Atualizado em: junho 4, 2025 às 8:37 am
Por Arthur Coelho
Os EPs musicais costumam ser esquecidos na galeria de muitos fãs e artistas, geralmente não tendo tanta atenção quanto os singles e sendo bem menos esperados quanto os álbuns. Ainda mais quando falamos da cena atual da música brasileira.
Mas esse não é bem o caso da Cidade Dormitório, banda sergipana fundada em meados de 2015 como resultado do encontro de estudantes da Universidade Federal de Sergipe em jams de rock alternativo. Entre sessões de covers do Pixies, Yves Deluc (guitarra e vocal), Lauro Francis Carvalho (baixo), Heder Nascimento (guitarra) e Fábio Aricawa (bateria e backing vocals) partiram para a produção autoral independente.
O debute deles ocorreu com o lançamento de alguns singles, mas o primeiro flerte com um maior público se deu em “Esperando o Pior”, EP de quatro faixas gravado nos estúdios Mojo (São Gonçalo, Rio de Janeiro) e DdB (São Paulo) entre abril e novembro de 2016, mas saindo oficialmente no dia 31 de janeiro de 2017 pelo selo Banana Records.

Arte da Capa: Flávio Antonini (flavio_antonini_art)
Apesar da curta duração de 18 minutos, a compilação serviu como um belo cartão de entrada, apresentando um som criativo que combina elementos do rock, blues, psicodélico e do lo-fi em uma pegada irônica e dramática.
“Setas Azuis” abre os trabalhos mostrando todas essas influências, assim como a adição do divertido teclado comandado pelo produtor Leo Airplane, que possui um papel nas faixas seguintes. As linhas de baixo marcam o destaque da canção ao lado de sua guitarra psicodélica e uma melodia vocal marcante em coro:
“E eu não vou negar/Que eu me sinto distante/Mas não muito longe e uma seta me guia até você/E eu não vou negar, eu me sinto distante/Mas não muito longe/E eu não vou negar”
O lado mais melancólico do EP é a deixa de “Agora Meu Coração É Um Lixeiro Azul Vazio Escroto”, a sincera canção que até hoje é o maior sucesso do quarteto. Uma curiosidade sobre o hit é que ele foi idealizado em um terminal de ônibus:
“Você magoou o meu coração/E agora no meu peito rola algo meio mau/Um pedaço de plástico pesado e azul/Depredando o meu miocárdio, tão sentimental/Agora o meu coração é um lixeiro azul, vazio, escroto”
A decepção fica para trás e a mistura de ansiedade com otimismo toma conta através da lenta balada “Semáforo Nervoso Autônomo”. Os poucos versos da canção são levados em um ritmo crescente do instrumental que destaca o marcante e carismático jeito do vocalista Yves Deluc se expressar (“Ansiedade é da cidade/Ansiedade em cada olhar/Ansiedade é da cidade, na cidade não tem luz/Que brilhe mais que o seu olhar”).
Efeitos estranhos tomam o final da canção e marcam a transição para a última delas, a bônus “Love Lo-Fi” tocada por Filipe Silva num simulador de baixo no celular com uma letra nonsense e descontraída com a soma de instrumentos de corda com uma flauta. O cantor principal do grupo definiu a faixa como um “improviso transcendental de pessoas famintas”.
“Love LoFi/ O abacaxi é uma mentira/ Tudo é uma mentira, meu coração é um/ Love LoFi/ Está aos pedaços/ Love LoFi/ Eu não posso comprar mais/ Nada/ Love LoFi/ Ali tem umas bistecas que estão assando”