Atualizado em: fevereiro 10, 2025 às 10:20 am
Por Guilherme Costa
Mudança é um tema que sempre foi acompanhado por questões existenciais, sobretudo quando são ligados à fase de nossas vidas. Se deparar com a melancólica sensação de tempo perdido ou de estar novo ou velho demais para dar um próximo passo é tão comum quanto respirar. Mas no fim das contas, sempre há como tirar proveito da sua pequena importância diante do tamanho do mundo e dar um chute na bunda de quem te diz o que você deve fazer.
E dentro dessas mudanças que não seguem um padrão clássico, está a norte-americana Sharon Van Etten. Prestes a completar 44 anos de idade, a musicista deu um passo pouco usual entre os músicos: deixar a carreira solo (de quinze anos) de lado para trabalhar como uma banda que, no caso, é o The Attachment Theory.
“A primeira vez que escrevi canções do zero como banda, entrando numa sala com nada além de um grupo incrível de músicos e saindo com algo tão especial. Foi um grande desafio e uma experiência de mudança de vida para mim.” Declarou a cantora.
Lançado na última sexta-feira (7) o autointitulado disco de estreia saiu via Jagjaguwar, marcou então o primeiro fruto do processo de composição em conjunto com Jorge Balbi (bateria), Devra Hoff (baixo) e Teeny Lieberson (sintetizadores), rendendo um trabalho bastante distinto do Folk dos primeiros discos de Van Etten. Embora muito do rock gótico do Siouxsie and The Banshees é relacionado ao álbum, a estreia tem um quê do Synthpop do Pet Shop Boys e Röyksopp nas duas primeiras músicas (e nas duas últimas, também): “Live Forever”, “Afterlife”, com os sintetizadores sendo o guia para a doce voz de Sharon Van Etten.
A partir de “Idiot Box”, outra música criticando o uso excessivo de um celular, é que os sintetizadores dividem o protagonismo com o baixo sisudo do Pós Punk/ Rock Gótico. Aqui, Van Etten também explora um lado mais sombrio da sua voz, bem como na sequência com as ótimas “Trouble” e a crua e enérgica “Indio”. Nesta linha, também não tem como citar a faixa “I Can’t Imagine (Why You Feel This Way)” – uma roupagem moderna do Talking Heads e Blondie – e “Southern Life (What It Must Be Like)”, um dos singles promocionais do álbum.
Dividido entre duas partes, eletrônica e gótica, Sharon Van Etten & The Attachment Theory é um disco que provavelmente seria recebido com muito entusiasmo pela crítica e pelo público. Por ser um projeto que marca uma nova fase de uma musicista já consagrada, o entusiasmo se mantém (porque o debut é muito bom) e é somado ao espírito de liberdade de quem está disposto a seguir os seus próprios ideais.