Atualizado em: novembro 26, 2025 às 7:22 am

Por: Arthur Coelho

Uma das notícias mais empolgantes de 2025 no mundo da música alternativa foi o retorno oficial da banda de post-hardcore/metalcore Vanna. Formado em Boston, Estados Unidos, o grupo estreou com o magnífico EP “The Search Party Never Came” (2006), apresentando um som cru, pesado e profundamente influenciado pelo screamo. Em 2017, um ano após o lançamento de seu sexto disco de estúdio, “All Hell” — que inclusive merece um texto dedicado — o grupo entrou em um hiato de quase dez anos que só chegou ao fim no início deste ano.

Mas, o Vanna está oficialmente de volta e conta com sua formação original: Chris Preece (vocais), Evan Pharmakis (guitarra e vocais), Brandon Davis (bateria), Shawn Marquis (baixo) e Nicholas Lambert (guitarra). A mesma equipe que gravou “The Search Party Never Came” retorna agora com um novo EP: “Time Is Violence”, lançado em setembro pela Inspirit Records. O compilado traz quatro faixas e funciona como uma extensão sonora do já citado “All Hell” (2016), colocando o quinteto em seu equilíbrio característico entre metalcore e post-hardcore — uma identidade que sempre diferenciou o grupo dentro da cena.

O Vanna soa original, distante de bandas que ainda se apoiam excessivamente no legado de Sempiternal, do Bring Me the Horizon, ou nas já desgastadas fórmulas do metalcore. Com eles, tudo é diferente, assim como já era dez anos atrás. Embora tenham ficado tanto tempo afastados, ao ouvir “Time Is Violence” a impressão é justamente a oposta: parece que nunca pararam e continuam evoluindo. O novo EP também mantém a agressividade que sempre marcou a banda — tanto na sonoridade quanto na temática, conforme os títulos deixam claro. Aqui, o quinteto entrega um som direto, denso e poderoso, sem abrir mão da energia que sempre moveu o post-hardcore/metalcore.

A abertura, “Nails”, que inclusive ganhou videoclipe, sintetiza bem essas características. A faixa inicia com força máxima e só desacelera no refrão, com mudanças vocais e variações de riffs, enquanto os pedais duplos de Brandon Davis permanecem constantes. O tempo também é violência, porque fere e angustia enquanto passa — algo reforçado pelo Vanna ao inverter a máxima de que “o tempo cura todas as feridas”.

Time is violence 
Always too much 
And never enough 
Is it enough

(O tempo é violência /Sempre demais /E nunca o suficiente /Será o bastante?)

Com essa abertura pessimista, “This Melancholy” chega carregada de assombrações e traz uma das letras mais intensas do EP, evocando até a cor cinza como símbolo de apatia emocional:

I’m on a war path now 
Burn in 
Burn out 
And I’m my own enemy 
I’ve been dreaming I was set free 
I’ve been dreaming 
I’ve been dreaming 
From this fucking grey machine

(Estou em um caminho de guerra agora /Queimar por dentro /Queimar por fora /E eu sou meu próprio inimigo /Tenho sonhado que fui libertado /Tenho sonhado /Tenho sonhado / Desta maldita máquina cinza)

“Quiet Place”, lançada como single em fevereiro, engana pelo título: está longe de qualquer calmaria. A faixa traz o quinteto transformando raiva em música, dando vida literal aos “demônios internos” e se aproximando dos momentos mais brutais de breakdown. No encerramento, o grupo de Boston ainda surpreende com “Creep Year”, faixa mais inclinada ao hardcore, novamente impulsionada pela bateria energética de Brandon ao lado da combinação belo/feio expressa pela dualidade vocal de Evan e Chris.

“Time Is Violence” chegou meio de surpresa, sem grande divulgação — como o próprio guitarrista Nicholas Lambert comentou nas redes —, mas cumpriu o essencial: selou o retorno de um dos grandes nomes do post-hardcore moderno, entregando um compilado que reafirma a identidade do Vanna: intenso, pesado e cheio de energia.

O Vanna está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!