Atualizado em: setembro 27, 2025 às 10:33 pm

Por Guilherme Costa

Para quem não era muito atento aos artistas da nova geração da MPB, a banda Bala Desejo poderia ser apenas um grupo que lançou um (grande) disco de estreia no ano de 2022. Mas o quarteto, formado por Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra, na verdade, foi a reunião de quatro músicos que já haviam dado os seus primeiros passos solos que, após o seu término, voltou a ser o foco de três dos quatro integrantes.

Assim como a Dora Morelenbaum, que lançou o disco “Pique” em 2024, e Zé Ibarra, que lançou o disco “Afim” neste ano, a Julia Mestre também não demorou muito para dar andamento na sua carreira solo. O disco “Maravilhosamente Bem”, saiu no dia 8 de maio, de forma independente, aperfeiçoando o flerte com o pop oitentista (da Rita Lee, Marina Lima e etc) iniciado no seu antecessor “Arrepiada”.

Ao lado dos instrumentistas Gabriel Quinto (guitarra e violão), Gabriel Quirino (sintetizadores) e João Moreira (baixo), que também assinaram a produção ao lado da Julia, “Maravilhosamente Bem” pode ser usado de exemplo de um bom disco que evoca a nostalgia de uma época dourada, sem soar como algo enfadonho. Aliás, o álbum inicia a todo vapor com a dobradinha “Maravilhosamente Bem”: um enérgico pop, com um baixo bem dinâmico, que mal deixa o ouvinte respirar — e talvez seja essa a intenção, quando a cantora deixa claro “Num doce delírio/ Embarque no brilho/ Que tenho pra dar pra você/ Alerta um perigo/ Estou por um fio/ Melhor do que se arrepender”  — e “Sou Fera”.

Após seguir os passos das trilhas sonoras de sucessos globais, o disco diminuiu o ritmo e caminha por uma camada de mistérios e luxúria na música “Vampira”, faixa cantada em espanhol (mais uma vez) tendo o baixo como o seu grande “guia oculto”, explodindo numa bela e intensa linha de cordas.

(“Amores que viven bellos sentimientos/ Que nunca se olvidan/ Ternura de tiempos, de gratos/ Momentos que alegran la vida/ Por eso te quiero, por eso te amo/ Vampira querida/ Envuelve mi mente, mi sangre/ Mi cuerpo con sabiduría/ Chupa y chupa, vampiresa”)

É por essa e outras, a saber, “Veneno da Serpente” — um House Disco, por assim dizer — e as latinas “Canto da Sereia” e “Sentimento Blues”, que o álbum consegue se mover da roupagem da década de oitenta para um trabalho pop rico e plural.

Mas a grande faceta de “Maravilhosamente Bem” é a década das cores exageradas. E não tinha ninguém melhor do que a Marina Lima, um dos grandes nomes da época no país, para se juntar essa ode ao romantismo; ela canta na faixa “Marinou, Limou”, um poderoso boogie que faz jus ao disco, a carreira da Marina, ao baixista João Moreira e a música popular brasileira.

Há uma linha tênue entre ser canastrão e apenas emular uma década nostálgica (como eu “acusei” o disco solo do vocalista do Lord of The Lost, Chis Harms, de soar) e conseguir balancear a relação entre as suas influências e sua identidade. E em seu terceiro disco, Julia Mestre mostra a sua melhor versão soando maravilhosamente bem!