Atualizado em: julho 2, 2025 às 7:54 am

Por Arthur Coelho

Gravar um disco ao vivo é para poucos, até porque nem todo grupo que se garante fora do estúdio. Agora, gravar um disco memorável ao vivo, com o mesmo potencial de seus grandes sucessos, é um feito que ainda menos bandas conseguiram fazer.

Para a sorte dos fãs de hardcore e post-hardcore, o Saosin existe e é um dos responsáveis por tal feito, reunindo seus hits, covers exclusivos, convidados e membros antigos em uma mesma gravação de show, que também foi uma comemoração de 20 anos do grupo.

O Garden Amphitheater, na Califórnia, estado em que a banda surgiu, se transformou em um templo para centenas de pessoas que tiveram o prazer de presenciar um intenso e longo setlist com 18 faixas que passaram da uma hora de duração.

Além de tocarem o EP “Translating The Name” na íntegra, o grupo também apresentou os maiores sucessos de seu primeiro disco autointitulado e de “Along The Shadow” (2016), que continua a ser o último lançamento deles em estúdio.

Infelizmente, o segundo disco ”In Search of Solid Ground” (2009) acabou ficando esquecido, mas isso não deu motivo para o público reclamar. Até porque, a line-up com Phil Sgrosso (guitarra), Beau Burchell (guitarra), Chris Sorenson(baixo) e Alex Rodriguez (bateria) contou não apenas com a presença de um, como de dois vocalistas.

Anthony Green e Cove Reber, os dois ótimos cantores que fizeram parte da história do Saosin, se uniram ao show em diferentes blocos, cada um cantando suas músicas com grande qualidade e mantendo o alto nível.

“Seu filho não tem mais 21 anos… Ele está chegando aos 40”.

A banda iniciou a apresentação com a dobradinha de sucesso que abre o debute: “It’s Far Better To Learn” e “Sleepers”, ambas cantadas por Cove. Ao final da segunda faixa, ele aproveitou para agradecer a energia do público e fazer um desabafo nostálgico: “Seu filho não tem mais 21 anos, ele está chegando aos 40. É difícil alcançar algumas dessas notas altas”.

Na emenda do hit “Voices”, ele ainda fez uma pausa para dizer o quão realizado se sente por fazer parte do Saosin nessa intensa comemoração e parte para os covers inéditos de Zero, do Smashing Pumpkins, e Pitiful (com gritos agressivos), dos suecos do Blindside.

Mesmo com sons bem distintos, ambos os grupos influenciaram o estilo do Saosin em períodos diferentes. O Blindside fez sucesso no final dos anos 90 com um de post-hardcore mesclado com elementos de Numetal serviu de inspiração de inspiração para o primeiro disco dos californianos, enquanto In Search of Solid Ground possui riffs que poderiam muito bem ter saído de um hit rock alternativo do Smashing Pumpkins.

O vocalista se despediu após “You’re Not Alone”, o grande sucesso comercial da banda, e passou o microfone para Anthony Green, mais uma vez agradecendo a oportunidade enquanto o público gritava por seu nome.

Enfrentando fantasmas do passado

Green possui tantas músicas no Saosin quanto Cove, mas não foi uma de suas autorais que abriu a segunda parte do show comemorativo.

O riff de “Seven” recomeçou a apresentação com uma versão acelerada e de maior duração do clássico do Sunny Day Real Estate, agora tocada pelo Saosin pela primeira vez em gravação. Ao final, o vocalista ainda admite: “eu costumava ouvir essa música nos meus fones de ouvido, sentado na traseira do carro dos meus pais. Tipo, imaginando na minha mente estar na banda. Eu estava lá na banda, tocando guitarra, fazendo algumas harmonias. Sonhando em como seria fazer parte daquilo”.

Em seguida, “Pattern Against User”, da agitada e pioneira At The Drive-In, tornou mágica a noite dos fãs de post-hardcore, ainda que Green apresentasse certa dificuldade vocal no começo.

“Nós podemos tocar nossas músicas agora?”

Com a indagação lançada, o quinteto retornou às autorais ao som de suas faixas mais recentes, como “The Silver String”, que abre o último disco deles, o single “I Can Tell There Was An Accident Here Earlier” e “Racing Towards A Red Light”.

E a noite chegou ao auge do caos em “Seven Years”, com participação especial do primeiro baixista Zach Kennedy, e na impressionante “Translating The Name”, que contou um dueto vocal entre Donovan Melero, membro do Hail The Sun, e Anthony Green.

O vocalista principal deu sequência abrindo seu coração ao falar sobre os erros do passado e como a banda definitivamente mudou o rumo de sua vida em um de seus períodos mais conturbados. Além de destacar não apenas a importância da música, como principalmente das relações e amizades que criou com os anos de estrada.

Depois, a banda ainda tocou “Lost Symphonies” e fechou com uma versão extendida de “They Perched on Their Stilts, Pointing And Daring Me To Break Custom” e mesclou um breakdown com passagens de riff de “Enter Sandman”.

20 anos de Saosin

O álbum ao vivo é uma verdadeira aula de como se fazer uma apresentação, colocando a banda à prova de fogo em momentos nostálgicos e que celebram não apenas a trajetória do grupo, como também o seu entorno, marcado pela presença de artistas amigos e músicas que serviram de inspiração para a o Saosin ser tão especial do jeito que é.

Setlist:
Cove Reber
It’s Far Better To Learn
Sleepers
Voices
Finding Home
Bury Your Head
Pitiful (Blindside Cover)
Zero (Smashing Pumpkins Cover)
You’re Not Alone
Bury Your Head
Pitiful (Blindside Cover)
Zero (Smashing Pumpkins Cover)
You’re Not Alone
Anthony Green
Seven (Sunny Day Real Estate Cover)
Pattern Against User (At The Drive-In Cover)
The Silver String
I Can Tell There Was An Accident Here Earlier
Racing Towards A Red Light
Seven Years
Translating The Name
3rd Measurements in C
Lost Symphonies
They Perched on Their Stilts, Pointing And Daring Me To Break Custom