Atualizado em: maio 27, 2025 às 8:02 am
Por Guilherme Costa
Recentemente eu estava vendo um vídeo no YouTube (talvez no Amplifica) no qual o tema da discussão era a composição de músicas. Nos comentários, uma pessoa citou uma passagem em que o cantor Oswaldo Montenegro comentou que, como tudo já havia sido criado, o caminho para criar algo novo (ou próximo de algo novo) era a mistura de várias influências e sonoridades. É dentro deste conceito que os italianos do Messa estão inseridos.
Formado em 2004 por Sara Bianchin (vocais), Marco Zanin (guitarra e baixo), Alberto Piccolo (guitarra) e Rocco Toaldo (bateria), o grupo de Doom Metal que completou dez anos em 2024 tem em seu currículo quatro discos de estúdios. Sempre inquietos, o mais recente álbum de inéditas “The Spin”, lançado no dia 11 de abril via Metal Blade Records, é outra amostra não apenas da singularidade dos italianos como também salienta uma versatilidade sonora bastante distinta, no auto definido “Scarlet Doom”.
Embora o Messa tenha o seu próprio estilo (com o seu próprio nome), há influências reconhecíveis na sua promissora discografia: por lá, encontramos – além do Doom Metal – Prog Metal, Jazz, Black Metal, Stoner e etc. Em “The Spin”, a roupagem do rock gótico dos anos 80 (Sisters of Mercy e companhia) é o novo capítulo de todo o experimentalismo da jovem banda. As duas faixas que abrem o disco, “Void Meridian” e “At Race”, são inegavelmente Doom (ou Scarlet Doom), mas há aquele sentimento de algo mais palatável: bem, é a roupagem gótica/pós punk.
Não gostamos de nos repetir e tentamos constantemente encontrar uma nova linguagem para nos expressarmos – mantendo a nossa identidade. Desta vez, mergulhamos em um território que nunca havíamos explorado antes, que é a década de 1980. Sabemos que muitas bandas antes de nós se inspiraram naquela época, mas decidimos ser descuidados e nos safar. Principalmente porque nos envolvemos e questionamos o que fazemos. De qualquer forma, não fazemos parte da “cena obscura”. A influência deste disco remonta ao início do goth rock/dark wave, e não às emanações posteriores do gênero
O som também está mais polido, dando uma tonalidade moderna em “The Spin”, bem como os arranjos mais diretos. Com isso o Messa consegue, ao mesmo tempo, se aproximar e distanciar das suas influências, como nas faixas “Fire of The Roof” – o tipo de música criada para ser um hino – e “The Dress”, epopeia com pouco mais de oito minutos de duração que conta com uma bela passagem de trompete e uma progressão que flerta com o Prog e o Black Metal.
Com a base instrumental bem afiada e elaborada, o terreno está seguro para que Sara Bianchin possa soltar o seu vozeirão. Ela poderia facilmente estar numa banda de Symphonic Metal moderna, mas é na obscuridade do Scarlet Doom da banda que ela se encontra. A propósito, o novo álbum foi um desafio na parte lírica, já que as letras (assim como os arranjos) são mais diretos:
“Para este disco, abri mão de partes da minha própria sanidade. Eu me desgastei de tantas maneiras diferentes”, comentou a cantora que completou: “As letras tocam em vários tópicos ao longo do disco: destruir o ego, amor amaldiçoado impossível, desistir de si mesmo, expectativas dos outros, autossabotagem, ressurreição”.
Em seus três primeiros discos, o Messa se colocou com uma interessante banda de Doom Metal. Com o seu quarto álbum de inéditas, “The Spin”, o quarteto italiano conseguiu criar um ambiente que os permite caminhar entre tantos estilos – diferentemente do nichado Doom – que até faixas mais pesadas (“Reveal”) se tornam palatáveis. A inquietação do Messa os levam para uma evolução constante que certamente renderá grandes frutos.