Atualizado em: dezembro 2, 2025 às 10:19 am

Por Guilherme Costa

Integrante principal do Young Fresh Fellows, o multi-instrumentista Scott McCaughey criou o Minus 5 com o intuito de apenas ter um projeto paralelo para chamar de si. Para a nossa felicidade, o resultado não seguiu a ideia inicial e a banda se tornou o seu empreendimento principal a partir da década de 90. Sempre ao lado do guitarrista do R.E.M., Peter Buck, com o qual dividiu os palcos do lendário grupo de Atenas e em tantos outros grandes projetos nos últimos anos (nunca vou deixar de citar efusivamente o Filthy Friends, No Ones e o Baseball Project), o Minus 5 chegou ao seu décimo sexto disco de inéditas neste ano, ao lançar “Oar On, Penelope!”, via Yep Roc Records, no dia 30 de maio.

Sendo antecedido por um disco de natal (“Dear December”), um álbum com tons experimentais — criado durante a recuperação de um AVC que McCaughey sofreu em 2017 — (“Stroke Manor”) e uma coleção, em versões Power Pop, de algumas músicas do Neil Young (“Calling Cortez”), o novo disco do Minus 5 causa uma certa ruptura ao apresentar guitarras fortes e dissonantes aliadas a uma base sólida, num grande espírito Punk Rock (o disco foi mixado por Ed Stasium (Ramones, Motörhead, The Smithereens)).

O espírito Punk, no entanto, é uma das camadas presentes do registro, que também passeia pelo College e Indie Rock e o Power Pop — este, sim, a grande assinatura sonora do Minus 5. Com Kurt Bloch (guitarra solo), Peter Buck (baixo), Linda Pitmon (bateria) e Debbi Peterson (backing vocal), completando o time, o disco é iniciado com a faixa “Words & Birds”, em que McCaughey grita nos primeiro versos “Eles podem voar, é verdade/ Mas isso não é tudo o que eles podem fazer”, mostrando que as guitarras comandariam o álbum. A sequência (“Death the Bludgeoner”) é iniciada com a bateria de Pitmon, que é destaque durante os 37 minutos do álbum, e logo cai para um show de riffs de McCaughey e Bloch (responsável por um visceral solo); tantos destaques em uma única faixa, sintetizando o entrosamento do quinteto — há também os vocais de apoio de Peterson (baterista e vocalista do Bangles).

Duas faixas que se sobressaem no álbum (por serem as minhas favoritas) é “Let The Rope Hold, Cassia Lee” e “The Garden of Arden”. Se a primeira tem uma veia psicodélica, guiados por um órgão, bem… psicodélico, e soa como uma banda punk tentando fazer uma balada (embora a guitarra de Bloch garanta uma certa “sujeira” na faixa), a segunda é uma boa amostra do que pode se definir como College Rock, numa sonoridade direta e crua; ela é impulsionada pelo refrão não muito convencional, com o apoio da voz de Debbi Peterson (The Bangles).

Embora, a grosso modo, o Minus 5 seja uma banda de Rock Alternativo, baladas (ou baladinhas) são uma constante na discografia do grupo, desde “Cross Every Line” aos cantos natalinos presentes em “Dear December”, entre outros exemplos que eu poderia citar. Passado a estridência da primeira de “Oar On, Penelope!”, a segunda metade é marcada pelo uso das melodias sutis de faixas, como na agridoce “Last Hotel” e “Bison Queen”, cujo protagonismo é tomado por um piano melancólico. Baladas, entretanto, não são apenas músicas para dançar juntos ou se lamentar da vida cruel que nos assola. Elas são sinônimos de mares calmos, mesmo que haja algo prestes a emergir desde a sua profundeza. E é aí que “Falling Like Jets” e “Sharktooth” habitam: ambas são tranquilas, mas transmitem a sensação de que algo pode mudar de uma hora para a outra.

Com uma formação rotativa, à exceção de McCaughey e Buck, o time recrutado para o décimo sexto disco completo do Minus 5 é uma grande reunião de veteranos do rock norte-americano. Com carreiras consolidadas, o exercício de fazer e pensar música já não parte da premissa de fazer um grande sucesso comercial (vendas de discos nem devem mais ser citadas), e, sim, de uma grande celebração à arte. O álbum soa desta forma, quando “Burgundy Suit” e “Blow in My Bag” são apresentadas; elas são músicas “descompromissadas” a fim de agradecer os seus ídolos, numa grande jam!

Para além da formação do Minus 5, “Oar On, Penelope!” também é o resultado da força criativa de Scott McCaughey (e de vida, uma vez que o AVC aparentemente foi superado). Se, por aqui, temos nomes que representam o espírito do underground, lá nos EUA McCaughey certamente está entre as pessoas que inspiram — direta ou indiretamente — gerações a pegarem o seu instrumento e fazer a música que te faz bem, sem pensar (primariamente) em sucessos comerciais.

O Minus 5 está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!