Atualizado em: março 27, 2025 às 10:50 am
Por Guilherme Costa
No último dia 21 (sexta-feira) saiu o quarto disco do Japanese Breakfast, projeto da norte-americana Michelle Zauner, “For Melancholy Brunettes (& sad women)”, via Dead Oceans. O sucessor do aclamado “Jubilee” foi marcado por uma época sabática de Zauner, no qual a musicista decidiu se recolher dos holofotes para imergir nas suas origens sul-coreanas; o quarto álbum também foi o primeiro a ser gravado num estúdio profissional (Sound City Studios), sob a produção de Blake Mills (Fiona Apple, Bob Dylan).
Quando o grupo liberou a prévia “Mega Circuit”, Zauner comentou que compôs a música na intenção de criar um disco “mais assustador e guiado pela guitarra”. E é interessante o tipo de interpretação do que podíamos ter – àquela altura – sobre tal declaração: haveria algum tipo de ruptura em sua sonoridade? Bom, não houve. De toda forma, a tradução para violão é guitarra, e nesse sentido ela cumpriu com a promessa inicial do álbum.
Se o começo de “For Melancholy Brunettes (& sad women)” é algo mais etéreo e com um conjunto de cordas que nos remete a paisagens nipônicas (“Here Is Someone”) e grandes experimentos aliando o pop e orquestra (“Orlando Love” – faixa do qual o nome do álbum foi retirado), é a partir de “Honey Water” que podemos pensar sobre um disco “guiado pela guitarra” e distante dos sintetizadores do “Jubilee”.
O tipo agridoce de arranjos se refletiu nas letras, inspiradas (de certa forma) pelo ritmo frenético após o sucesso do disco de 2021, em que ela destacou em entrevista para o portal Stereogum:
“O disco começa com ‘Here Is Someone’, que é uma música que é sobre eu pedir permissão à banda para tirar um tempo de folga, e a trepidação que eu tinha de imaginar como seria minha vida se essa parte dela chegasse ao fim. E comecei a pensar sobre outras pessoas na minha vida que se encontravam em situações em que talvez quisessem demais, ou perturbassem algum tipo de equilíbrio em suas vidas e então estavam lidando com as consequências disso. E então havia algumas músicas e momentos fictícios no disco em que eu acho que são todos sobre esse tipo de desejo insaciável que os leva a algum lugar… problemático”
Nesses temas sobre comportamentos erráticos, está a história de um homem que não consegue parar de trair a sua esposa (“Honey Water”) e sobre a – cada vez mais comum – adesão de jovens homens sendo atraídos pelas ideias da extrema direita (“Mega Circuit”), em que ela inicia cantando: “Correndo em volta do mega circuito/ Tirando lama dos quadriciclos/ Planejando sangue com seus eunucos incel/ Eu poderia ser o lar que você precisa”.
Zauner ainda comentou que a intenção mais agressiva foi moldada para algo mais melancólico e romântico. Dentro deste espectro, a sonoridade do álbum utilizou do Folk (“Little Girl” e “Leda”) e do Country (“Picture Window”) para seguir abordando temas fictícios sobre relacionamento e relações humanas. O álbum ainda conta com a participação de Jeff Bridges, na faixa “Men In Bars”.
Após dois discos caminhando entre o Dream Pop e o Indie Rock, e o sucesso retumbante do dançante “Jubilee”, o Japanese Breakfast (ou Michelle Zauner, como quiser) decidiu diminuir o ritmo tanto pessoal quanto musicalmente. E, para além das histórias agridoces do álbum, “For Melancholy Brunettes (& sad women)” é sobre essa pausa na grande queda que é as nuances do sucesso.