Atualizado em: outubro 28, 2025 às 9:32 am

Por Guilherme Costa

O Zagüaraz — cujo nome vem de uma gíria de Chapecó, Santa Catarina — chamou a atenção por ser formado por dois ex-integrantes da Disaster Cities (que, enquanto ativo, chamou a atenção do público brasileiro): Rafael Panegalli (vocal e guitarra) e Daniel Araújo (bateria). Entre as influências da dupla para este novo projeto, estão bandas como Royal Blood, Death From Above e Turbowolf.

Após o lançamento de três (viscerais) singles, “Panorama”, “Formata Minha Memória” e “Eu & Vc”, o duo lançou o seu EP de estreia “Talentos Inúteis”, na última quinta-feira (23), via Forever Vacation Records.

“’Talentos Inúteis’ fala sobre o incômodo de existir dentro de estruturas que esvaziam o sentido das coisas, é um disco cheio de sinceridade, com muito da vivência da dupla e uma carga emocional intensa, quase como uma forma de colocar pra fora tudo o que estava guardado nos últimos anos. Ao mesmo tempo, é um retrato de uma geração cansada, mas que insiste em seguir tentando viver da melhor forma possível.” Declarou o Zagüaraz em suas redes sociais.

Tal declaração não gerou nenhuma surpresa para quem já havia ouvido os singles promocionais do EP, uma vez que o conteúdo lírico é bastante explícito. “Panorama”, por exemplo, aborda a distinta vida cotidiana das pessoas a medida em que o seu tempo para atividades físicas (saúde), profissionais e de lazer não pode ser comparadas com o meu, devido a vários fatores socioeconômicos que regem a minha vida: “Meu sangue é igual ao seu/ Meu tempo não é igual ao seu/ Deve haver um lugar em que eu vá entender”.

“Panorama”, aliás, foi o primeiro lançamento da banda e a responsável por apresentar a proposta do Zagüaraz  para o mundo. E, de fato, ela consegue sintetizar a alma do EP, se dividindo entre um groove descomunal da bateria do Daniel e riffs secos, groovados e pesados do Rafael. O groove também guia a faixa “Eu & Vc”, em outra batalha entre bateria e guitarra, enquanto Rafael grita contra “a solidão, exploração, vício digital e o caos cotidiano”.

Das três faixas que foram apresentadas após o lançamento do EP — exceto se você, como eu, foi em algum dos shows da banda —, “Flores na Antártida”, “Problemas Brancos” e “Talentos Inúteis”, revela um lado menos acelerado, apesar das letras seguiram bastante ácidas e críticas. Enquanto “Flores na Antártida” inicia com um riff sincopado, aumentando o ritmo apenas no refrão, “Problemas Brancos” é mais taciturna — com uma bateria mais reta —, embora também aumenta o tom em sua parte final (além de contar com um bom solo de guitarra).

“Talentos Inúteis”, a música, conta com o groove e, como a letra sugere, aborda a imensa quantidade de informações vazias que são disponibilizadas diariamente (seja em veículos de mídia ou em redes sociais): “CEOs de si mesmo, empreendedores de nada/ Realidade sinistra, soluções limitadas/ Entretenimento e talentos inúteis/ Minha lista gigante de afazeres fúteis”.

“Talentos Inúteis”, o EP, é um grande cartão de visitas de duas pessoas que voltaram a se reunir para transformar as suas raivas e frustrações em arte. Embora a Disaster Cities esteja na história de Rafael e Daniel, o Zagüaraz marca o início de uma nova fase que, quem tiver contato com o seu trabalho, certamente terá aquela sensação de descobrir uma banda foda!

https://open.spotify.com/intl-pt/album/2lmzl6aNc8NBWlfmoyWzof