Atualizado em: outubro 3, 2025 às 6:37 pm
Por: Arthur Coelho
O Today is the Day é uma das bandas mais influentes do cenário alternativo do metal. O grupo estadunidense lança compilados desde os anos 90 e sempre inova com sua característica versatilidade e experimentação sonora comandada pelo frontman Steve Austin. Nesta sexta-feira (3), o projeto chegou ao seu décimo quarto disco de estúdio com “Never Give In”, lançado pela SuperNova Records.
A novidade conta com nove faixas inéditas em durações variadas que chegam a ultrapassar os seis minutos de música. A produção é rústica e claustrofóbica, assinada pelo próprio Steve, que também compôs todo o disco e se engajou em sua capa.
Quando falamos do Today is the Day, é simplesmente impossível enquadrar seu som dentro de um único gênero. No entanto, “Never Give In” certamente transita entre influências de sludge metal, art rock e experimentações eletrônicas em faixas específicas.
O trabalho é impregnado de escuridão, morbidez e ocultismo — mas não de forma gótica, e sim com um viés mais depressivo e pessimista. “Pain and Frustration”, por exemplo, incorpora esses elementos com uma dualidade vocal marcada por gritos desesperadores de dor por cima de partes faladas. “Psychic Wound” e “Intentional Psychological Warfare” também se alinham a essa proposta e são construídas de um modo que provoca desconforto psicológico.
“Never Give In” não é apenas obscuro — é também sujo. E não por letras ofensivas, mas pelo som em si.
“The Choice is Yours” expressa bem essa característica, com um sludge metal arrastado e denso. São camadas e mais camadas de sons distintos que disputam espaço com vocais desanimados e deliberadamente dissonantes, resultando em uma estética sonora propositalmente estranha e, por vezes, desconfortável.
Nesse sentido, “estranho” não é um adjetivo negativo para descrever o disco — ou a própria banda. Basta ouvir a melancolia da faixa autointitulada, que repete os versos “I can’t find it” intercalados com o título da música, em meio a ruídos, ou a abertura “Divide and Conquer”, que mistura efeitos e sintetizadores pouco usuais no metal.
O hino niilista “I Got Nothing'” também se destaca ao combinar momentos de metal com flertes ao darkwave mais cru dos anos 80, reafirmando que o Today is the Day sabe como poucos mesclar influências musicais (e antimusicais) das mais subversivas formas. Nesse contexto, “Secret Police”, a quinta faixa, é um dos grandes destaques, graças à ousada fusão de um metal crescente com um espírito jazzístico que inclui instrumentos de sopro — algo que pareceria improvável em qualquer outra banda.
E se todas essas mesclas já surpreendem, o encerramento de “Never Give In” vai além. “The Cleansing” é uma ode ao folk rock e conta com um apelo atmosférico que encerra os quase cinquenta minutos do disco mantendo o mesmo ar denso e depressivo que permeia a maioria das faixas de um álbum pessoal, estranho e fora do convencional.
“Never Give In” foi gravado por Steve Austin (vocais, guitarra e eletrônicos), com o apoio de Colin Frecknall (bateria), Tom Jack (baixo), Dave Brenner (vocais em “Secret Police”), Mac Gollehon (sopros em “Secret Police”) e Aaron Polk (bateria em “Psychic Wound”).