Atualizado em: setembro 22, 2025 às 7:57 am

Por Guilherme Costa

Entre 2015 e 2016 o Tierramystica passou por uma grande reformulação, com apenas Ricardo ‘Chileno’ e Fabiano Müller permanecendo no grupo. A então nova formação contava com ninguém menos que Ricardo Confessori na bateria e Fábio Laguna, nos teclados — como é possível conferir na entrevista que Müller deu ao canal Heavy Talk — pouco durou, e quase nada aconteceu nos anos seguintes.

Embora o grupo tenha lançado três singles (“Beyond the Cape of Storms”, Cosmovision” e “Raindancer”) após o seu hiato, foi apenas em 2024 que os fãs poderiam ter a certeza de que o retorno (pra valer) estava próximo, com a banda compartilhando fotos da gravação/produção do seu novo disco. Quando o grupo gaúcho lançou o single “Eldritch War”, em junho deste ano, não restava mais dúvidas: o Tierramystica estava de volta!

A volta do antigo time

Ricardo ‘Chileno’ Duran (backing vocals, ocarina, charango e violões) seguiu na formação, uma vez que ele é dono da marca, e recrutou os antigos e conhecidos membros do grupo, a saber, Gui Antonioli (voz), Alexandre Tellini (guitarra), Luciano Thumé (teclados) e Duca Gomes (bateria), além do novato Marcelo Caminha Filho (baixo), para a retomada do projeto — ainda em 2020.

O entrosamento, no entanto, não estava em dia, o que levou o quinteto a gravar os singles citados acima também para retomar química entre eles; como comentou o guitarrista Alexandre Tellini para o portal O Jardim Sonoro:

“Essas composições foram importantes para reaprendermos a ser uma banda. A partir de ‘Raindancer’, sentimos que estávamos prontos para um álbum completo”

Sonoridade clássica à plena forma

O Power Metal/ Metal Melódico brasileiro é recheado de grandes nomes. Dos gigantes Angra e Shaman, passando pelas bandas do “angraverso” (Almah, Hangar, Symbol, Noturnall), aos undergrounds e tão geniais quanto (Hibria, Vandroya, Armahda, entre outros), o estilo sempre foi profícuo em composições e qualidade técnica. Com os seus dois primeiros discos de estúdio, “A New Horizon” e “Heirs of The Sun”, o Tierramystica se colocou no mesmo patamar artístico dos grupos citados acima.

A sua nova empreitada, portanto, tinha duas missões: manter o nível do seu sucessor e se apresentar como um disco que apontaria para o presente e futuro, e não apenas como um trabalho de uma banda que decidiu voltar para fazer algum barulho (algo que tem ocorrido com mais frequência após o boom da “indústria da nostalgia”). A primeira missão o Tierramystica não conseguiu cumprir, porque o disco “Heirs of The Sun” é a sua obra imbatível até aqui. O seu “Temple of Shadows”. O lugar onde você encontra uma banda em sua plena capacidade técnica e criativa. Já a segunda missão, aí sim, foi tirada de letra, uma vez que a banda teve tempo para preparar o material.

“Trinity”, lançado no dia 12 de setembro, reúne todos os elementos que tornaram o Tierramystica uma banda única (algo cada vez mais difícil dentre do Folk e Power Metal). Após “Awakening”, interlude que abre o disco, a faixa “Chaski Way” — a primeira prévia do álbum — inicia o disco com um tom de familiaridade; porque era uma música já conhecida e porque é um Power Metal com elementos sinfônicos e com as flautas típicas de culturas latino-americanas, que em seu final muda o andamento para algo mais cadenciado e folk.

A primeira música revela que a voz de Gui Antonioli está tão perfeita como estava há quinze anos. Além dos seus grandes agudos, ele oferece sobriedade na faixa “Raindancer”, que tem um grande apelo comercial (para se tornar um single de divulgação); nela também encontramos um dos solos mais interessantes do disco, esbanjando técnica e feeling.

Baladas são algo bem comum na discografia da banda, inclusive sendo algumas das minhas favoritas (a saber, “Spiritual Song” e “Wide Open Wings”), e em “Trinity” elas são (muito bem) representadas por “Fly as One” — talvez a melhor faixa do álbum —, onde as guitarras cedem o lugar para linhas sutis e sofisticas de violão e os instrumentos de percussão tem maior destaque, e “Bedtime Stories”, que reforça o argumento de sobre o ponto alto do álbum estar nas baladas, com esta sendo uma das mais distintas do grupo, refletindo o amadurecimento dos seus integrantes!

“Eye of the Tribe” pende mais para o folk do que para o metal, enquanto “Death Whistle” e “Hearts on the Edge” encerram o álbum caminhando entre o metal tradicional e o folk metal, chegando ao consenso de que o álbum marca um retorno que não deverá ser pontual.

Olhar para o futuro

Na já citada entrevista para O Jardim Sonoro, Tellini também abordou sobre a visão do grupo a respeito do retorno da banda, comentando que suas músicas estavam mais objetivas: “hoje somos homens de 40 anos. Trabalhamos com consciência de mercado, sem margem para erros. Cada decisão errada custa tempo, dinheiro e, principalmente, expectativa”.

E de fato “Trinity” é mais enxuto e mais direto que os seus dois antecessores. O que podemos afirmar também é que o Power Metal arrojado que chamou a atenção do público em seus dois primeiros álbuns segue afiado, mesmo que haja um olhar mais pragmático em relação a sua arte. O Tierramystica voltou pavimentando o caminho para que não haja nenhum outro hiato de mais de uma década!