Atualizado em: novembro 25, 2025 às 10:06 am
Por: Arthur Coelho
“Animais” é o EP de estreia da banda goiana Vento Cobre, que, mesmo em apenas cinco faixas, consegue demonstrar um misto de emoções e sentimentos que fazem parte do ser – seja ele humano ou animal. A banda formada por Arthur Costa (guitarra e vocal), Ana Laura (baixo), Victor Hugo (bateria) e Vinícius Lopes (guitarra e vocal) debutou no ano passado com “Vida de Cão” – single que certamente poderia estar no compilado – e retornou no primeiro dia do mês de abril com uma extensão natural de seu cartão de visitas.
E o que podemos falar dessa primeira impressão é que ela é digna de reconhecimento pela criatividade na hora de criar novas faixas, por ir além do indie rock convencional e combinar influências mais ousadas – como a psicodelia, a MPB e elementos do Trip Rock. São muitos os gêneros combinados pelo quarteto na tentativa de representar parte das infinitas emoções que podemos sentir. A abertura “Colmeia” é um caso à parte quanto a isso: um looping instigante, misterioso e com certo charme de duvida. Será que o que vem a seguir segue a mesma pegada?
A resposta é não. “Contínuo” quebra o mistério com a beleza de seus acordes numa abertura de vozes que certamente carrega a representação do amor em sua letra divida pela poesia e pela rima: “Caio nesta areia pálido que me queima, mas me recuso a parar/Canto dessa vida mágica que me ceifa, mas eu vivo pra amar”.
Tudo isso abre caminho para que “Epifania” mude novamente os rumos. O instrumental, que antes soava como uma aventura ondulada, agora é mais mágico, selando o belo casamento de vozes entre Arthur e Vinícius. A faixa reflete a sinceridade de se sentir despido — não de forma literal, mas como metáfora ao encontro da calmaria em um lugar onde nenhuma máscara social é mais necessária. Seria essa a epifania do mundo animal?
Não sabemos. Mas, certamente podemos encontrar alguns desses devaneios em “Estado Mental”, canção que começa de forma suave e vai crescendo aos poucos com uma beleza transcendental , enquanto as guitarras vão subindo o volume progressivamente e as vozes novamente se mesclando. Aqui, o Vento Cobra mostra o auge de sua psicodelia ao abrir espaços para a experimentação: guitarras em caminhos imprevisíveis e intermináveis, sustentadas pela bateria e pelo baixo mesmo após o fim das letras sobre ansiedade social.
“Eu quero ser eu”
“Quero viver em meia fase, viver em meia fase, sem ter medo de apagar”
O nome do EP não é gratuito. A vida animal é invocada diversas vezes em comparações difusas com situações humanas e sociais que esses seres, supostamente, jamais compreenderiam. É no começo do fim — na faixa-título que encerra o compilado — que o grupo canta, de forma tranquila, sobre o desejo de ir além, de sentir a plena emoção de viver: “Animais atravessam paredes com seus rituais/Que me fazem ter sede de viver mais”
E é também nessa despedida que aparece o melhor de seu instrumental. Sob a liderança de linhas que flertam com o dreampop e com um tom atmosférico ainda bruto, “Animais” encerra o EP reforçando a repetição dos ciclos da vida — no anseio de se tornar constante, maior e sempre presente. Ou, como diz o grupo: imortal.
O Vento Cobre está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!