Atualizado em: setembro 17, 2025 às 8:57 am

A música é uma manifestação cultural e artística que consegue representar e extrair sentimentos ao mesmo tempo. O mais comum, é que grupos façam isso através de letras interpretativas que traduzem seus sentimentos ou pensamentos em uma nova mensagem. Mas, por outro lado, também temos aqueles que constroem sua arte através do silêncio vocal, aqui preenchido por diferentes ritmos instrumentais que mudam completamente a forma de se expressar.

Esse último caso é o que melhor representa o grupo paulistano E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, que completou mais de 10 anos de existência e é responsável por elevar os ritmos do rock alternativo para algo completamente diferente, beirando a novidade quando falamos de bandas presentes na mesma cena.

Representando o selo da Balaclava Records, a banda já teve sua experiência de tocar em um grande festival, o Lollapalooza 2019, além de abrir os shows em território nacional de Jerry Cantrell e Russian Circles, grupo de quem compartilham muitas similaridades sonoras.

Os brasileiros apresentaram em 2023 o EP “Linguagem”, o lançamento mais recente deles até o momento, que marca uma nova fase da carreira da banda longo nome. O compilado possui quatro faixas divididas em desiguais durações e pode ser considerado como um dos melhores trabalhos que eles já lançaram, além de responsável por trazer uma imensa curiosidade referente às novidades futuras do conjunto musical.

Ouça | E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante: "Linguagem" - Música Instantânea

A capa do EP é assinada pela gravurista Beatriz Carvalho – Reprodução: divulgação

Mesclando diferentes tons sentimentais, eles mostram que é possível também se sentir desconexo e desconfortável em um ambiente apenas ruidoso, como o que vem presente na abertura “Ausente”, tomada pela ventania digna de faixas perdidas em discos de shoegaze do My Bloody Valentine.

Assim como também se pode largar o espírito de paz e ser totalmente contagiado pela euforia de “Bruce Willis”. O famoso ator ganha sua homenagem em uma faixa que inicia em ritmo relaxante e cativante, em certa estrutura que poderia flertar com o midwest emo do American Football (sem seus vocais desleixados), e avança progressivamente em um ganho de volume e velocidade em partes agitadas.

Posteriormente, eles também mostrariam que a atmosfera sentida teria maiores contornos na música de número 3, “Oblívio”, que combina os potenciais das antecessoras com um espírito estranho e claustrofóbico que dura até um momento que a música é tomada pela liderança de batidas rítmicas na caixa da bateria.

Com exceção de “Bruce Willis”, as demais faixas se iniciam de forma misteriosa, com efeitos quase alienígenas nos sintetizadores. Poderia até ser dito que o real nome que esses toques causam é de algo Infamiliar, do quão não estamos acostumados, mas isso apenas seria repetir o título da faixa de encerramento.

Ultrapassando os oito minutos de duração, a música coloca o quarteto em seu lado mais distante e atmosférico do compilado, fazendo total jus às atribuições do estilo de post-rock, que visa desconstruir qualquer fórmula ou roteiro de como tirar um som no estilo.

Infamiliar” passa da introspecção para o oposto em questão de minutos e não deixa de soar de forma estranha em nenhum momento. Muito pelo contrário, até destaca tal característica em seus momentos crescentes de alternância delicada.

Ouvir sua construção progressiva é como se teletransportar para a caricata estranheza de um universo cinematográfico ambientado no espaço. Seja perdido no espaço-tempo de Interestelar ou no momento mais aventuroso de Uma Odisséia no Espaço.

A faixa encerra o EP “Linguagem” conta uma história de começo, meio e fim, que também poderia ser utilizada para justificar o nome do grupo. “Infamiliar” nos incentiva a navegar de forma concentrada no lado mais profundo da imaginação humana, alcançando a visão de um personagem em sua nave espacial olhando para aquele planeta que costumava ser sua casa, mas que hoje se tornou algo tão distante, pois não é mais familiar a ele.

A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante é um quarteto instrumental composto por Lucas Theodoro (guitarra e sintetizador), Luccas Villela (baixo), Luden Viana (guitarra e sintetizador) e Rafael Jonke (bateria).