Atualizado em: maio 19, 2025 às 7:17 am

Por Arthur Coelho

Uma banda com raízes no Death Metal geralmente não é uma banda que dê para chamar de sentimental, mas os membros do Mastodon estão aí para provar o contrário.

Desde que o baterista Brann Dailor passou a contribuir de forma mais frequente com os vocais, o grupo de Atlanta ganhou uma maior sensibilidade em suas músicas e melodias criativas. Um exemplo disso é a faixa “Teardrinker”, um dos singles de seu último disco “Hushed and Grim” (2021), que é construída através de uma lírica pessoal da depressão e isolamento.

“Esta é uma coisa simples de guitarra em duas partes que eu criei em um acústico. Eu não sou o guitarrista mais talentoso, então a maior parte do que escrevo é bem simples – e então eu entrego para Bill (guitarrista do grupo) fazer a mágica acontecer. Escrevi isso em um momento em que não estava indo bem para mim. Eu estava em um lugar escuro. Na verdade, eu estava morando em um apartamento que não tinha sofá, nem TV – apenas um violão e uma cama. Eu estava sequestrando um pouco do serviço do meu telefone para tentar assistir a alguns programas no meu iPad. Foi um momento difícil, mas estou bem agora. Portanto, é uma grande música emocional, mas acabou sendo muito cativante”.

Brann Dailor em entrevista para a Apple Music.

Como resultado, “Teardrinker” aparece com uma letra profunda, tocante e cheia de angústias, por mais que o seu som de metal progressivo cheio de melodias (ao estilo rock de rádio) passe outra impressão. A guitarra abre a canção já se segurando pelo seu ápice de melodia, esperando pela épica virada de bateria que dá início a um viciante riff que passará a guiar a percussão seguinte.

“Within a bruised heart/ I’ll just say when/ Just one time before/It will come again

(Dentro de um coração machucado/ Eu apenas direi quando/ Apenas uma vez antes/ Que isso chegue novamente)”.

Brann traz uma figura que está atormentada por algo que está dentro de si. Na verdade, ele é atacado pelas suas próprias memórias, decepções e arrependimentos. Ele está atormentado pela necessidade de sempre revisitar o passado

“Little voice inside/Inside my head/ Tell me when it’s time to turn around again/ All appears to fade away!

(Uma pequena voz dentro/ Dentro da minha cabeça/ Me diz quando é hora de dar a volta novamente/ Tudo parece desaparecer!)”.

Já no refrão, não há mais qualquer realidade ou presente. O alter ego está preso em suas memórias dolorosas, em seu próprio desapontamento pessoal.

“I can see your face/ And I feel the pain/ And I feel the shame that I have let you down again

(Eu posso ver o seu rosto/ E posso sentir a dor/ E eu sinto a vergonha que eu tenho de ter te decepcionado novamente)”.

Em meio à multidão, ele se encontra perdido em sua introspecção pensando em tudo o que gostaria de ter feito de forma diferente no passado.

“People everywhere/Not a drop to drink/Not a dare to think about the damage I have done

(Pessoas em todo lugar/Nenhuma gota para beber/Nem ouso pensar no dano que eu causei)”.

Uma nuvem de otimismo surge em sua mente. No fundo, ele sabe que só depende de si mesmo. E talvez essa seja a pior parte:

“Try to give up what weighs/ What weighs you down/ The only control you have/Is all your own

(Tente desistir do que pesa/ Do que te coloca pra baixo/ O único controle que você tem/ É todo sobre si mesmo)”

Ele tenta reviver aquele período, aquela cena, aquela memória. Tenta encontrar algo que possa lhe dar uma desculpa, um perdão. Mas não há solução, a decepção pessoal é mais forte….e lá vamos novamente entrar em desespero.

“Do I fit the pieces/ Together again/ Or do I leave them lying on the floor?/ All appears to fade away!

(Eu encaixo as peças juntas novamente ou eu as deixo atiradas no chão?/ Tudo parece desaparecer!)”.

Depois do repetido refrão, o baixista e vocalista Troy entra com sua voz forte em uma ponte que encarna o próprio subconsciente do nosso personagem, cantando cada palavra de forma bem destacada:

“Leaving you behind/ Is the hardest thing I’ve done/ Asking where did I go wrong?/ I wonder what all of this makes

(Deixar você para trás/ É a coisa mais difícil que eu já fiz/ Me pergunto: onde foi que eu errei? Eu fico pensando o motivo de tudo isso)“.

“Does fortune favor the bold?/ I only know that leaving you/ Was the hardest thing/ To cut and run

(A sorte favorece os destemidos?/ Eu apenas sei que deixar você para trás foi a coisa mais difícil em dar um fim nisso e sair correndo)”.

Um solo de baixo extremamente depressivo dá um toque extra à melodia da música, que ainda mostraria toda a virtude técnica do grupo em um intenso momento progressiva de solo de guitarra e intensa virada.

“I can see your face/ And I feel the pain/ And I feel the shame that I have let you down again/ People everywhere/ Not a drop to drink/ Not a dare to think about the damage I have done

(Eu posso ver o seu rosto/ E posso sentir a dor/ E eu sinto a vergonha que eu tenho de ter te decepcionado novamente Pessoas em todo lugar/ Nenhuma gota para beber/ Nem ouso pensar no dano que eu causei)”.

“Teardrinker” é uma canção extremamente melancólica e sem qualquer final feliz ou lição de moral. É um retrato de uma luta interna que adoece o coração ao levar sua própria moralidade a um perverso julgamento dentro de sua mente.