Atualizado em: junho 23, 2025 às 8:14 am

Por Guilherme Costa

Em pouco mais de um ano, o 43duo lançou o sucessor do disco “Se7e Sonhos” — liberado em abril do ano passado e que esteve entre Os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música — no último dia 12. Intitulado “Sã Verdade”, o álbum segue com a parceria com o produtor Felipe Scalone (Cyanish), que assinou a produção do disco lançado no ano passado, e também segue sendo conduzido pelas temáticas que abordam temas sobre a relação do homem com a natureza, colapso ambiental, consumo, solidão e etc.

O que mudou — um pouco — foi a abordagem sonora. Formado em Paranavaí, Paraná, o contato com a natureza de Hugo Ubaldo (vocal e guitarra) e Luana Santana (bateria, vocal e synths) é algo inerente à existência da dupla, sendo percebido nos dois álbuns anteriores. Porém o experimentalismo que permeou as diversas camadas etéreas de sintetizadores em “Se7e Sonhos” deu lugar a uma sonoridade mais crua e mais ao vivo.

“Após o lançamento do “Se7e Sonhos”, que é um trabalho que adoramos, sentimos a necessidade de deixar as coisas o mais orgânicas possíveis. Nas primeiras reuniões de produção já comentamos isso para o Felipe”. Comentou a banda em entrevista para o site no ano passado, que completou: “esse álbum vem com o intuito de ser um retrato orgânico e com a cara do que as pessoas ouvem ao vivo”.

Quem acompanhou a dupla nos recentes shows que antecederam o lançamento do seu terceiro disco, teve uma ótima prévia do que estava por vir!

Sã Verdade

Mesmo que o “Se7e Sonhos” tenha se notabilizado pelo excesso de camadas eletrônicas, não dá para dizer que Hugo e Luana se afastaram da psicodelia do disco de estreia, “As Pessoas & As Cidades”; faixas como “Cogu” e “Me7ade” mostraram que o DNA do Rock Psicodélico e do Soft Rock seguiu ali, não sendo o caso de uma ruptura completa em sua sonoridade (como promete ser o próximo disco do Marrakesh, por exemplo).

Em “Sã Verdade”, portanto, essa dinâmica entre experimentar dentro dos limites da sua identidade (o que para o 43duo é um limite muito extenso) é um outro elemento que conecta os três álbuns de estúdio da dupla. Então, se do EP “43” para o disco de estreia a sonoridade do grupo deixou a crueza para navegar nos mares da psicodelia que, para o seu sucessor, saltou para os sintetizadores oníricos, qual seria o grande destaque do terceiro álbum?

O álbum abre com a faixa-título, revelando que o seu grande destaque é as guitarras de Hugo Ubaldo. Mais altas e sempre preenchendo os espaços, ela dá o tom da dinâmica que o disco apresenta, variando entre palhetadas secas e solos virtuosos e cheio de efeitos. Essa é basicamente paisagem que é em encontrada na faixa sequente, “Sal e Sina”, liberada de forma prévia no mês passado; para além das guitarras de Ubaldo, Luana — já acostumada em dividir a bateria e synths — entrega uma bateria que varia entre batidas secas e groovadas. Há um espírito livre e hipnotizante de uma jam nessas duas primeiras faixas, que reverberam a vida livre da natureza.

“As composições refletem a visão de mundo que cremos, e como vivemos. Só adicionamos um pouco de psicodelia e um olhar onírico. Nos sentimos muito bem ‘mandando’ algum tipo de mensagem, é uma coisa que traz sentido para nós mesmos, e nos motiva a seguir a caminhada artística.” comenta Hugo Ubaldo, em material promocional.

Se distanciando um pouco do clima de jam das duas primeiras faixas, “Navio do Sonhos” conta com um clima de AOR, embora a mensagem sugere um personagem que ainda não percebeu que é necessário viver os seus sonhos, ao passo que outros não conseguem ter tal oportunidade (“é tanta mão de tanta gente, sem semente pra lançar”). “Guabiruba pt. II” — além do inerente mistério sobre a sua primeira parte — é a faixa mais minimalista do disco; ela também foi o primeiro single a ser liberada de forma promocional e contém uma crítica velada (mas nem tanto): “casas e salas, varandas, portas quebradas/ todas mazelas que vivem compradas no que foi/ foi vai sem querer, vai sem poder pousar/ faz sem querer faz sem poder voar”.

As três últimas faixas do disco retomam o caminho da sonoridade lisérgica do início do disco. “Cabeça Vasta (Chuva Cinza)”, cujo refrão é daqueles que quebram a linearidade do verso-ponte, é repleta de camadas de sintetizadores, enquanto “Concreto” é guiada por uma bateria simples e reta ao passo que a guitarra está cheia de efeitos — como se o White Stripes, uma das influências para o álbum, entrasse numa onda psicodélica. O álbum se encerra com “Lispector’, uma faixa que sintetiza muito bem o espírito de transportar a sonoridade dos palcos para o estúdio.

No ano passado, quando eu conheci o grupo por acaso e descobri o então o novo disco e o debut, eu comentei que a psicodelia tinha ganhado uma nova roupagem (mais eletrônica). Para “Sã Verdade”, esse espírito seguiu e está mais livre do que nunca; mesmo que o álbum contenha apenas sete músicas e tenha vinte e dois minutos, a sensação é de estarmos num grande show em que os músicos passam um bom tempo se divertindo em improvisos. Bem, isso é Luana e Hugo. Isso é o 43duo!