Atualizado em: novembro 28, 2025 às 7:06 am

Por: Arthur Coelho

Acontece muito comigo de acabar descobrindo bandas e artistas novos ao acaso. Seja através do aleatório do Spotify, recomendações em conversas alheias ou comentários em redes sociais — que foi justamente a forma como conheci bandas às quais me apeguei bastante: Title Fight, Touché Amoré e Postdrome. Esta última, mais especificamente, eu conheci recentemente e me surpreendi pelo som diferente, criativo e carregado de boas influências. Meu desconhecimento logo se transformou em admiração pelo quarteto de Denver, no Colorado (Estados Unidos), que debutou em abril deste ano com um EP.

O primeiro trabalho de Derryk Esquivel (guitarra, vocal), Christian Madigan (bateria, vocal), Maks (guitarra e vocal) e Scott Hill carrega o nome da própria banda — que faz referência à fase final da enxaqueca, algo que Derryk Esquivel sofre cronicamente — e conta com a produção de Corey Coffman, do grupo de shoegaze Gleemer. Composto por quatro faixas, o EP mescla sonoridades do metal com o hardcore e certo tempero atmosférico, incorporando também alguns ganchos do que a banda define como nu-gaze: combinações etéreas com peso instrumental e momentos intensos.

Algumas de suas músicas transmitem uma sensação semelhante à do ótimo grupo Superheaven, cuja sonoridade é difícil de rotular; mas o Postdrome se diferencia por ser mais agressivo, recorrendo a momentos gritados que tocam em algo entre o nu-metal e o som do The Plot In You. O resultado é ainda mais surpreendente por se tratar de um trabalho de estreia. Esse foi, inclusive, um dos motivos pelos quais escolhi o quarteto estadunidense como um dos melhores do ano de 2025. Pela qualidade sonora, produção e criatividade, o que o Postdrome apresenta em seu debut é simplesmente absurdo.

O reconhecimento dessas qualidades também aparece nos números. Com exceção da última faixa, todas as outras ultrapassaram cem mil reproduções no Spotify — lembrando mais uma vez: é apenas o primeiro lançamento deles. O EP abre com “Never Know”, uma música potente, multifacetada e guiada por uma letra introspectiva em um refrão marcante. O baterista entrega um espetáculo à parte, acompanhado por variações de guitarra que exibem um som moderno.

Close my eyes 

As the sunlight 

Takes them

I’m feeling like a ghost again

Whole again?

But I 

Guess we’ll never know

(Fecho meus olhos / Enquanto a luz do sol / Os toma / Estou me sentindo como um fantasma de novo / Inteiro de novo? / Mas eu / Acho que nunca saberemos)

A sequência, “Circles”, começa com tons mais atmosféricos e avança gradualmente para estilos gritados, mantendo seu espírito lírico emo ao refletir sobre a sensação de estar preso em repetição — de andar em círculos sem chegar a lugar algum — temática presente em clássicos do gênero, especialmente na faixa de mesmo nome tocada pelos pioneiros do Sunny Day Real Estate.

Na música mais famosa (até o momento), “So Inviting”, as guitarras de abertura mostram o que é o tal do nu-gaze. A canção coloca a banda no topo do som atmosférico sem abandonar suas influências mais pesadas. De alguma forma, é um som que você reconhece como diferente. Não é exatamente a fusão metal + shoegaze ao estilo Deafheaven (que também é um ótimo grupo), mas algo mais próximo de influências modernas vindas do hardcore e do metalcore com camadas mais abafadas. É um som instigante, principalmente pela curiosidade de como deve soar ao vivo.

Mesmo no encerramento, a intensidade permanece intacta — ouso dizer que talvez até alcance seu auge. “iVsi”, a despedida do EP, é provavelmente a faixa mais pesada instrumentalmente, combinando desesperados gritos com melancólicos e limpos vocais no refrão. Postdrome é um trabalho pesado, marcante e repleto de boas influências. E, acima disso, é um EP que deixa seus ouvintes ansiosos pelos próximos passos do grupo.

O Postdrome está entre os Melhores do Ano do Um Outro Lado da Música!