Atualizado em: abril 29, 2025 às 4:40 pm

Por Arthur Coelho

Placebo e o misterioso amor de James

James é uma pessoa bela, sincera, de comportamento puro, praticamente um anjo. Porém, também é alguém que não pode ser acordado. Mas, afinal, quem é essa pessoa de fato? Todo mundo é James….ou melhor, todo mundo tem alguém para chamar de James.

Quando perguntado sobre essa misteriosa figura, o vocalista e guitarrista Brian Molko respondeu de forma retórica: “Quem é James para você? E James é mesmo um homem? Essas são perguntas que não vou responder, essas são perguntas que quero que as pessoas se perguntem”.

“Eu quero que cada pessoa que se importe o suficiente para ouvir o disco encontre sua própria história”. Comentou Molko para a NME.

Debutando com um intenso rock alternativo, o Placebo sempre demonstrou certa inclinação para a música mais pop, o que de fato foi acontecendo a cada novo lançamento da banda.

Seu último disco, “Never Let Me Go” (2022), é o auge dessa sonoridade, mostrando toda a força de seu pop rock com elementos experimentais e as sexuais, amorosas e carentes letras que o grupo escreve desde sempre.

“Beautiful James”, que se tornou no maior sucesso do álbum, une todos esses tópicos com a adição de um misterioso amor que é capaz de fazer qualquer pessoa se entregar completamente. Sua melodia abre com um dançante e belo som de teclado inspirado na clássica “Jump”, do Van Halen, segundo próprias palavras do líder da banda em declaração à Centre :

Musicalmente, é muito interessante porque quando estávamos em nosso estúdio e mixando “Beautiful James”, ocorreu-me que fazia uns oito anos desde que lançamos um single. E então, por algum motivo, lembrei-me de uma banda americana que estava em uma grande banda de rock nos Estados Unidos e depois foi embora por um tempo nos anos 80 e então em 1984 voltou com esse grande sucesso global chamado ‘Jump’, e essa banda era o Van Halen. E então todos os fãs do Van Halen ficaram completamente enojados e então todos que não eram fãs do Van Halen, ouviram “Jump” e de repente se tornaram fãs do Van Halen. E me ocorreu que eles eram meio que, você sabe, similaridades de carreira entre nós e o Van Halen naquele momento, você sabe, e que talvez “Beautiful James” fosse nosso “Jump”. E então eu voltei e ouvi ‘Jump’ no dia seguinte pela primeira vez em cerca de 30 anos, e é exatamente o mesmo som de teclado. O som do teclado é idêntico

Mas o que não foi inspirado em outro artista que não fosse o próprio Placebo são os primeiros versos da canção, fazendo referência ao próprio nome de seu disco ao esbanjar toda a paixão por alguém que lhe faz se sentir vivo.

“Bring me back to life / Never let me go

(Me traga de volta à vida/ Nunca me deixe ir)”

Sendo também essa pessoa aquela que se confia para atravessar por todos os momentos ruins da vida, enfrentando uma literal guerra de problemas que podem ser causados por esse tipo de amor ou por terceiros.

“Your troubles and your hard strife/ I saw them / Take me by the hand/ As we cross through battlefields

(Seus problemas e seus difíceis conflitos/ Eu os vi/ Pegue-me pela mão enquanto nós atravessamos os campos de batalha)”

Esse amor é inexplicável e qualquer tentativa de racionalização seria falha, mesmo para quem está sentindo. Apenas as duas pessoas amantes sabem o que é sentir aquilo e o como é estar daquela forma, mesmo que não saibam como descrever em exatas palavras.

“Nobody understands/ ‘Cause there’s nobody at the Wheel

(Ninguém compreende/Porque não há ninguém no volante)”

E nosso personagem (que pode ser você mesmo) sente toda a vontade de manter o seu amor fora de todo perigo alheio. O refrão do placebo é outra forma de se falar que quer guardar alguém num potinho para proteger de todos os males do mundo.

“Beautiful James/I don’t wanna wake you

(Belo James, eu não quero te acordar)”

Essa frase também materializa a cinematográfica e amorosa cena onde se admira a amada pessoa dormindo, pois aquilo também simboliza um momento de encantamento para si, como se estivesse frente a um anjo ou algo divino.

“Beautiful James/I don’t wanna wake you

(Belo James, eu não quero te acordar)”

A melodia permanece destacando a batida dupla na caixa da bateria e a admiração por James retorna em responsabilidade de seus ingênuos olhos, que é justamente o motivo do convencimento de nosso personagem permanecer naquela cama em completo estado de admiração e adoração.

“Everybody lies/ One hundred times a Day/ The silence in your hard eyes/ Is far too rare to give away/ And it’s exactly why I stay

(Todo mundo mente/ cem vezes por dia/ O silêncio de seus olhos pessimistas/É muito raro para se desperdiçar/ E é exatamente por isso que eu fico)”

E dessa vez o refrão retorna com um angelical backing vocal reforçando os últimos versos.

“Beautiful James/I don’t wanna wake you

(Belo James, eu não quero te acordar)”

Apesar da vontade de proteger, dar liberdade é também um ato de amor. Talvez não dê para guardar alguém em um potinho, mas ainda dá para segurar suas mãos na hora de enfrentar um campo minado.

“Though I may have to/I may have to/I may have to

(Embora eu possa ter que fazer isso/ Pode ser que eu precise/ Pode ser que eu precise)”

“Beautiful James, (Don’t wanna wake you), I don’t wanna wake you

(Belo James, eu não quero te acordar)”

A canção do Placebo é sobre amor. Não sobre um amor, mas sobre o amor. Sobre sua universalidade que apenas poderia existir caso não fosse dedicada a alguém em específico e nem especificado sobre suas características físicas ou acerca do tipo de afetividade.

“Beautiful James” foi uma das músicas cujo título veio da minha lista interminável de títulos de músicas que eu meio que escrevi. E quando você escolhe uma música como “Beautiful James”, ela não pode ser sobre uma piscina ou as músicas sempre serão sobre uma pessoa, mas eu não queria, de novo, eu não queria contar às pessoas sobre o que era, eu queria que as pessoas encontrassem seu próprio James e encontrassem conforto em sua própria história dentro disso. Realmente não importa para mim qual gênero ou sexualidade as pessoas que habitam as músicas são, eu acho que é importante para cada pessoa se encontrar nesse tipo de canção de amor moderna, que é mais do que apenas amor, é sobre segurança e, você sabe, conexão de alma.