Atualizado em: março 19, 2025 às 4:31 pm

Por Arthur Coelho

Com diferentes tambores ressoando, um riff pegajoso, um baixo marcante e uma voz quase rouca, o Superheaven se apresentou para o mundo no dia 5 de abril de 2013 com a faixa “Sponge”, hit de abertura do seu primeiro disco, “Jar”.

A banda já havia debutado anos antes com o nome Daylight e um som de hardcore. Depois de anos em ativa, porém, o grupo foi obrigado a trocar de nome por causa de problemas com direitos autorais. Aproveitando as mudanças, o quarteto passaria a fazer um som de rock alternativo bastante inspirado pelas bandas mais pesadas do grunge e renasceria como Superheaven.

“Jar” foi gravado por Taylor Madison (guitarra e vocal principal), Jake Clarke (guitarra e vocais), Joke Kane (baixo) e Zack Robbins (bateria e vocais secundários), sendo produzido e mixado por Will Yip (Panic! At the Disco, Circa Survive, Title Fight, Movements) e sendo distribuído pela Run For Cover Records.

Suas composições contam com elementos marcantes que se juntam a letras sentimentais e ao mesmo tempo raivosas escritas em conjunto pelo quarteto de membros que compõem o grupo de Doylestown, cidade no estado da Pensilvânia.

A própria “Sponge” abre com os versos “I left my head at home/ Buried in the backyard with the dog (Eu deixei minha cabeça em casa/ enterrada no jardim com o cachorro) que se desenrolam em um conto de fragilidade humana tomadas por um rock pesado (“I tried so hard to be the rock, But all i felt lt like was a wet sponge/ Eu tentei ao máximo ser uma rocha, mas tudo que eu me senti foi uma esponja molhada”).

Logo em seguida, a temática muda para culpa e carência (“These last few months I felt a lack of Love/ Esses últimos meses eu senti falta de amor”), dando vez à faixa Life in a Jar com uma épica abertura de bateria que dá início a um pesadíssimo riff. Seus versos são construídos sem um refrão fixo e repetido, acompanhando os acordes de explosão da música com mais e mais desabafos até uma pausa que volta com um instrumental rápido e frenético que deságua nos versos finais: ”I wish you knew I cared/ It hurts to say your name (Eu gostaria que você soubesse que eu me importava/ Dói dizer o seu nome)”.

“Outside Of Me já inicia com outro riff intenso e uma busca por redenção: “I’m sorry, I can’t be that right now/ Forgive me, I just wanted to feel free/ Sometimes I feel I might have made your life a mess (Me desculpe, eu não posso ser aquilo agora/Me perdoe, eu apenas queria me sentir livre/ Às vezes eu sinto que eu posso ter feito uma bagunça na sua vida)”. Algo que é complementado pelo vocal mais melódico e os belos versos de “Sheltered”: “It hurts me to know how small I really am (dói em mim saber o quão pequeno eu realmente sou)” e “Build my own fort in the trees to keep to myself (Construí o meu próprio forte nas árvores para me proteger)”.

Um dos grandes sucessos do disco é “Crawl”, uma faixa épica que combina a velocidade dos tempos de hardcore da banda com uma letra raivosa contra um romance egoísta: “You only care about yourself/ Have you ever thought about how I feel?/ So used and worn down (Você apenas se importa consigo mesma/ você já pensou sobre como eu me sinto?/ Tão usado e desgastado)”.

“Last October” continua no exato mesmo embalo, trazendo um frenesi contagiante que contorna o sentimentalismo anterior para algo contra si mesmo em uma letra que trata de decepções pessoais (“I’m tired of losing against me/ Eu estou cansado de perder para mim”) e desabafos que preferem se expressar através de um solo de guitarra distorcida.

O maior sucesso da carreira da banda e uma das grandes razões da popularidade de seu debute é “Youngest Daughter”, onde o quarteto cai de vez na introspecção combinada com vocais mais limpos. Sua letra interpreta a visão de uma mãe que vê a filha mais nova num estado de vício de heroína: “Breathe until your lungs fail/ You can sing till you go deaf/ Everyday that you don’t call her/ I can feel it, you’re coming down (Respire até o seu pulmão falhar/ Você pode cantar até você ficar surda/ Todo dia que você não a chama/ Eu consigo sentir, você está descendo”. Sua melodia é completamente mágica e associa as influências grunges do grupo com uma pegada do shoegaze, participando de uma tradição de bandas que misturam o gênero musical com um rock mais pesado.

“Knew” acaba com esse clima ao retomar o som tocado pelo Daylight em grande estilo, mostrando definitivamente que o lado punk rock do grupo não estaria perdido, e sim combinado com novas influências alternativas, como comprovado em “No One’s Deserving”, a mais pegajosa do disco.

Agora, se você quer se acabar de tanto chorar com uma canção profunda e tocante, o nome certo é “Hole In The Ground”, uma faixa sobre luto e saudades de alguém que já se foi fisicamente ou metaforicamente:” Follow me down, down into a hole in the ground/ I dug it just for you, exactly how you wanted me to/ I’m calling to see how things are there/ I want you to know how much I care/ I fear I come home to see your grave (Siga-me para baixo, para dentro de um buraco no chão/ Eu cavei isso apenas para você, exatamente como você queria/ Eu estou chamando para ver como as coisas estão/ Eu quero que você saiba o quanto eu me importo/ Eu temo voltar para casa e ver o seu túmulo)”

Essa tristeza aparente volta a se misturar com belos riffs em outro grande sucesso: “In On It”, que chega a mostrar um lado bastante criativo com o jogo de palavras no refrão, até enfim terminar na última faixa do disco “Around The Railling”. A música parece ser uma sequência lírica de Youngest Daughter, falando sobre culpa, ressentimento e arrependimento:

“I dream of a place where you stayed a child/ I wake up believing it’s real/ Dear sister, I wanted to save your life/ You’re just as afraid (Eu sonho com um lugar onde você ainda é criança/ Eu acordei acreditando que era real/ Querida irmã, eu queria salvar sua vida/ Você está apenas com medo)”.

Se já não havia ficado claro antes, “Around The Railling” deixou ainda mais óbvio o tema lírico e visual (capa do álbum) presente em “Jar”, um disco sentimental que te toca diretamente no coração, seja pelas letras ou pelo som comovente, arriscado em riffs marcantes, uma voz carismática derivada do vocal punk, um baixo de peso e uma bateria que arrasta pratos por onde passa.