Atualizado em: dezembro 16, 2025 às 8:41 am
Por Guilherme Costa
No ano de 2022, saiu o autointitulado disco de estreia do Escondite. Dois anos depois — entre o lançamento de um split com o Isla Del Sol —, após a liberação de três prévias (“Espiral”, “Animal Negro” e “Contrarresta”), a expectativa era que o segundo álbum do grupo, formado por Germán Muñoz (guitarra e vocal), Daniela Araya (sintetizador e vocal), Matías Bacigalupo (guitarra) e Raúl Guzmán (bateria), Sebastián Alfaro (baixo), saísse em 2024. Não saiu, mas a espera valeu a pena!
“La Quebrada” foi liberado no dia 30 de maio, via Sultan Discos, e mostrou que o quinteto chileno estava disposto a sofisticar e expandir os limites da sua sonoridade. O Rock Alternativo, com pitadas de Shoegaze e Noise Rock, ainda está ali, mas ao passo que “Entre Los Árboles” — faixa instrumental, carregada com diversas camadas de sintetizadores —, abre o disco, percebemos que a nova empreitada do grupo ganharia contornos ambiciosos.
O clima “espacial” segue na bela faixa “Gravedad”. Sendo introduzida por um belo sintetizador, daqueles que os fãs de Rock Progressivo amam, a faixa tem um nome bem sugestivo, já que ela inicia levitando (com os instrumentos num ritmo bastante cadenciado) e depois finca os pés no chão, a medida que a parte instrumental vai crescendo até explodir em sua parte final; dentro desta atmosfera, Germán Muñoz canta os versos “Sabe a verdade? Estou preso nesta Terra”.
Com a missão de criar paisagens através do seu som, o Escondite acerta em priorizar a parte instrumental, criando trilhas que evocam lugares comuns ou viagens em direção ao desconhecido — situações que podem resultar num mesmo destino. A parte lírica passa uma mensagem curta mas direta, como as argentinas do Fin del Mundo fizeram em “Hicimos Crecer Un Bosque”. “Espiral” é um bom exemplo dessa construção, com a sua curta letra (“Hoje estou deixando a cidade/ Hoje estou entrando em espiral descendente”) entrando em conflito com a introdução serena — melancólica, também — e a crescente raiva que vai tomando conta dos instrumentos, até (novamente) explodir em outra amostra dissonante da dupla de guitarras.
É como o grupo descreveu em sua página no Bandcamp: “Dez músicas que falam de desvios. Caminhos que se ramificam entre árvores e vozes que não terminam em ir embora. A discoteca, como aquele objeto que não se identifica, escapou por uma simples vista e se fundiu na paisagem. Como se a música estivesse aqui desde sempre”.
Mesmo que a tônica do álbum seja sobre utilizar o máximo de profundidade que os seus instrumentos consigam criar, atingindo uma atmosfera expansionista, há faixas que iniciam da onde o álbum de estreia parou. No meio de tantas faixas oníricas e atmosféricas, “Objeto Raro” — que conta com a participação da banda Adelaia —, “Animal Negro” e “Contrarresta”, dentro das suas propostas, são mais orgânicas, sem muita presença de camadas de synths; “Animal Negro”, aliás, está na linha que separa o Punk do Noise Rock.
Com grande influência do Rock Alternativo da década de 90 (incluí aí, o Shoegaze e Slowcore), “La Quebrada” não se atém a reproduzir o que os seus ídolos fizeram. Pelo contrário! Germán, Daniela, Matías, Raúl Guzmán (bateria) e Sebastián, pegaram tais influências e transportaram para uma viagem em direção a si — como num reencontro ou desafio consigo mesmo.
Há um certo tom misterioso em alguma das faixas do disco, como na faixa-título (que conta com a participação de Inmontauk, projeto do músico Ismael Palma) que termina com os versos “Sigo o desfiladeiro, caminho em direção às colinas/ Sigo o desfiladeiro, caminho entre os mortos”. E o que é mais misterioso do que a própria vida? É o que os chilenos cantam!
O Escondite está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!