Atualizado em: agosto 5, 2025 às 7:36 am

Por Arthur Coelho

A arte cumpre um papel que vai muito além do entretenimento na sociedade. Ela é capaz de educar, confortar, provocar e também de curar, como uma técnica medicinal.

E quem fala mais sobre isso é o quarteto de hardcore melódico e post-hardcore dos Estados Unidos que faz parte do Thrice, mais especificamente quando falamos de um dos maiores sucessos de sua carreira.

“The Artist In The Ambulance” é até hoje música obrigatória no repertório da banda e uma das referências em sua discografia, tanto é que também dá nome ao terceiro álbum (2003) lançado por eles.

“Late night, brakes lock, hear the tires squeal / Red light, can’t stop, so I spin the wheel / My world goes black before I (Tarde da noite, o freio trava, escuto o guincho dos pneus/Luz vermelha, não dá pra parar, então eu giro o volante/Meu mundo fica preto antes que eu)”

“Feel an angel lift me up and I open bloodshot eyes/ Into fluorescent White/ They flip the siren, hit the lights/ Close the doors, and I am gone (Eu sinto um anjo me levantar e abro meus olhos sangrando/Em branco fluorescente/Eles ligam a sirene, acendem a luz/Fecham a porta, e aqui vou eu)”

A faixa inicia descrevendo um acidente de forma teatral e coloca o ouvinte para acompanhar o personagem acidentado em primeira pessoa. Quando o riff entra em cena, os sentimentos físicos do narrador dão espaço para uma angústia existencial de vida ou morte:

“Now I lay here owing my life/ To a stranger, and I realize/That empty words are not enough/ I’m left here with the question of just/ What have I to show except/ The promises I never kept? (Agora estou aqui deitado confiando minha vida a um estranho, e eu percebo/Que palavras vazia não são suficientes/Eu sou deixado aqui com a questão/ O que eu tenho a mostrar exceto as promessas que eu nunca cumpro?)”

“I lie here shaking on this bed/Under the weight of my regrets (Eu deito aqui tremendo nessa cama/Sobre o peso dos meus arrependimentos)”

Após o resgate e um momento contínuo de reflexão, o artista passa a se ver em crédito com algo ou alguém. Mas não vê isso como uma dívida pessoal, e sim com um dever em relação ao seu redor, numa espécie de solidariedade com os demais.

Tudo isso teve um significado maior. Assim como a equipe médica, ele também quer ajudar as pessoas; ele é um artista e sabe que também pode salvar vidas.

“And I hope, that I will never let you down/ And I know, that this can be more than just/ Flashing lights and sounds (E eu espero, que eu nunca te decepcione/E eu sei, que isso pode ser mais que/Luzes piscantes e sons)”

O vocalista e compositor Dustin Kensrue chegou a confirmar em um comentário no Reddit sua visão de que um paramédico tem o poder de consertar as pessoas fisicamente, enquanto o artista faz isso emocionalmente.

Além de revelar que a inspiração do tema veio de “Burn Collector: Collected Stories from One through Nine”, um compilado de fanzines punks criadas pelo músico e colunista musical Al Burian.

“Look around and you’ll see that at times It feels like no one really cares/ It gets me down, but I’m still gonna try to do What’s right/ I know that there’s a Difference between sleight of hand And giving everything you have (Olhe ao redor e você verá que às vezes/ Parece que ninguém se importa/ Isso me deixo pra baixo, mas eu ainda vou tentar faze o que é certo/ Eu sei que tem um diferença entre dar um pouco e dar tudo que você tem)”

Essa inspiração punk citada, se ainda não fosse clara pelo som e atitude do Thrice, se torna mais evidente nos trechos finais da canção, onde a mensagem é: só há mudança com atitude.

E isso serve tanto para os membros do grupo quanto para o personagem artista, que agora se sente inspirado pela atitude de seus salvadores.

“Rhetoric can’t raise the dead, I’m sick of always/ Talking, when there’s no change/ Rhetoric can’t raise the dead, I’m sick of empty words/ Let’s lead, and not follow (Retórica não pode levantar os mortos/ Eu estou cansado de sempre falar/ Quando não se tem mudança/ Retórica não pode levantar os mortos, Eu estou cansado de palavras vazias/ Vamos liderar e não seguir)”