Atualizado em: outubro 27, 2025 às 7:46 am

Por Guilherme Costa

Desde que eu criei o perfil do Um Outro Lado da Música no Instagram (deixando de ser um despretensioso podcast), eu passei a conhecer diversos grupos do Chile. Entre tantos (excelentes) artistas do país sul-americano, alguns destaques vão para o Columpios Al Suelo, Chini.png, Virco, Escondite, Laurela e Dolorio & Los Tunantes; todos, dentro das suas respectivas propostas — que vão do Shoegaze, Power Pop, Folk, Post Punk e Rock Alternativo —, criaram um grande ambiente no país, no que diz respeito a criação de projetos (ao menos, vendo daqui do Brasil).

O Niños del Cerro, atualmente formado por Simón Campusano (vocal e guitarra), Ignacio Castillo (guitarra), Felipe Villarrubia (baixo), José Mazurett (bateria) e Diego Antimán (teclado), é outro grupo chileno que eu conheci através do meu site e talvez seja o maior nome da cena Indie Rock do país. Com quatro discos de estúdio, o grupo construiu uma reputação notável em seu território e conseguiu conquistar outros países da América Latina.

Com pouco mais de dez anos de estrada, a sua discografia passou por diversos estilos dentro do rock: eles estrearam com um Indie Rock mais clássico (“Nonato Coo”), viraram o seu mundo de ponta cabeça para apresentar um som catártico e psicodélico em seu segundo álbum (“Lance”), apostaram num Dream Pop/ Shoegaze com muitas guitarras e sintetizadores (não tão presentes como um Beach House, por exemplo) em seu terceiro álbum (“Suave Pendiente”), e agora nos apresenta melodias suaves — ainda com ecos do Dream Pop do seu antecessor — e uma veia pop em seu novo disco.

“Alma Tadema” foi lançado no dia 10 de outubro, tendo três prévias liberadas (“Tembló”, “Canto al Mediodía” e “Seis de Enero”) a partir da metade do ano, que apresentaram muito bem a roupagem da nova empreitada do Niños. Entretanto, o álbum inicia de forma sorrateira com a faixa “Príapo (o Sísifo otra vez)” — que conta com a participação de El Príncipe Idiota — caminhando entre um rock de arena e o Noise Rock (cortesia da guitarra de Ignacio Castillo), com Campusano alternando entre vocais rasgados e suaves. A já citada “Tembló” dá sequência no álbum, começando a mostrar os traços suaves do álbum (com a tal veia pop), embora a parte instrumental contenha uma certa agitação; aliás, essa faixa é do tipo em que todos os instrumentos dividem o protagonismo: desde o dinamismo do bateria e o baixo, teclados sendo sutilmente marcado e as guitarras (quase) dissonantes.

Se havia traços dos álbuns anteriores na dobradinha que abre o disco, em “Canto al Mediodía” a “versão 2025 do Niños del Cerro” é revelada em sua plenitude. A faixa, que encontra a suavidade do início do Coldplay e Keane, cria paisagens prosaicas a medida que Campusano canta “Ontem eu estava desaparecido, saí para estender os lençóis brancos/ E me vi procurando calma entre as dobras/ Por que tanta pressa? Eu pergunto/ Pare, desta vez e ouça/ Algo está escondido lá”.

Há uma sensação de desaceleração na atmosfera do grupo, ao passo em que as faixas “Pieza Oscura (Para Martín)” e “Aluvión” se apresentam para o ouvinte. A primeira, é um Folk/ Pop, com o teclado de Antimán tomando o protagonismo da tranquila música, enquanto a segunda inicia sendo guiada pela guitarra dedilhada de Campusano, progredindo para um Dream Pop agridoce que o conteúdo lírico sugere. É interessante pensar em como tais músicas são distintas dentro da discografia do grupo. Não que o Niños nunca tenha criado baladas (“Sulamita” está aí para mostrar o contrário), mas parece que não há mais a necessidade de colocar peso em suas criações mais acessíveis.

“Un Río”, como o nome facilmente pode sugerir, serve como passagem para a segunda parte do álbum, cuja sequência é embalada com toques de Shoegaze na balada “Buen Dormir”. Por falar em balada, “Vinca” é outra que os fãs do Keane iriam amar. Já “Narciso Negro” é a grande candidata para ser o próximo single (e hit) do disco, com as suas melodias pops; quando digo pop, é pensando na capacidade em que a faixa tem de cativar o ouvinte logo em sua primeira nota, sem contar o belo refrão, no qual Campusano canta sutilmente:O que ele pediu, o que ele se cansou/ Que eu arruinei, que eu recusei uma explicação/ O que ele pediu, o que ele se cansou/ Queime ou arruíne, queime, me mate/ O que eu te pedi?/ Foi um desastre/ A noite cai, eu conto doze/ Desejo também não falta”.

Por fim, eu cito a faixa “Cada cosa en su lugar”, cujo início tem o tom onírico que o Escondite criou em seu recente álbum de inéditas (cuja resenha você pode ler aqui). Aliás, a faixa se aproxima do Soft Rock do Air com camadas etéreas de sintetizadores, deixando a “simplicidade” das outras músicas do álbum.

Alma Tadema” é um registro distinto na discografia do Niños del Cerro, sendo outro passo na consolidação de uma banda que está num seleto grupo de artistas que costumam lançar obras diferentes sem deixar a sua identidade de lado!