questionando como nos percebemos e nos apresentamos, e a extensão do controle que realmente temos sobre esse processo” Comentou o grupo na época do lançamento do single.

Repararam que Summers utilizou a palavra “tensão”? Pois bem, na resenha do disco publicada em julho, eu citei a atmosfera tensa, quase claustrofóbica, da primeira parte de “Serious Act”. E eu reafirmo. Summers, Harding e Rennex conseguiram criar um ambiente para um estado de alerta daquele segundo que antecede uma explosão. Tal sensação segue nas faixas “Problem Is” e “Bag I’m In”, tendo o ápice na potente e calamitosa “Blinded” — que merece uma atenção especial, porque não é um Punk Rock convencional.

Ligada no 220, a faixa é uma explosão do início ao fim, resultando numa catarse punk. O conteúdo lírico também acompanha a erupção conflituosa entre o sentimento de inércia e a raiva crescente diante das futilidades apresentadas pela mídia, enquanto o mundo queima: (“Ficar sentado distraído enquanto tudo queima /Um clima em crise, a hipocrisia vive/ Exceto pela cobertura da mídia de massa/ Estou preso em um ciclo de serviço que é alimentado pelo medo/ Lide, reúna seu povo e aguente firme, meu querido/ Menos, quanto menos você ouve, mais você ganha/ Quanto mais você ganha”).

Outra faixa que merece destaque, seja pela sonoridade ou pelos quase sete minutos de duração, é a quase faixa-título “More Serious Acts”. Ao contrário de “Blinded”, ela não é tão explosiva, contando com uma atmosfera mais claustrofóbica — impulsionada pelas camadas eletrônicas em looping — partindo de onde “And I Try” parou.

Para além das experimentações sonoras e atmosféricas, o Clamm fez o que sempre soube fazer: Punk Rock. Da vibe Garage Punk de “No Ideia” ao Punk tipo Dead Kennedy de “Bear The Brunt”, passando pela cadência de “Heavy Fines, Loss of License”, o trio australiano segue apontando o dedo indicador e o médio para os seus algozes — cujo encerramento é com a quase Heavy Metal “Pigs Don’t Read”.

A sonoridade do Clamm foi muito bem construída em seus dois discos de estúdio. Em “Serious Acts”, a sensação permanente de desagrado com o mundo ganhou outros contornos, ampliando os horizontes sonoros do grupo, sempre baseado no combo pulsante guitarra-baixo-bateria.

O Clamm está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!